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Assim começa um filme assaz audacioso, e é desse jeito que flui até o fim. Pode parecer extremamente cabeça. Hermético. Sem sentido. Ou, talvez, chato. Pode apostar que não é. Nem de longe.
É, basicamente, um romance de formação para instrumentistas do século XXI. A busca do jovem Andrew, um ambicioso e obstinado baterista da melhor escola de música do país, pela perfeição.
O impulso, a força que lhe move e o desespero que o aflige nessa jornada atendem pelo nome de Terence Fletcher, regente implacável do conservatório, tido como capaz de extrair o melhor de cada músico, ao preço de suas próprias vidas.
Produções que giram em torno da música dificilmente se encaixam em gêneros mais energéticos, mas Whiplash – Em Busca da Perfeição é um thriller que sustenta a tensão até seu final, diga-se de passagem, apoteótico.
A batalha das baquetas contra o couro é a metáfora para a violência que atualmente parece permitida e aceitável no ambiente profissional; para o resgate da cultura maquiavélica de que os fins justificam os meios.
A qualidade do longa se revela em sua vibrante e precisa montagem de cenas curtas e impactantes, impecavelmente iluminadas, e na perfeita edição de som, que constroem uma narrativa que funciona como uma suíte ou um álbum conceitual, seja de jazz, rock, pop, mas principalmente, épico e arrebatador.
Além de escolhas acertadas para prêmios técnicos da Academia de Artes Cinematográficas, justiça seria a indicação e a premiação da dupla de atores que incendeia a tela: o jovem e promissor Miles Teller (o Reed Richards do novo reboot do Quarteto Fantástico no cinema) e o fabuloso J. K. Simmons (o eterno J. J. Jameson dos filmes do Aranha, do Sam Raimi).
Enquanto o primeiro é a síntese do deslocamento e da superação, e o outro é a certeza e a ira em forma de gente, ambos se encontram no desespero contido em suas existências, cada qual a seu modo, com seus anseios e receios.
Sem liberar qualquer spoiler, é possível definir Whiplash – Em Busca da Perfeição como pura música na veia. E muito sangue fora delas. Pa-tt-pa-tt-pa-tt-pa—-tuu—-tssss….
Belo texto! Realmente foi um filme surpreendente e empolgante!