Jô Soares, Silvio Santos e o Troféu Imprensa: Um reencontro para a história da TV brasileira

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O Troféu Imprensa é o Oscar tupiniquim. Celebra a TV, o cinema das casas brasileiras, e é essencialmente um programa de domingo. Com jurados que votam e comentam suas escolhas, e, especialmente um Silvio Santos no comando, o que cada vez mais significa irreverência e espontaneidade.

E, assim como o Oscar, possui tantos apreciadores de sua importância quanto críticos ao seu formato convencional. Só que o Troféu Imprensa reserva tempo para os premiados, com espaço para falar dos programas e das próprias carreiras dos profissionais de TV. E isso representa uma verdadeira aula de televisão brasileira.

Independente do que digam, sempre é possível pescar momentos relevantes em tais programas, e por vezes, históricos, como no Troféu Imprensa 2017.

A presença de Carlos Alberto de Nóbrega para receber um prêmio foi um desses momentos relevantes. Com os olhos marejados, o titular de A Praça É Nossa disparou para Silvio Santos que sua neta em breve estreará na Praça, que assim se torna o único programa no mundo com a participação de quatro gerações da mesma família. O próprio Carlos Alberto, seu filho, Marcelo, sua neta, filha de Marcelo, e Manoel de Nóbrega, seu pai, o homem que primeiro sentou no banco.

O momento histórico ficou reservado para o reencontro de Silvio Santos e Jô Soares. Premiado em seu último ano de talk-show na Globo, o Gordo surpreendeu aparecendo no palco do SBT.

Muito emocionado e ovacionado por todos, Jô anunciou um ano sabático e a produção de sua “autobiografia não autorizada dos outros”, sobre as incontáveis entrevistas que promoveu. E recebeu cinco prêmios que estavam à sua espera, aproveitando para exaltar a iniciativa de Danilo Gentili, de dar oportunidade aos humoristas iniciantes (no The Comedians, na Av. Paulista), e agradecer a ele por fazer um excelente programa e esquentar o seu lugar, brincando com um improvável (?) retorno à casa em que começou a entrevistar.

Ofegante, segurando-se muito para as lágrimas não caírem, Jô contou que, ao assinar o contrato com o SBT, Silvio insistiu para que o programa Jô Onze e Meia fosse ao ar não uma vez por semana, mas todos os dias.

O Gordo fez questão de agradecer a Silvio pelos últimos vinte e oito anos de sua vida profissional, dedicados aos talk-shows, dizendo que o Homem do Baú foi o responsável por grande parte de sua vida e de sua carreira.

Num meio tão repleto de vaidades, é raro ver momentos de verdadeira gratidão, e mais ainda reencontros em que se celebram ideias e projetos outrora ousados, que se provaram um sucesso inegável e talvez improvável.

A passagem de um dos maiores comediantes brasileiros, em 1988, dos programas de humor aos late shows, tradicionais na tevê americana e então desconhecidos por aqui, representou mais que um sucesso singular, mas a criação de todo um novo formato de programas, que se expandiu no país para inúmeros horários, canais e nichos.

Se hoje vemos nessa mesma premiação Danilo Gentili, maior nome do gênero atualmente, e Tatá Werneck, que está lançando seu próprio programa de entrevistas no Multishow, Lady Night, é porque Jô Soares um dia abriu essa porteira, com um empurrãozinho de Silvio Santos. Realmente, não dava para esperar menos do reencontro desses dois monstros sagrados da televisão brasileira.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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