Agora que, aparentemente, o Multiverso DC voltou pra ficar, resolvi aproveitar a deixa e procurar uma realidade onde Grant Morrison e Scott Snyder nunca escreveram o Batman.

Pra tanto, só precisei usar a internet. As barreiras entre as realidades são extremamente frágeis e todas são interligadas pela rede de computadores. Por sadismo curiosidade, resolvi procurar saber quem são e o que fazem os Iluminerds destas outras realidades, usando sites de notícias, redes sociais e diários virtuais (infelizmente, alguns Iluminerds de outras dimensões mantém este tipo de confessionário on line). Comecemos então pelos Iluminerds da realidade de Walking Dead.

O apocalipse zumbi chegou às paradisíacas praias brasileiras. Demorou um pouco pra que a população percebesse o que estava acontecendo, porque quando viam aquelas pessoas caminhando vagarosa e aleatoriamente, pensavam que era mais um protesto contra a Copa, outro rolezinho em direção ao shopping mais próximo, ou um novo arrastão.

Por “um pouco”, temos que considerar padrões nacionais: quando o gigante acordou, as Forças Armadas, as Polícias e as Guardas Civis já tinham virado jantar, o que motivou grupos isolados de indivíduos a pegar em armas e lutar contra os desmortos.

Para minha surpresa meu orgulho, o Iluminerds foi um destes grupos. Infelizmente, nem todos sobreviveram pra contar a história. Bom, mais ou menos. Mas vamos falar destes heróis.

Dr. Housyemberg Amorim

Como aqui, ele foi eleito, democraticamente, líder dos Iluminerds… pelo Hell, do MdM. Sobreviveu até os últimos dias do surto zumbi, quando caiu nas mandíbulas de um grupo de walkers, do lado de fora da casa onde o grupo se escondeu montou sua base. Exaustivas investigações realizadas a posteriori não conseguiram explicar como ele saiu pelos portões, o que foi fazer lá fora (hidrocodona sobrava do lado de dentro!) e por que resolveu fazer isso algemado com as mãos para trás.

 Edu Aurrai

Sobreviveu e ainda fez parte das equipes de limpeza (responsáveis por caçar e destruir os mortos-vivos remanescentes), mas parou quando descobriu que zumbis poderiam ser treinados pra tocar notas simplórias em instrumentos musicais. Largou o serviço (e, claro, os Iluminerds) e formou uma nova banda, Edu e Os Que Se Recusam a Partir. Satisfeito em ser o líder inconteste do grupo, seu principal instrumentista e único compositor, contornou a incapacidade dos seus músicos de executar arranjos medianamente elaborados e investiu,  visando grana sucesso, em montagens musicais simplórias e letras mais leves para preencher (eita) a vaga (eita!) de bandas como Restart (EITA!), que, obviamente, não sobreviveram ao mundo sem cor do apocalipse zumbi. Seus principais sucessos são “Nosso Amor Não Morreu, Mas o Meu Baterista…”, o épico “Faroeste Desmorto” e a  melancólica “Meu Coração Não Bate Mais, Mas Ainda Te Amo!”

 Sr. Delarue

Foi um dos primeiros a tombar, pois se recusou a abandonar seus videogames, seu computador, seu notebook, seu tablet, sua bolsa Lacoste com sua coleção de jogos (e o dvd de Magic Mike) e seu celular com capa dos Ursinhos Carinhosos. Descobriu que joystick sem fio é inútil em uma luta contra desmortos e que zerar Resident Evil, definitivamente, não prepara ninguém pra isso. No entanto, a morte o tornou mais ágil (talvez pela diminuição de opções aceitáveis no cardápio) e ele até hoje não caiu nas mãos dos grupos de limpeza. Do seu esconderijo, continua mandando religiosamente seus textos para o blog, infelizmente em uma linguagem pouco acessível. O último foi “hd,mlkdsclknkcds,.mxz\ l” e, pelo que o Don Vitto deu pra entender, tratava de uma fçl~cvçmlçvd envolvendo sflçdsçmllkndnlnk.

Zé Messias

Sobreviveu e, com as baixas no grupo, finalmente conseguiu fazer do Iluminerds um blog sério. O Iluminamos, por exemplo, foca apenas filmes com momentos edificantes ou grandes apresentações das principais companhias de balé do mundo. E o Conheça Seu Iluminerd tornou-se Conheça-me Melhor, pois agora é uma espécie de diário-altamente-descritivo dele mesmo. Apesar de todas as agruras passadas, continua um estudante profissional e desejando que todos os homens (no sentido impessoal do termo) continuem fofinhos.

 Don Vitto

Nenhum mistério aqui: vários Iluminerds assumiram que o deixaram virar lanche. Motivos? “Ele estava muito preocupado em deixar claro que era o chefe, mas toda hora que a gente precisava de alguma orientação ele vinha com aquela ladainha ‘Que que você acha, Housy? JJota, você concorda? Ebony, me dá um abraço? Edu, toca Raul?'”, reclamou Gaby. “E toda hora falando do livro espetacular que ele faria sobre o acontecido, mas sem explicar o motivo pro Messias virar Salvatore, a Gaby ser chamada Giovanna, eu me tornar Enzo e o Ebony, Sofia”, falou minha versão alternativa. Os Iluminerds foram absolvidos aos olhos da opinião pública – e dos deuses – quando, postumamente, foi lançado o livro que Don Vitto passou décadas escrevendo: segundo alguns críticos, foi um ato de libertação fazer com que o pobre italiano parasse de trabalhar naquilo.

