Você gosta do Cassidy? Prato cheio!
No quinto encadernado de luxo da série Preacher, a Panini colocou uma das histórias especiais que ficaram de fora do volume anterior. Cassidy – Sangue e Uísque começa com o irlandês beberrão tendo alguns problemas com as autoridades e chegando a New Orleans, onde encontra outro vampiro, o primeiro desde aquele que o transformou. Eccarius, no entanto, tenta fazer jus às criaturas mostradas em livros clássicos e filmes antigos: fala empolado, usa capa preta e lentes de contato vermelhas e… dorme em um caixão! Pra piorar, ele tem uma legião de seguidores (e, lembrem-se, estamos em um tempo pré-Twitter), Les Enfants du Sang, um grupo de playboyzinhos e patricinhas mimadas que sonham com a imortalidade vampiresca e, visando um dia serem transformados, o idolatram. Cassidy termina arrastando o colega para uma noite de farra e mostra pra ele que se pode ser um vampiro e,ao mesmo tempo, uma pessoa “quase” normal. A satisfação de encontrar um “igual” se tornará perigosa, no entanto, quando descobrir que mesmo um um completo idiota pode ser letal.
Uma história divertida, sustentada pelo carisma do personagem principal.
Mas não descartável, pois Cassidy – Sangue e Uísque traz personagens e elementos que serão utilizados no próximo arco da série principal, Rumo ao Sul. Depois de enfrentar o Graal, resgatar Cassidy e conhecer um pouco da origem do amigo vampiro, Jesse Custer faz as pazes com Tulipa, tem seu tão esperado confronto com o Cara de Cu e, finalmente, retoma as buscas por Deus. Para tanto, procura outro amigo de Cassidy – sim, porque isso deu muito certo antes – em New Orleans. Xavier é um especialista em vodu que propõe colocar Custer em um transe durante o qual será possuído por um deus-serpente que lhe dará acesso ao conhecimento presente em Gênesis que o não-tão-bom pastor não consegue alcançar. Durante o ritual, que se dá no meio de uma floresta, Custer descobrirá coisas sobre o próprio Gênesis, o Santo dos Assassinos e Deus.
Enquanto o pastor se encontra fora do ar, o local é atacado pelos Les Enfants du Sang, que querem se vingar de Cassidy e, ao mesmo tempo, fazer com que este realize o maior desejo da gangue: transformá-los em vampiros.
Sendo bem sincero, é um arco meio paradão, em que pouca coisa realmente acontece e o que acontece não seja a chega a ser realmente empolgante. Mas Garth Ennis e Steve Dillon seguram bem as pontas e conseguem manter a nossa atenção, apostando em três pontos.
Um deles é Tulipa e sua necessidade de provar que não precisa ser “protegida” por Jesse. Para mostrar sua força, ela toca o terror com Les Enfants du Sang, que tentam sequestrá-la. É sério: ela não fica devendo nada aos piores (ou melhores, depende do ponto de vista) personagens do cinema brucutu dos anos 80. Achei exagerado e não consegui sentir grande empatia pela personagem e sua vontade de mostrar que pode se cuidar. Afinal, Jesse tem seus motivos para se preocupar com ela.
Outro ponto é Cassidy. Num processo de desconstrução, Ennis vai aos poucos mostrando que o vampiro descolado e gente boa não é tão legal assim. Coisas que ficaram meio no ar em arcos anteriores e que mostram um lado desagradável da personalidade do irlandês começam a vir à tona. E é apenas um prelúdio do que ainda está por vir e que, sinceramente, me fez nutrir mais do que uma simples antipatia pelo personagem.
O último é o surgimento de mais informações à respeito do que podemos chamar de “trama oculta”. São informações que vão sendo distribuídas aos poucos, mostrando que Preacher é série de tv (das boas, claro, nível HBO) e não filme de ação! Assim, Rumo ao Sul se torna um arco que, mesmo não estando no nível de alguns outros, é importante dentro da compreensão da história como um todo. Como deve ser toda boa narrativa em série!