La Casa de Papel – assistir ou não?

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Logo que as pessoas começaram a comentar loucamente sobre a série da Netflix, eu resolvi assistí-la. Tive a oportunidade de maratoná-la e a trama me manteve presa do início ao fim.

No entanto, acredito que seja preciso assistí-la sem grandes pretensões, como fazemos com aqueles filmes da Sessão da Tarde que assistimos repetidas vezes, só para não ter que fazer nenhum esforço mental. Isso porque ela tem mesmo tantos furos, que podem torná-la até risível em alguns aspectos.

Tudo começa quando um grupo de bandidos com especialidades diferentes é contratado por um homem que chamamos de “O professor”. Ele é o arquiteto por trás do que seria o maior assalto do século, por isso, cada ação deve ser milimetricamente calculada. Assim, antes de invadirem a Casa da Moeda da Espanha, ele passam 5 meses se preparando para o grande dia.

Já dentro da Casa da Moeda, eles irão passar muitos dias com 67 reféns e cercados pela força-tarefa do exército e da polícia, sob a coordenação da investigadora Raquel e seu assistente Angel. A tensão entre Raquel e os outros investigadores e funcionários é enorme e por várias vezes ela parece que não vai dar conta de estar à frente de tudo. Mas, assim como todos os personagens, ela é tão estereotipada, que chega a ser caricata. Mesma coisa o Angel, eita cara chato! O típico homem babão que não aceita que a Raquel não quer nada com ele e passa o tempo todo fazendo merda e comprometendo o andamento das investigações.

https://www.youtube.com/watch?v=ANNk3E0YGRU

No entanto, apesar dos problemas, a cada episódio descobrimos mais sobre cada bandido e sobre alguns dos reféns, para que se possa justificar que um assalto dure tantos dias. Ele precisa durar! Então, toda vez que a polícia aperta o cerco ou descobre algo, os bandidos demonstram estar à frente deles ao tentar seguir o plano, o que remete a uma partida de xadrez. Ou seja, você fica instigado a descobrir como os assaltantes irão se safar e, de certa forma, começa a torcer por eles. Apesar de situações totalmente inverossímeis, é impossível não ficar curioso com o próximo passo dos personagens, que se metem em roubadas que lembram as histórias do desenho do Scoby Doo.

Mas a Claudia Croitor, colunista do G1, fez uma divertida análise da série:

É serio, não consigo me decidir se “La Casa de Papel” é muito ruim ou muito boa.

  1. depois de muita recomendação de muita gente, resolvi assistir a “La Casa de Papel”, a série espanhola da Netflix sobre um grupo que assalta a Casa da Moeda em Madri.
  2. vi o primeiro episódio, e, embora claramente “inspirada” em vários filmes de assalto que já vimos na vida (pouca coisa ali é original, tipo eles assaltarem com uma máscara do Dali, fazerem os reféns todos usarem a mesma roupa e máscaras pra confundir a polícia etc), a série começa ótima e fica bem difícil não ver o segundo. E depois o terceiro. Viciante.
  3. o roteiro parece trabalho de conclusão de um curso de roteiro: é muito corretinho, todo episódio termina com um gancho, toda ação tem uma reação, temos o protagonista e o antagonista num joguinho de xadrez, está para acontecer alguma coisa e aí tem um obstáculo e aí o personagem tem que vencer o obstáculo e a gente fica aflita e tal.
  4. à primeira vista, os personagens são ótimos. A gente torce pelos bandidos, eles são legais. Quando não estava vendo eu pensava neles e falava “preciso ver o próximo ‘Casa de Papel’
  5. eles falam em espanhol (obviamente) e é tão legal ver série em espanhol.
  6. mas aí lá pelo quinto episódio a história começa a encher um pouco. Porque o assalto, que também é um sequestro, com 67 reféns, é bem demorado e as pessoas começam a fazer umas merdas
  7. lá pelo sexto episódio (veja, eu demorei, eu estava realmente curtindo) você começa a perceber que a maioria dos personagens é bem fraca. E alguns não fazem muito sentido; logo depois você se dá conta de que tem uns personagens que são absolutamente ridículos, tipo a inspetora Raquel
  8. aí você percebe que boa parte das histórias da série é absolutamente ridícula
  9. mesmo assim, estranhamente, não consigo parar de assistir. Diminuí o ritmo, largo uns pela metade para ver depois, mas sempre acabo voltando, embora com o pensamento “por que diabos eu perco tempo com essa série?”
  10. bem possível eu querer ver a próxima temporada.
  11. E agora alguns comentários *para quem já viu a série*, pois contêm spoilers:

