Iluminamos: Star Wars Legends – Kenobi

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Um faroeste de Star Wars.

Como o próprio autor explica, a obra nasceu de um desafio que recebeu do editor da Dark Horse, Jeremy Barlow: pegar elementos da maior saga cinematográfica de todos os tempos e fazer uma história em quadrinhos em ritmo de faroeste. Alguma pesquisa e muitas anotações depois, John Jackson Miller percebeu que o material não poderia ser condensado em uma graphic novel. Em 2012, finalmente, a história pode ser contada, já como romance.

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Não se engane pelo título. Obi-Wan é uma figura importante na trama, mas esta não gira em torno dele. Apesar da curiosidade que desperta junto ao povo que habita um oásis em um local relativamente próximo ao ponto onde o Jedi fixa residência, a história fixa mais em outros personagens e em uma boa reconstituição descritiva do “interior” do inóspito planeta Tatooine.

Logo no começo, encontramos Kenobi pouco tempo depois de entregar o recém-nascido Luke Skywalker aos cuidados de Owen Lars. Obi-Wan está procurando um lugar onde possa fixar residência e manter a vigilância sobre a criança, sem desrespeitar a vontade de Lars, que pede que ele fique longe deles.

Beru e Owen Lars. É por uma exigência dele que Obi-Wan deve viver longe da fazenda onde o casal cria Luke Skywalker.
Beru e Owen Lars. É por uma exigência dele que Obi-Wan deve viver longe da fazenda onde o casal cria Luke Skywalker.

Logo após se instalar em um casebre abandonado, ele salva a vida de Annileen e Kallie Calwell, mãe e filha, sendo a primeira proprietária de um relativamente próspero armazém localizado em um oásis próximo. O local vive influenciado por uma espécie de milícia conhecida como O Chamado dos Colonos, controlada pelo fazendeiro de umidade Orrin Gault, cuja finalidade é proteger os habitantes locais das investidas dos Tuskens, os integrantes do Povo da Areia.

” – A maioria das pessoas me chama de Annie. 

O salvador fez uma pausa. Por um momento, ela pensou ter visto os olhos dele fixarem o foco, como se estivesse olhando para outra coisa. Mas o sorriso gentil rapidamente voltou.

– Não, Annileen está bom.”

Apesar das suas reservas, Kenobi termina no meio deste conflito, que se alastra para envolver asseclas de Jabba O Hutt,  e termina se mostrando mais complicado do que as aparências iniciais demonstravam.

Uma pequena tribo do Povo da Areia tem papel de destaque na trama.
Uma pequena tribo do Povo da Areia tem papel de destaque na trama.

É uma trama simples – embora não seja simplória. O destaque da obra vai pra fluidez da narrativa (não é uma prosa cansativa, é direta e instigante, sem firulas), a construção dos personagens e a descrição de algumas paisagens, habitantes e animais de Tatooine, um planeta que tem lugar de destaque no coração de todos os fãs da Hexologia.

Uma imagem clássica de Tatooine, onde podemos ver seus dois sóis e, ao longe, um "vaporizador", aparelho feito para retirar umidade do ambiente e obter água.
Uma imagem clássica de Tatooine, onde podemos ver seus dois sóis e, ao longe, um “vaporizador”, aparelho feito para retirar umidade do ambiente e obter água.

Algo que me chamou a atenção é o cuidado do autor para situar bem a história, sem ferir os acontecimentos passados – a Nova Trilogia – nem ofender o futuro – a Trilogia Clássica. É um cuidado maior, por exemplo, do que o próprio George Lucas teve quando fez a Nova Trilogia. J. J. Miller explica a origem do nome “Ben” e da sua fama de maluco. Justifica a distância – tanto geográfica como pessoal – entre Luke Skywalker e seu guardião. Até mesmo dedica uma passagem para, de certa forma, explicar o grande envelhecimento de Kenobi – e, por associação, de Owen Lars e Beru – entre o Episódio III e o Episódio IV. E há diversas referências ao “incidente” que, misteriosamente, fez desaparecer toda uma tribo do Povo da Areia.

“-  Predador, sim. Mas a morte veio em duas pernas – ela disse. – Nós sabemos.

– Mas as crianças… – disse Ben. – Os colonos normalmente não as matam, não é?

–  Colonos fazem órfãos, colonos abandonam – ela disse. – Predador massacrou.

Ben parou, como se estivesse tentando juntar as peças de um enigma.

