Iluminamos: Super

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Tem certos filmes que você sabe que vão demorar pra sair da sua cabeça…

Comprado em um daqueles impulsos típicos de colecionador, este filme estacionou algumas semanas na estante ao lado do aparelho de dvd, aguardando na fila mental que eu faço para minhas horas nerds (que inclui HQs, livros, filmes, podcasts, etc.). Confesso que não estava em uma posição muito confortável.

O diretor e roteirista James Gunn alegou que vinha trabalhando no roteiro de Super desde 2002, mas que o conteúdo estranho e violento afastou os produtores. Incentivado pela esposa, Gunn resolveu fazer um filme de baixo orçamento e chamou Rainn Wilson pra interpretar o herói. As filmagens foram feitas em pouco mais de um mês.
O diretor e roteirista James Gunn alegou que vinha trabalhando no roteiro de Super desde 2002, mas que o conteúdo estranho e violento afastou os produtores. Incentivado pela esposa, Gunn resolveu fazer um filme de baixo orçamento e, por sugestão de sua ex-esposa, chamou Rainn Wilson pra interpretar o herói. As filmagens foram feitas em pouco mais de um mês.

Acho que isso se deveu ao fato de que projetos que se propõem a explorar a ideia de como seria o mundo se realmente existissem super-heróis não são nenhuma novidade. Na verdade, esta foi uma das bases do Universo Marvel quando de sua criação nos já longínquos anos 1960. Afinal, o que ainda há pra se ver dentro desta premissa? Já usaram todo tipo de abordagem possível, desde obras sérias (como Watchmen) até comédia pastelão (Super-Herói, O Filme).

Mas não é que, quando chegou a sua vez, Super terminou se revelando um filme bem melhor do que eu esperava?

Rainn Wilson terminou ficando com o papel que, incialmente, foi pensado para John C. Reilly. Ele leu o roteiro no set de The Office, gostou do material e resolveu ajudar Gunn a rechear o elenco. Sua atuação neste filme foi surpreendente.
Rainn Wilson terminou ficando com o papel que, incialmente, foi pensado para John C. Reilly. Ele leu o roteiro no set de The Office, gostou do material e resolveu ajudar Gunn a rechear o elenco. Sua atuação neste filme foi surpreendente.

Uma coisa bacana é que o filme (que possui uma boa trilha sonora, diga-se de passagem) é uma comédia e tem seus momentos completamente non sense, mas estes se adequam à personalidade de Frank (Rainn Wilson), um sujeito melancólico, conformado e dado a sofrer alucinações as mais estranhas possíveis.

Ellen Page como a Boltie. A atriz topou o papel depois de receber uma ligação de Rainn Wilson, com quem havia trabalhado em Juno.
Ellen Page como a Boltie. A atriz topou o papel depois de receber uma ligação de Rainn Wilson, com quem havia trabalhado em Juno, de 2008.

Tendo como únicos pontos de destaque a sua feiura e completa falta de traquejo social, o chapeiro de lanchonete Frank, por uma dessas coincidências do destino, terminou se casando com uma mulher linda (Liv Tyler), que buscou neste relacionamento a força que precisava pra se livrar da dependência química. No entanto, como era de se esperar, as coisas não dão certo e ela tem uma recaída, se afasta de Frank e, por fim, o abandona pelo traficante boa pinta Jacques (Kevin Bacon), deixando o feioso completamente transtornado e crente de que o criminoso estaria usando as drogas pra destruir a personalidade de sua bela esposa.

O diretor e roteirista James Gunn ao lado da gata Liv Tyler. Ele está à frente do projeto Guardiões da Galáxia, uma das grandes apostas da Marvel para expandir seu universo cinematográfico.
O diretor e roteirista James Gunn ao lado da gata Liv Tyler. Ele está à frente do projeto Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy), uma das grandes apostas da Marvel para expandir seu universo cinematográfico.

Frank assiste na TV uma adaptação tosca de um super-herói católico estúpido (o Vingador Sagrado, corretamente interpretado por Nathan Fillion) que o convence de que qualquer um pode ser um super-herói e “fazer a sua parte”, desde que escolha este caminho. Depois de uma alucinação em que seu cérebro era literalmente tocado pelo dedo de Deus, ele começa a frequentar a comic shop do bairro (até então, ele não era leitor de HQs) para descobrir, com a ajuda da nerd desbocada Libby (Ellen Page) como se tornar um “super-herói sem poderes”.  Ele cria um uniforme e adota a identidade secreta de Crimson Bolt, cuja arma é uma chave inglesa.