    • Gente, sério. O que é aquela negociadora. Os caras quiseram fazer uma personagem complexa e cheia de camadas e tal (tipo ela tem um cargo de muita responsabilidade E tem um piercing no nariz), mas ela é muito ruim. No meio da maior crise da história da Espanha, na qual ela tem o papel mais fundamental de todos, ela resolve dar uma chance a si mesma para ser feliz e vai flertar?? (vou nem comentar a relação dela com o professor porque senão não acabaríamos este post nunca mais).
    • Ela se separou do marido que também é da polícia e batia nela (mas ninguém acredita nela) e a trocou pela irmã; e, no meio da maior crise da história da Espanha, o marido, que também é policial e sabe da importância do trabalho da ex-mulher, resolve que quer a guarda da filha? E no meio da maior crise da história da Espanha ela deixa a filha dela com a mãe que tem um princípio de Alzheimer?
    • Adoro que tá todo mundo trabalhando lá na tenda mas aí ela toma alguma decisão importante e aí grita “ao trabalho! todos trabalhando!”, como se todo mundo estivesse lá jogando baralho. Vou nem falar daquele careca do serviço secreto cuja única função é atrapalhar as negociações e fazer a inspectora Murillo provar que, mesmo sendo uma mulher em sua posição, consegue ser firme.
    • E aí tem o Angel (adoro o ánrel, pior personagem) que no meio da maior crise da história da Espanha na qual ele tem um papel muito fundamental (e que a essa altura dura uns dois dias, só, não são meses) ele resolve se embebedar e se declarar para a inspectora Raquel e ter uma DR por telefone. Come on. E aí depois ele é humilhado mais uma vez pelo professor e em vez de ir atrás do cara e tentar achá-lo ele faz o quê? Se embebeda e dirige.
    • E o professor parece supermega fod*, mas ele tem mesmo que levar o Angel até o lugar supersecreto de onde ele comanda o assalto só para mostrar como ele é supermega fod* e pensou em tudo inclusive em ter uma produtora fake de sidra? Ah parem.
    • O professor, aliás, pensa em tudo, é brilhante, escolheu a dedo cada um da quadrilha. Só se esquece ou deixa de notar que o Berlim é completamente psicopata e não tem condição psicológica de comandar a galera num assalto que não pode deixar vítimas.
    • Gente, e aí o director de la cassa de la moneda tem uma amante, sua secretária, que bem no dia do sequestro avisa para ele que está grávida e ouve de volta que ela está querendo dar o golpe da barriga. E aí ela pede remédio abortivo para os sequestradores (isso com tipo 20 horas de assalto) porque né, ela brigou com o cara e não dá para esperar mais e ela quer esfregar na cara dele na frente de todos ali que não terá o filho (e depois se arrepende, claro).
    • E aí o ladrão fofinho (eu gosto do Denver, mas a função dele na trama é ser o ladrão fofinho) não quer atirar nela pra matar mas atira na coxa dela (onde passa uma artéria bem importante e um tiro lá pode matar, e eles tiveram aula de anatomia) só para sair um sangue e fingir que ela está morta. Custava dar um tiro no braço, de raspão? Na batata da perna? Ok, é detalhe.
    • Adoro que tem la hija del embaixador também conhecida como la salvo conducto.
    • Fora que tem uns personagens ótimos que eles estragam. Tipo a Nairóbi, pra que ela tem que ficar gritando no megafone “estamos fazendo muito dinheiro, uhu”??

Mas, sério, tem muita coisa boa na série, os primeiros episódios, como falei, são ótimos. Só que aí os caras fazem umas coisas tipo aquela cena ridícula do ferro velho ou, pior que tudo, a cena do professor entrando no carro de polícia e já mandando mensagem no canal certo que sai bem na sala da inspectora beeem na hora em que o cara do ferro velho termina de fazer o retrato falado dele, beeeem na hora em que o retratista levanta da cadeira para fazer um xixi, e aí o cara consegue desfazer todo o trabalho (que o outro, claro, esqueceu de salvar, mesmo sendo o retrato falado do possível bandido mais relevante da Espanha). Não dá. Não dá

 

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

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