Iluminerds na SIQ 2016 – Manual de Sobrevivência dos Quadrinhos Indie

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O segundo dia da Semana Internacional de Quadrinhos da UFRJ começou com o mediador (e também quadrinhista) Osmarco Magalhães se desculpando pelo atraso dos rapazes da Capa Comics, que formariam a mesa de debate Manual de Sobrevivência dos Quadrinhos Indie (reunindo os quadrinistas Denis Melo, João Carpalhau e Hamilton Kabuna).

Nem precisava. Minutos depois, chegariam os representantes do coletivo de HQs, que é da Baixada Fluminense, distante um oceano da Praia Vermelha. O melhor de tudo é que chegaram trazendo crianças da região, o que antecipa, para quem não os conhece, o caráter pedagógico do projeto Capa Comics, que leva quadrinhos aos moradores da Baixada e ao mesmo tempo traz seus moradores para a produção e o debate sobre HQs, voltada  às questões locais.

João Carpalhau exibiu um vídeo e esclareceu que quando projetou seu primeiro gibi, teve quem questionasse o lançamento de algo assim em Duque de Caxias. Sua resposta foi viabilizar o projeto, oferecendo a um dono de bar espaço publicitário na edição, prometendo que as vendas aumentariam (o que realmente aconteceu com o boca-a-boca).

Quando rodaram a tiragem de 4000 exemplares e avisaram que a distribuição seria gratuita, causaram frisson, muitos os procuraram, e hoje a Capa Comics possui uma hegemonia na região, e reúne os principais talentos da Baixada.

O desenhista Hamilton Kabuna, que estudou Belas Artes na UFRJ, falou do trabalho social/comunitário e dos cursos ‘ ‘0800’ ou com taxas simbólicas realizados pelo coletivo, e o fato de ser o responsável pela parte acadêmica do grupo.

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Foto da matéria de O Dia sobre o coletivo

Carpalhau explicou que na Capa Comics eles trabalham para poder continuar trabalhando, visto que Hqs só trazem fama, e é necessário saber como transformá-las em dinheiro. E que utilizam editais de incentivo, possuem uma produtora cultural associada, e têm ainda o projeto de uma gibiteca.

Denis Melo, que juntamente com a roteirista Ana Recalde venceu o HQMIX de 2014 de melhor webcomic por Beladona, já lançada na versão impressa, revelou ter feito a Escola de Belas Artes da UFRJ, e que decidiu fazer hqs em 2006, lançando Palestina – da qual muito se orgulha, em 2009.

E que cresceu em São Gonçalo, segundo ele praticamente um buraco negro cultural, e a mudança começou ao fazer o curso dado por Renato Lima (da Mosh e Pocketcomics). Participou da Semana de Quadrinhos da UFRJ em 2008, e levou seu quadrinho Saidêra para a Rio Comicon, onde teve lucro vendendo as edições.

Denis Melo afirmou que, embora já fosse conhecido em eventos, sabia que não era suficiente ser conhecido nesse cenário e desconhecido no resto do país. E que a internet foi o ponto de virada. A publicação de Beladona na rede, em capítulos, gerou repercussão e visibilidade, e inclusive à indicação do prêmio HQMIX. De sorte que, ao inserir o projeto da edição impressa de Beladona no site de crowdfunding Catarse, as colaborações  já impressionaram desde o início.

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O artista informou ter procurado a Editora Avec, que pertence ao filho da clássica Ed. Vecchi, da era de ouro das hqs nacionais, para distribuir parte da tiragem, não pelo dinheiro, que nesse caso pouco sobra para os autores, mas pela moral de vender nas livrarias em todo o país.

Denis Melo finalizou dizendo que tem sentido necessidade de voltar a vender quadrinhos mais acessíveis, mais baratos mesmo. O que nos leva à Gibizeira, o evento de quadrinhos promovido em abril pela Capa Comics num shopping da Baixada Fluminense.

João Carpalhau disse que seu sonho é o de levar a Gibizeira à Central do Brasil, de mostrar nossos 147 anos de história nos quadrinhos, de fazer e vender HQs para quem não costuma lê-las.

Carpalhau afirmou que José Mojica Marins chegou a ganhar mais dinheiro com quadrinhos do Zé do Caixão do que com cinema, e Denis Melo considerou que atualmente uma tiragem de 1000 exemplares já é motivo de exclamações.

Hamilton Kabuna reclamou que, se nos dias de hoje há eventos do porte da CCXP, falta o caráter pedagógico, de pegar um quadrinho (independente) como Beladona e colocá-lo em evidência, pois, para as empresas que patrocinam eventos como a CCXP, o interessante é vender super-heróis os quais detém direitos e participações, de modo que o caminho seria levar os outros quadrinhos às escolas mesmo.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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