– Será que…”

Claro que esta fidelidade termina trazendo para o livro alguns dos problemas que existem nas obras originais. Apesar de ser fã do trabalho de Alec Guiness e, principalmente, de Ewan MacGregor, sempre achei que Obi-Wan tem sérios problemas na contrução da sua personalidade – o que, claro, não pode ser colocado na conta dos atores. Kenobi e Yoda – e Mace Windu também, diga-se de passagem – nunca me convenceram como exemplos de sabedoria, ao construírem uma relação cheia de desconfiança com Anakin Skywalker – que eles sabiam ser extremamente poderoso – na Nova Trilogia e depois manterem Luke no escuro e tentarem usá-lo como arma contra o próprio pai na Trilogia Clássica. Obi-Wan, no livro, também demonstra indecisão, confusão e é um ímã para problemas. Chega a ser irritante que um homem que tem enorme necessidade de se esconder (seu isolamento tenta ser tão radical que ele se mantém na completa ignorância sobre o que está acontecendo na Galáxia, ignorando, por exemplo, que Darth Vader não faleceu em Mustafar) falhe repetidamente neste intento. A forma como, por exemplo, seu sobrenome é descoberto chega a ser uma falha infantil!

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Por outro lado, o escritor revela um pouco da amargura de Obi-Wan pelo Expurgo e, principalmente, as suas falhas em relação a Anakin. Ali, bem mais do que no Episódio III, percebe-se o quanto foi difícil para o Jedi “matar” seu padawan.

A versão nacional da Editora Aleph é bem acabada, com papel amarelo e uma tradução segura, fiel e com poucos equívocos. Infelizmente, assim como em quase todo livro um pouco mais volumoso com capa cartão, a lombada ficou um tanto quanto deformada depois da primeira leitura e a cola soltou em uns dois cadernos. Acho que algumas notas de rodapé situando o leitor novato em Star Wars seriam bem vindas, principalmente apontando o filmes onde ocorrem algumas situações citadas. Para o fã de carterinha, no entanto, fica de bom tamanho.

Star Wars Legends - Kenobi. De John Jackson Miller, com tradução de Fábio Fernandes. Editora Aleph, 2015, 528 páginas. R$ 39,90.
Star Wars Legends – Kenobi. De John Jackson Miller, com tradução de Fábio Fernandes. Editora Aleph, 2015, 528 páginas. R$ 39,90.

E a editora brasileira promete ainda mais três lançamentos relacionados ao Universo de Star Wars até o fim do ano, para se juntarem a Herdeiros do Império, de Timothy Zahn, e Kenobi: Crucible, de Troy Denning, Dark Force Rising, também de Timothy Zahn, e A New Dawn, outro livro de John Jackson Miller. Outros dez títulos deverão ser lançados nos próximos anos, entre eles Shadows of the Empire, de Steve Perry.

 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 11 comentários

    1. JJota

      É bom mesmo. Estou lendo agora os livres que contam a Trilogia Clássica.

  1. Vitor Guerra

    ” na Nova Trilogia e depois manterem Luke no escuro e tentarem usá-lo como arma contra o próprio pai naTrilogia Clássica.”

    isso aconteceu devido a uma falta de planejamento do Lucas no roteiro original o Anakin realmente tinha sido morto pelo Vader mas depois ele teve a ideia deles serem a mesma pessoa eu achei isso muito foda o problema é que isso gerou alguns furos na historia como por exemplo fazer Obi-Wan parecer um grandessíssimo babaca que escondeu a verdade do Luke, outro problema foi a Leia ser irma gemea do Luke sendo no outros filmes ela deu a entender ser mais velha que ele.

    1. JJota

      Concordo. Por isso mesmo eu disse que a fidelidade de J. J. Miller ao material original trouxe pro seu livro os defeitos que existem ali.

      1. Vipo Free

        Ai sim, excelente resenha.
        Estou com o primeiro da trilogia thrawn, um que tem o Lando velhaco e esse na fila, mas esse é de longe o que estou mais empolgado para ler, assim que entrar de ferias eu leio.
        Mudando um pouco de assunto, você viu uns que saíram uns da marvel tambem? Peguei 3, homem aranha entre trovões,guerra civil e homem de ferro:virus

        1. JJota

          São livros? Cara, tenho que te confessar que tenho uma certa implicância em ver meus personagens de HQs em formato de prosa, apenas. Star Wars é mais ou menos assim também: gosto muito dos livros do Universo Expandido, mas não estou curtindo a novelização do filmes, seja em livro, seja em HQ.

  2. Thiago Nunes

    Man. Essa foi a resenha mais profunda que li a respeito. Está de parabéns. Se me permitir irei citar o seu blog no vídeo que irei gravar sobre o livro. Parabéns mesmo.

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