Iluminamos: “Supers” – um olhar sobre a coluna do Verissimo nO Globo de 24/04/2016

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Luis Fernando Veríssimo é um dos maiores escritores brasileiros vivos. O autor da fantástica Comédia da Vida Privada, que se tornou um dos seriados de TV mais engraçados de todos os tempos, assina uma coluna no jornal O Globo, em que trata, com inteligência e fina ironia, dos mais variados assuntos.

Atento ao atual e enorme interesse do público pelas superproduções hollywoodianas de super-heróis, Veríssimo preocupa-se com a tendência, bem observada, de levar à tela grande conflitos entre os próprios heróis, em vez de contra os vilões de plantão.

E aponta que na evolução desse tipo de quadrinho “dissolveram-se as barreiras entre o bem e o mal”, e os “heróis perderam a certeza de sua missão na Terra”. E temos percebido isso pela transformação, nas últimas décadas, de grande parte dos quadrinhos de heróis em algo mais adulto, complexo e realista, inspirado no sucesso de clássicos como Watchmen e O Cavaleiro das Trevas.

Dessa onda vieram obras que apresentaram novos e interessantes caminhos para o gênero, como The Authority, Novos X-Men e os Vingadores de Brian Bendis, exemplos de hqs que souberam lidar muito bem com essa linha cinzenta em que se situam os seres humanos (e mutantes), inclusive os heróis e os vilões.

Ao mesmo tempo, diversos personagens clássicos pareceram entrar num beco sem saída criativo, aparentemente aprisionados em temáticas, ideais e regras rígidas típicas de uma época distante. Apostas editoriais de atualização desses super-heróis muitas vezes fracassaram, tornando os personagens confusos, violentos ou sombrios demais, irreconhecíveis ou, como disse o Veríssimo, sem “a certeza de sua missão na Terra”.

A passagem desses amados e difíceis heróis para o cinema costuma ser tão traumática quanto, e não falta esperneio de parcela dos fãs nas redes sociais, cada um palpitando livremente em relação ao que na sua opinião agradou e desagradou na adaptação dos supers.

O lançamento do primeiro filme do Capitão América da Marvel Studios envolveu a omissão do nome do personagem no título e nos pôsteres em mercados aparentemente sensíveis ou refratários à simbologia do militar, que veste a bandeira dos Estados Unidos da América. Havia a dúvida se o Capitão funcionaria para o público atual, mas sua cuidadosa construção renovou o interesse do público por ele.

Entretanto, o demônio, como sempre, está nos detalhes. Em detalhes esquisitos ou equivocados. E embora eu saiba que provavelmente seja tudo jogo de cena do mestre Veríssimo, pensei que seria divertido comentar alguns desses curiosos detalhes, inclusive pelo fato do tema estar tão em evidência, e de alguns dos elementos abordados – como o filme Batman Vs Superman – terem gerado tanto debate.

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Quem imaginaria que um dia veríamos o Super-Homem e o Homem-Morcego no mesmo filme não como aliados contra o crime mas como inimigos? O que nos espera no futuro? Homem Aranha x Homem de Ferro? Capitão América x Mulher Maravilha? Hulk, num dos seus acessos, contra todo o mundo?

“O que nos espera no futuro?” questiona-se Veríssimo. Quando ele pergunta se é o Hulk contra o mundo, título de uma saga autoexplicativa estrelada pelo verdão nos quadrinhos,  só podemos suspeitar que ele sabe mais que os fanboys sobre o incerto futuro do Vingador nas telas.

Ao tratar da “Distinta Concorrência”, a coluna sugere que, embora nunca tivessem se encontrado, “a questão entre Superman e Batman é antiga”, e que pode envolver inveja, vaidade e comentários elogiosos da Lois Lane sobre “Batman e sua elegância ‘dark’, em contraste com o calçãozinho azul 1,99 do Superman”. Tudo bem que os quadrinhos já sugeriram algumas vezes flertes de Bruce Wayne com a patroa do homem de aço, mas confundir a cor do indefectível calção vermelho do Superman só não é daltonismo porque no lugar dele, no cinema e nos quadrinhos, o samaritano ostenta agora somente as calças azuis, o que pode causado a compreensível confusão.

Agora, cá pra nós, desconfiar da fonte de renda do Superman é uma triste constatação de que o salário de jornalista não é lá essas coisas. Se o cara trabalhasse no Brasil, acredito que poderia estar na fila do desemprego a essa altura. Lá nos esteites, contudo, principalmente na mãe que é O Planeta Diário, sempre rola a oportunidade de mais um bônus por trazer um furo exclusivo do azulão.

O visionário cronista encerrou sua divertida coluna dizendo que mal pode esperar por “Lanterna Verde x Wolverine”. Sem saber (ou com muito conhecimento de causa), Veríssimo sugestionou um caminho inexplorado por Hollywood até o momento, o encontro, na tela grande, de heróis de editoras e universos diferentes, prática muito comum na década de 1990 entre a Marvel e a DC.

E fez isso citando heróis que tiveram recentes adaptações cinematográficas superatacadas. O que isso significa? Tadeu Schimidt responderia: Nada.

Aqui, o link para a tal coluna.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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