Iluminamos – Demolidor do Netflix (sem spoilers)

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“PREVIOUSLY, ON DAREDEVIL…”

Demolidor, Daredevil, o Demônio da Justiça.

Junto com o Homem-Aranha, este é talvez um dos mais humanos e cativantes personagens da Marvel, justamente por se parecer demais com o cidadão comum, embora com poderes. Apesar de já ter feito uma participação na antiquíssima série do Hulk do Lou Ferrigno e ter tido um filme medonho pela Fox em 2003 (o qual, devo dizer que, obviamente, como todos os seres de bom-gosto, não sou  fã)  havia um débito a ser pago com o Demônio…

…um que a Fox jamais poderia quitar (pelo menos até – se o bom Deus permitir – o filme do Deadpool mostrar que estou errado)…

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MARVEL STUDIOS & NETFLIX

Mas vamos primeiramente falar de Marvel.

Desde Iron Man,  a divisão de cinema da Casa das Idéias  mostrou a que veio: produções que, acima de tudo, respeitavam os seus heróis  (tá, não vamos incluir Iron Man 3  e Thor: The Dark World nessa) e não tinham medo de seres poderosos ou bem treinados com colantes ficarem ridículos na tela. Porque essa é, afinal, a essência dos personagens: serem retratados como o são, e não  “de uma forma crível para agradar um público que, em sua maioria, não é formado de fãs hardcore” (a besteira  do “complexo e profundo”, na qual a DC/Warner insiste, principalmente após o Sr Nolan nos prestar esse desserviço com o Batman, embora tenha – e com mérito, diga-se de passagem, para não ser injusto –  salvo o personagem das pérfidas garras do humor camp).

Sob o comando do sensato e inteligente Kevin Feige, a Marvel Studios provou absolutamente que o heroísmo pode emocionar, inspirar e, acima de tudo, elevar a qualidade do que se leva às telas em questão de entretenimento infanto-juvenil. Nunca vi tantas pessoas que, a princípio, tinham ido ao cinema sem ser realmente fã sair de lá vibrando com filmes como Os Vingadores ou com o Capitão América: O Soldado Invernal, dos irmãos Russo. Assim,  era necessário expandir essa qualidade para as produções televisivas, uma vez que Agents of SHIELD e a melhorzinha Agent Carter  – as cobaias – não se tornaram, propriamente ditas, maravilhas. Todo um planejamento com a Netflix foi então projetado (envolvendo também  personagens como Jessica Jones – da consagrada revista Alias -,  Punho de Ferro,  Luke Cage e os Defensores).

E os dados foram lançados num jogo em que o Demônio, como carro-chefe de uma nova era de supremacia Marvel, não podia fazer feio.

E isso (depois de a Marvel sagazmente tratar de resgatar os direitos  do personagem) é exatamente o que Steven S. DeKnight, o showrunner da série nos entrega: personagens sólidos, perfeitamente inseridos no contexto visualizado por Frank Miller (apesar de, obviamente, haver alterações na história, naturais de adaptações para outros formatos), com uma trama concisa, impactante, com drama e ação muito bem situados.  Voltando às séries de TV após ser o responsável pelo espetacular Spartacus, do canal Starz, temos que admitir:  DeKnight tem a manha! O cara sabe  mostrar exatamente o que o espectador quer ver (e de uma forma que somente a Netflix – por ser um sistema de produção de séries que permite uma liberdade absurda para se retratar histórias pesadas como elas devem ser, por seu formato fechado – pode proporcionar): os limites da crueldade, sangue, cobiça e, enfim, da força bruta que justifica o fim pelos meios, própria dos contos policiais.

Steven S. DeKnight
Steven S. DeKnight

PERSONAGENS E INTERPRETAÇÕES

Assim como Robert Downey Jr e Hugh Jackman estão para Iron Man e Wolverine, é justo afirmar que Charlie Cox e Vincent D’Onofrio estão para Matt Murdock e Wilson Fisk, respectivamente. Cox é perfeito como Murdock e Demolidor. E ambos os uniformes preto e o vermelho são impecáveis. Nossa… …quanto acerto!!  Mesmo sem os DD´s característicos no peito (e sua ausência é perfeitamente explicada na cena final do último capítulo), a interpretação, as expressões, a voz diferenciada do Demolidor (que não precisa GRUNHIR como o Sr Bale para ser notada e respeitada, viu, Warner?) marcam presença e impressionam.

Uniforme Final
Uniforme Final

D´Onofrio dá um show à parte. Embora não seja gigantescamente forte/gordaçaralho como Miller o retratou nos comics,  o ator é o Rei do Crime. Ponto. Não consigo mais imaginar NINGUÉM interpretando Fisk que não ele. Cruel, brutal, maligno… vemos com precisão a trajetória tortuosa da criança bullyzada e ridicularizada extravasando todo o seu ódio e revolta, se tornando, enfim, um monstro absoluto, mesmo capaz de amar. Vemos o conflito entre o ser humano e o absolutamente monstruoso sendo removido gradativamente. É magnífico. É uma pena não podermos presenciar sua ascenção como vista na série The Man Without Fear, afinal, para mostrar a temporada em 13 capítulos, isso foi funcionalmente alterado.

D´Onofrio como Fisk
D´Onofrio como Fisk

Elden Henson não vai mal como o clássico alívio cômico inocente e característico de Foggy Nelson e Deborah Ann WOW (digo, Woll), segura a onda como Karen Page, fugindo um bocado dos estereótipos de sua personagem em True Blood.

