Literatos: Dias Perfeitos

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Sabe aquelas placas onde se lê a frase “perigo”, costumeiramente colocada em aparelhos elétricos de alta tensão? Deveria existir uma dessas na capa do espetacular Dias Perfeitos, do Raphael Montes: um aviso honesto para os desavisados que venham a se aventurar pelas páginas do romance policial. É preciso cuidado, pois o livro te fará ficar remoendo as cenas por muitos dias, perplexo, sem acreditar no que acabou de ler. Cada capítulo é uma verdadeira “porrada no estômago” de tão impactantes que são enredo, diálogos e descrições. Bom, sem mais delongas vamos ao que interessa; Dias Perfeitos  é o segundo romance do jovem carioca Raphael Montes. O surgimento de Raphael no mundo literário foi impactante. Seu primeiro romance, o também  aclamado Suicidas, foi finalista de três concursos literários de respeito, dentre eles o prêmio literário Saraiva/Benvirá, além de fazer parte da série negra da Saraiva. (aliás o Iluminerds tem a resenha de Suicidas, para quem tiver curiosidade) Mas como dizem que uma banda não pode viver de um álbum só, Raphael resolveu brindar os leitores com outro livro sensacional.

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Numa narração em terceira pessoa, conhecemos o protagonista Téo. Estudante de Medicina, morador do Rio de Janeiro, classe média. Téo tinha tudo para ser o típico jovem brasileiro, tão comum por aí, porém logo nas primeiras páginas vemos que Téo é um pouquinho diferente. Téo mora junto com a mãe paraplégica. Sua única amiga é Gertrudes, o cadáver das aulas de anatomia da faculdade. Téo não tem amigos, não tem namorada, não possui relações sociais normais, o que vai deixando o leitor impressionado. Como alguém pode ser assim, nos perguntamos. O ponto de virada acontece quando ele vai a uma festa (algo de que também não gosta) e conhece Clarice, uma garota descolada, desinibida, independente, cheia de sonhos e vontades, estudante de artes. Clarice está escrevendo um livro, um Road Movie que narra a história de três amigas viajando pelo Rio de Janeiro. A partir desse instante Téo se apaixona (?) por Clarice, e decide que quer passar o resto da vida junto a ela. Usando  métodos bizarros para conquistar o coração da garota, Téo arrasta Clarice numa viagem pelo Rio, cheia de eventos marcantes, situações imprevisíveis e cenas de deixar os leitores com as emoções à flor da pele, culminando num final inesperado. Tudo isso em pouquíssimas 274 páginas.

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O ponto de vista de Téo é o que há de melhor no livro. A maioria dos livros narrados em terceira pessoa mostra diversos pontos de vista ao longo da história, alternando momentos de baixa e alta tensão, o que permite ao leitor respirar e descansar. Em Dias Perfeitos isso não acontece. Raphael Montes, de forma impiedosa, nos conduz pela mente de Téo. Compartilhamos seus pensamentos maníacos e obsessivos, sua lógica fria e calculista, as justificativas bem formuladas. Não há como escapar, somos arrastados durante toda a trama por este mundo sombrio, e a única maneira de sair vivo é terminando o livro. Ao contrário de muita gente, torci por Téo durante todo o livro, o que me deixou assustado. Ele me lembrou o personagem Dexter, da série homônima, e de como ficamos torcendo por ele durante os episódios. Li várias resenhas reclamando do fato de não acompanharmos os pensamentos de Clarice, que também pode ser considerada uma protagonista. Acredito que essa foi uma estratégia de Raphael, no intuito de deixar o personagem marcado em nossas mentes. O final está longe de ser clichê, o que me deixou contente, mas também lí críticas divergentes quanto a ele; cabe a cada um decidir. Alguns eventos que a rigor eram possíveis de acontecer acabaram parecendo forçados quando ocorriam em conjunto, outro motivo de algumas reclamações sobre a obra, mas nada que atrapalhe minha avaliação positiva.

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De forma resumida digo que o trabalho do Raphael Montes é primoroso: a escrita é fluída, os diálogos interessantes, a capa minimalista e em poucos dias ou horas o livro é devorado. Dias Perfeitos  foi o passo importante na carreira de Raphael Montes. O livro que será adaptado aos cinemas, assim como Suicidas já ganhou o mundo, recebendo boas avaliações da crítica internacional (aliás, na capa, vemos uma nota chamativa do grande escritor policial Scott Turow, rasgando elogios ao autor). Raphael prometeu que o final do filme será diferente do livro, é aguardar para ver. É inegável que obra e autor deram um novo fôlego à literatura contemporânea e à policial nacional, gênero que andava praticamente esquecido pelos autores brasileiros. Agora resta esperar, pois novas obras de Raphael Montes estão a caminho.

PS1 – No final de Dias Perfeitos há uma referência ao livro Suicidas. Será que fui um dos poucos a perceber? 🙂

PS2 – Essa é a primeira vez que escrevo para o blog Iluminerds. Agradeço ao Vitor Scaramella pela indicação.

PS3 一 É melhor do que o X-Box.

PS4 一 Nunca vi nem joguei, só ouço falar.

Thiago Martins: Estudante de engenharia, Nerd não praticante, fã de desenhos antigos, ex-orkuteiro. Como um bom viciado em livros, está escrevendo seu primeiro romance, um thriller psicológico que espera terminar antes do apocalipse zumbi. Alterna seu tempo entre aulas sobre energia, séries norte-americanas, torcer pelo Spurs na Nba e ler em todos os cantos possíveis.

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Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

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