Diversas religiões acreditam, em maior ou menor grau, em um pré-determinismo. Ou seja, todos viemos para a terra para cumprir alguma missão. Se assim for, não tenho a mínima dúvida que Garth Ennis e Steve Dillon nasceram para presentear o mundo com Preacher.
Achou este primeiro parágrafo polêmico? Ou… herético?
Filho(a), se você nunca leu Preacher nem faz ideia do que estas palavras realmente significam. Dê uma olhada no post do primeiro volume e tenha uma – vaga – noção.
De cara, percebemos a diferença de uma obra ímpar e inventiva quando comparada ao grande número de projetos superiores cheios de firula e com zero conteúdo que parecem encher as bancas atualmente. Ennis-Dillon não esticam os segredos apresentados nos primeiros arcos. E podem fazer isso porque tem muito, mas muito ainda pela frente. Novos personagens vão surgindo, novos segredos, novas sub-tramas… Não há mesmo necessidade de ficar arrastando inutilmente detalhes menores. Apenas o fio condutor – a procura por Deus – continua, mas mesmo ela fica diversas vezes em segundo plano, como veremos adiante.
No primeiro arco deste encadernado, Tudo em Família, conhecemos a origem de Jesse Custer, os motivos que o levaram a sumir da vida de Tulipa e a razão porque estava bancando o pastor em uma cidadezinha perdida no fim do mundo. Tulipa também revela os motivos que a uniu com o vampiro Cassidy e os levou a reencontrar seu ex-namorado. De quebra, finalmente Deus aparece e, de forma chocante, deixa uma mensagem a seu perseguidor, avisando para que O deixe em paz.
Conhecer a simplicidade e a coragem do pai de Custer, um veterano do Vietnam, e o amor dele por sua mãe, uma fugitiva da própria família, dá uma amostra de como o texto de Garth está um degrau acima da maioria. Não é piegas, não é forçado, não é “sujo”, embora esteja longe de ser casto. Você se envolve e acompanha com o coração pesado, pois já sabe desde a primeira página que terminou muito mal.
Mas é Garth Ennis, não é? E ele não criou a sua fama de escritor escroto e bizarro à toa! Assim, somos apresentados à Vovó, uma fanática religiosa que não se importa minimamente com a felicidade de quem quer que seja, desde que sua linhagem seja mantida, e não hesita em aplicar severos castigos a quem ousa contrariá-la. Conhecemos também seus dois principais capangas: Jody, um tanque de destruição, um monstro em forma de gente que parece só sentir algo quando está espancando ou matando alguém e; T.C., que, além de não ficar muito atrás do parceiro em matéria de idolatria à violência, é um tarado completo, capaz de enfiar o pinto em qualquer coisa (incluindo uma galinha ou um peixe recém-pescado).
Acho que o principal neste arco é ver como foi moldado o espírito de Jesse Custer, a maneira como este foi “quebrado” e a forma que o futuro pastor encontrou pra salvar uma parte dele, na figura de… John Wayne.
Achou pesado? Então você vai detestar o segundo arco deste encadernado – Caçadores – onde finalmente o casal reencontra seu amigo Cassidy, que acabou de perder a “namorada”, morta com uma overdose de heroína. Custer então resolve ajudá-lo a se vingar dos idiotas que colocaram uma grande quantidade de heroína nas mãos de uma viciada.
Os idiotas em questão são Bob Glover e Freddy Allen, “investigadores sexuais”, dois ex-garotos de programa que buscam se aproximar de uma vida mais glamorosa e excitante. A droga era um favor para Jesus DeSade, alguém para quem o termo “pervertido” não pode ser aplicado por ser extremamente singelo quando comparado a sua pessoa. Quer um exemplo? Ele tem o hábito de, todos os dias, sodomizar uma espécie de animal diferente, desde animais de grande porte até tatus. A quantidade de situações hilárias retratadas por Ennis e Dillon (e uma extremamente revoltante!) durante a tal festa são de fazer os piores entre nós ficarem pasmos.