Inacreditável Neo

O sidekick do JJota sobreviveu graças a um fato inusitado: ele caiu nas garras de um grupo de zumbis hipsters que se recusavam a ser moderninhos só pra ser modinha e, por isso, se mantinham fiéis aos preceitos clássicos, só se alimentando de cérebros. Como não encontraram nenhum no Neo, ele terminou sendo poupado. Esta qualificação também foi determinante para que ele herdasse a vaga do Jota no Iluminerds: “Analisando assim, os dois são muito parecidos”, cravou Zé Messias.

Colossus de Cyttorak

Ia muito bem e poderia ter sobrevivido se fosse capaz de resisitir a uma aposta. Quando o Dr. Housyember o desafiou a enfrentar os zumbis com um show stand up imitando seus ídolos do Saturday Night Live, ele sabia que daria mer… Digo, que não ia se dar bem. Infelizmente, o mais maligno Iluminerd usou seus poderes manipulatórios pra que o pobre homem de aço do grupo aceitasse a disputa. Até onde pude pesquisar, não se sabe se realmente os zumbis não podiam entender as piadas ou se a apresentação do Colossus foi tão ruim que ele terminou devorado pelos críticos.

Ebony Spiderman

Sobreviveu e vive guardando luto. Tem trabalhado exaustivamente em traduções da obra de seu dileto e saudoso amigo Don Vitto para o copta, esperanto, latim e  burgúndio. Segundo ele, “a obra de Vitto merece ser vista pelo público mais amplo possível. Como os brasileiros ignoraram, os europeus riram e os americanos nos ameaçaram de intervenção militar se publicasse em inglês, resolvi buscar alguns mercados alternativos.”

Vilipendiador Unperucked

Teve um pequeno incidente com uma moça morta, porém faminta. Apesar disso, foi adotado por Zé Messias, que o ama trata como animal de estimação e ainda o deixa escrever os textos de apresentação dos Ilumicast enquanto reassiste a Crô. Além disso, sua nova condição tornou mais rica a sua coluna Eu, Cobaia, pois agora tem se dado ao luxo de fazer coisas realmente arriscadas, como atravessar rodovias na véspera de um feriadão,  enfrentar com a camisa do São Paulo paseatas em defesa dos direitos dos heterossexuais e ler o livro do Don Vitto. Sobre a sua zumbificação, Housyemberg deixou anotado no seu caderno de memórias: “Foi vacilo dele. Uma mulher correndo atrás do Vilipendiador? Claro que era cilada!”

Gaby Molko

Saiu da crise ilesa, bela e feliz. Segundo o que foi apurado, durante uma das primeiras reuniões da equipe foi levantada a hipótese de, numa visão pessimista, quando a crise chegasse ao fim todas as mulheres terem sido exterminadas. Foi o suficiente para que quase toda a equipe – Don Vitto, este péssimo elemento de grupo, foi a exceção – protegesse, paparicasse e, entre um combate aqui e uma fuga ali, tentasse marcar pontos com a musa do grupo.

Gustavo Audi

Infelizmente, faltou velocidade. Tecnologia alemã com manutenção no borracheiro da esquina, que era especializado em remendar pneu de bicicleta, sabe como é… Há quem brade que o verdadeiro problema foram alguns textos que ele fez criticando a humanidade em geral e os governos em particular. Outros, acham que ele enferrujou com tantos Momentos Emocionantes em Filmes. E um terceiro grupo, perverso, diz que ele adquiriu capacidades wolverínicas,  ressuscitou, mudou de cor e de modelo e atende pelo nome de Christine, O Carro Assassino.

JJota

Apesar de ter sobrevivido, sofreu uma crise nervosa quando descobriu que Dan Didio e Joe Quesada haviam escapado do apocalipse. Resmungando algo sobre “merdas de zumbis incompetentes do caralho…” resolveu passar o resto dos seus dias recluso no seu quarto, tendo a companhia de sua inestimável coleção de HQs (da qual ejetou alguns títulos, como A Noite Mais Densa, Marvel Zombies e Walking Dead). Desde que o facebook voltou a funcionar, tornou públicas algumas opiniões polêmicas (sobre a nova fase musical de Edu Aurrai: “Eis a prova de que a humanidade não merecia ter sobrevivido!”), outras evasivas (“Não acho que o trabalho do Vilipendiador como redator do Ilumicasts piorou depois da zumbificação… Mas também não acho que melhorou e isso pode ser considerado um elogio, não?”) e pelo menos uma misteriosa: “O que realmente aconteceu com o Housyemberg? Silenciarei quanto aos fatos, mas duvido que ele ainda faça outro Elenco Iluminerds!”

Didio e Quesada sobreviveram? Esta não é uma realidade aproveitável. Melhor procurar outra…