Ellen Page e Liv Tyler. Ambas já trabalharam em adaptações de super-heróis Marvel: Page foi a Kitty no terrível X-Men - ) Confronto Final e Liv foi Betty Ross em O Incrível Hulk. Aliás, em uma cena em que sua personagem fala de seus problemas em um grupo de auto-ajuda, Liv cita um trecho da canção Fine, do Aerosmith, banda de seu pai, Steven Tyler.
Ellen Page e Liv Tyler. Ambas já trabalharam em adaptações de super-heróis Marvel: Page foi a Kitty no terrível X-Men –  O Confronto Final (X-Men – The Last Stand, 2006) e Liv foi Betty Ross em O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008). Aliás, em uma cena em que sua personagem fala de seus problemas em um grupo de auto-ajuda, Liv cita um trecho da canção Fine, do Aerosmith, banda de seu pai, Steven Tyler.

Depois de uma curta carreira heroica sem muito glamour (ele passa noites inteiras escondido atrás de grandes latas de lixo, esperando um crime acontecer) ou cuidado (só de olhar pra ele os vilões descobrem a sua identidade secreta), ele acaba recebendo, ainda que à contragosto, a ajuda de Libby, que adota a identidade de Boltie. No clímax do filme, a improvável dupla dinâmica resolve ir resgatar a esposa de Frankie da mansão de Jacques, justamente em uma noite em que ele está recebendo mercadoria e tem a sua segurança reforçada.

Os vilões Kevin Bacon, Sean Gunn e Michael Rooker (o Merle, de The Walking Dead).
Os vilões Kevin Bacon, Sean Gunn e Michael Rooker (o Merle, de The Walking Dead).

É claro que o filme tem momentos muito engraçados (os créditos iniciais são hilários, com uma animação que emula os desenhos infantis de Frank). Mas terminaram sendo o que menos me chamou a atenção. Mesmo o tal clímax do filme eu considerei o momento “ah, merda!” da história, pois ficou parecendo uma versão de Kick-Ass. Agora, o epílogo…

A nerd no filme nem é o personagem e Rainn, que nunca deu bola pra quadrinhos antes de resolver ser um super-herói. Libby é que a conhecedora de HQs que vibra com a possibilidade de ser sidekick, apesar de sua completa inaptidão para a função de super-herói, tirando apenas uma atitude meio Garth Ennis...
A nerdice no filme nem está a cargo do personagem de Rainn, que nunca deu bola pra quadrinhos antes de resolver ser um super-herói. Libby é que a conhecedora de HQs que vibra com a possibilidade de ser sidekick, apesar de sua completa inaptidão para a função de super-herói, tirando apenas uma atitude meio Garth Ennis… Sua participação no epílogo é simplesmente dilacerante!

Arrasador, eu diria. É um daqueles que eu vou sempre lembrar. Coroou o trabalho fantástico de Rainn Wilson e mostra a capacidade de James Gunn de sensibilizar de forma direta, sem aqueles discursos piegas bobocas. Para mim, foi extremamente forte ver Frank observando os “troféus” de sua carreira como vigilante, alguns anos depois, e, como acontece com tantos de nós, se tocando – muito, muito tarde – como a fixação em alguns objetivos ou pessoas nos fazem esquecer ou ignorar algo ou alguém de quem depois iremos sentir muita, muita falta.

Bom, agora o dvd está guardado em um lugar de honra no meu armário. 

Super. Dirigido por James Gunn. Com Rainn Wilson, Ellen Page, Liv Tyler, Kevin Bacon, Gregg Henry, Michael Rooker, Andre Royo, Sean Gunn, Stephen Blackhart, Nathan Fillion e Linda Cardeline. EUA. 2010.
Super. Dirigido por James Gunn. Com Rainn Wilson, Ellen Page, Liv Tyler, Kevin Bacon, Gregg Henry, Michael Rooker, Andre Royo, Sean Gunn, Stephen Blackhart, Nathan Fillion e Linda Cardeline. EUA. 2010.

“Calaboca, crime!”

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 7 comentários

  1. Inacreditavel_Neo

    “Não se fura filas. Não se vende drogas. E também não se molesta crianças. Não se lucra em cima da miséria dos outros.
    As regras foram determinadas há muito tempo. E ELAS NUNCA MUDAM!”

    Essa parte é foda.

    1. JJota

      É mesmo. Só achei chato mesmo o momento Kick-Ass, mas o final salvou tudo!

      1. Harvey_o_Adevogado

        bizarro, mas surpreendente. Melhor que o Kick Ass.

  2. Lucas Becker

    na essência, é mais fiel a Kick Ass que o filme do Kick Ass. E já que citaste tal semelhança, eu percebi ela bem mais forte no começo da carreira (quando as rondas dele não dão em nada) do Crimson Bolt do que no clímax do filme.

    1. JJota

      Cara, fico rindo sozinho só de lembrar desse grito de guerra…

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