Além disso, surge um novo elemento para aporrinhar a vida dos nossos heróis: o Graal, a organização secreta, o “poder por trás do poder”, os responsáveis pelo maior de todos os segredos da humanidade e defensores perpétuos da “linhagem sagrada”. Com tudo isso, a organização está passando por dificuldades, com uma conspiração se formando em seu interior, comandada por Starr, um frio assassino alemão e – pra variar – também pervertido. Ele, com a eficiente Featherstone e o molenga Hoover, parte na captura do perseguidor de Deus, mas acaba cometendo um erro, cujos desdobramentos surgirão no próximo encadernado, Orgulho Americano (que só irei resenhar quando a Panini relançar o mesmo, já que gostaria de analisar a publicação dos carcamanos).
Nada a acrescentar sobre o texto de Garth Ennis. Fantástico, com alguns dos diálogos mais hilários que já li desde sempre (vejam as pequenas amostras que coloquei nas imagens).
Steve Dillon realmente possui limitações no seu traço (de fato, alguns dos seus personagens são extremamente parecidos uns com os outros), mas trabalha muito bem nas expressões faciais, tem uma narrativa excelente, não é preguiçoso na construção de cenários (os banheiros tem ladrilhos, as paredes tem janelas e o céu tem estrelas) e merece ter sua arte-final destacada.
Alguns dirão que ler Preacher pode custar sua alma. Se isso fosse verdade… Bom, eu diria que dá pra conversar.
Ótima resenha Jota Jota, ainda não comprei o meu, sempre fico no aguardo de alguma promoção nos sites, igual fiz com o 1° volume!
Normalmente, as promoções só alcançam o encadernado da Devir, que não tem capa dura.
Peguei o 1° na Saraiva por R$40!
E os outros na faixa de R$36 R$38
Estou aguardando ansiosamente a reedição da Panini pra Orgulho Americano.
o arco ate o fim do mundo é sem duvida uma das melhores coisas que ja li, o relacionamento entre o jesse e o seu pai ou com a tulipa é belo sem ser piegas, acho que no fundo do coração negro e raivoso do garth ennis existe um poeta.
E um poeteiro tbm!
É exatamente isso que me chamou a atenção neste volume: quando você espera mais um daqueles relacionamentos escrotíssimos que se acostumou a ver até em histórias do Justiceiro escritas pelo Ennis, ele aparece com esses casais, que são apaixonados sem serem bobocas.
Putz, é muito foda quando, por duas vezes, ao ser indagado pela Tulipa se a ama, o Jesse responde: “Até o fim do mundo.”
garth ennis é meu escritor favorito pois ele sabe como se quebrar, em toda hq dele sempre terá sangue , humor negro e heresias, mas ele consegue fazer momentos reflexivos belos no meu disso tudo, como aquela cena dos lobos brancos no crossed ou essa mesmo que você citou JJota. eu acho que o ennis é um poeta misturado com um comediante que acabou de sair da guerra
Cara, você escreveu isso e eu imediatamente me lembrei de Histórias de Guerra… Putz, como são fodas aquelas hqs de guerra do Ennis!
a melhor pra mim é o justiceiro : nascido para matar !
Acho muito foda esta história:
Me passa a ’60.
Você quer sair daqui Frank ?
Sim !
Ótimo, era tudo que eu queria ouvir… você vai sair daqui mas haverá um preço Frank…
O Inacreditável Neo foi quem chamou minha atenção: em Justiceiro – O Fim o Garth Ennis deveria ter escrito o último diálogo dele com quem quer que seja que fez esta oferta pra ele.
uia, vou baixar a hq agora
ESSA DAÍ É PIKA!!1
Belo post Jota, muito mesmo!
Valeu, Garibiba.
Por causa dessa porra comecei a ter pesadelos dentro de um caixão embaixo d’água. Hehehehehe!!!
E tem gente que prefere Ruínas…
Alguém “Superior”, imagino…
SUPERIOR É A SUA MÃE…
Bem…Preacher não é tudo que dizem, mas vacilei mesmo ao dizer isso.
Preacher, é uma daquelas obras que te faz repensar como você encara o mundo.
Um amigo meu que era ateu repensou: ele deixou de acreditar que Deus não existia pra começar a acreditar que Ele era filho da p#%@.
bwahahahahahahahahaha
Eu tinha o scan de tudo de Preacher, mas perdi numa das minhas formatações.
Preacher é daquelas séries que vale a pena o investimento. Principalmente porque as edições da Panini estão simplesmente excelentes (embora faltem alguns extras e ainda estejamos aguardando Orgulho Americano).
Preacher é ótimo, pena que é altamente supervalorizado.
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