Karen Page
Karen Page

Ainda que a figura do Ben Urich na minha mente somente poder ser representada pelo Sam Rockwell (ficaria espetacular), o bom ator Vondie Curtis-Hall  mostra um personagem consciente, sério e exatamente dentro do que poderíamos esperar, apesar de estar visivelmente inserido pelo sistema de cotas e, obviamente, por ser possivelmente mais barato, claro. Mas não fez feio e a única coisa que lamentei acerca dele foi, bem, a forma que conduziram o fim de sua participação na temporada. A gostosa Rosario Dawson tem um papel secundário, porém essencial à trama. Também gostei demais do Melvin Potter, e os easter eggs do Gladiador são visíveis em sua oficina.

Na real e sem maiores enrolações: tirando a participação de John Patrick Hayden como Jack Murdock (que, além de não lembrar em nada o bom e velho Jack, não teve um pingo de carisma), não vi ABSOLUTAMENTE ninguém “sobrando” ou atuando mal nessa série. Todo o resto do elenco é win/win situation.

FALHAS

Bem…como nem tudo é perfeito, claro, há falhas, embora, a meu ver, sejam perfeitamente veniais e não interfiram na trama.

  • Mesmo o filme de 2003 sendo uma bomba cavernosa, o radar do Demolidor, o parkour e todas as sequências com Jack Murdock (retratado na versão antiga pelo fera canastra David Keith) foram mil vezes mais bem feitos que na série.  Aí você me diz “Ah Nav… eu gostei do radar, é mais realista, sei lá”… …e eu te respondo: PUERRA…!!! Eu queria ver pela percepção de uma pessoa com os poderes do Murdock, não como um expectador normal!  Tinha SIM que ser tudo em negativo, com deslocamentos e movimentos vindo como ondas… …é aquilo do filme do Mark Steven-Johnson  e nos comics do Miller: você não vê cores, somente contornos e percepções e batimentos cardíacos. Não custava NADA. Mas entendo que a Marvel não quis fazer dessa forma pra não lembrar em nada os fracassos como um todo na prévia adaptação. Apesar de, no episódio 4, o radar ser mostado muito rapidamente como é percebido por Murdock, meio “em chamas”, a série não insistiu nisso. Quanto ao parkour (que na série é muito, MUITO contido, só sendo mostrado praticamente em sua plenitude no ÚLTIMO EPISÓDIO), a Marvel Studios deu uma bobeada. Faltou MESMO e não adianta tapar o sol com a peneira; 
Sonicradar
O radar no filme de 2003 O Radar do Miller e o do filme de 2003

 

  •   Apesar de 99% das lutas terem uma coreografia absurdamente ESPETACULAR (sobretudo nos combates do Demolidor com o Stick, com o ninja e com o Kingpin), a sequência em que ele passa por uns 7 a 10 caras da máfia russa pra salvar o garotinho é um tanto mal-feita, na qual, ele, já grogue de apanhar em uma luta anterior, pega essa tropa inteira, que está descansada e quebra geral, com cada um deles “esperando” seu momento pra ser nocauteado… fala sério! Ação, sim. Ofender a inteligência alheia, não, né? A gente até entende as lutas de OldBoy e The Raid como  subprodutos inerentes de filmes pipocão das lutas orientais…  mas definitivamente não é o caso numa série desse quilate;
  • Uma coisa que me incomodou também foi, em alguns capítulos, o excesso de tempo dedicado à subtramas de personagens menores, como a senhora hispânica. Tem muita perda de tempo ali. Bem como na discussão do Foggy com o Matt. Poderia ser mais sucinto e objetivo. Mas entendo também que, por a série não ter outros subplots alternativos pra explorar além do Matt/Demolidor Vs Goons , Karen/Urich  e Fisk e Cia (com sorte, teremos o Tentáculo e a Elektra na próxima, se Deus permitir e a Fox for boazinha e vender também os direitos) alguma coisa acaba pesando mais que outra.
  • Tem também umas coincidências fodas, típicas de um timing errado de furo de roteiro,  como o Matt ver uma parada criminosa na TV, pegar um taxi, ir buscar o novo uniforme,  partir pro outro lado da cidade, e  ainda deter os criminosos, sem que dê tempo pra que eles fujam..rs

Mas, como eu disse, nada que não possa ser remediado futuramente.  Fico pensando como seria se alguém com o talento dos Russos dirigisse a segunda temporada… cacetada!

Se dão ao Demolidor um ritmo igual ao de Captain America: The Winter Soldier, ninguém segura mais a Marvel como campeã suprema de audiência do gênero.

Ninguém!!!

Nota: 9,5

E que venham Mercenário, Elektra e o Tentáculo na segunda temporada!!!!!

PS – Alguém que tenha assistido reparou no easter egg do Jesus Spiderman do Quesada (olha a mão direita dele) que está no apê da velhota hispânica?? 😀

Cristo Spider Launcher
Cristo Spider Launcher

PS #2 – Ah, embora eu seja putinha do Bátema, após ver o último episódio, com o Demolidor a caráter, lutando e fazendo as poses características dos comics, só existe absolutamente uma coisa a dizer:

 

CHUPA, NOLAN!!!!! 

Chupa!!!
Chupa!!!

Nav

Crítico. Incisivo. Conservador, Anti-hipster, Anti bullshitagem. Mas um cara legal, se vc conhecer melhor.

Este post tem 6 comentários

  1. Guest

    Bela crítica Nav, tou contigo e não abro!! Espero a segunda temporada, aflito que seja maior que a primeira e sucessivamente, só que cresça. 🙁

  2. Roberto Melo

    Bela crítica Nav, tou contigo e não abro!! Espero a segunda temporada, aflito que seja maior que a primeira e sucessivamente, só que cresça. 🙂

  3. JJota

    Grande Nav… Apesar de não compartilhar totalmente com a sua opinião a respeito dos filmes da Marvel (velho, Homem de Ferro 3 é o fundo do poo, mas outros filmes, como os do Thor, também são ruins de doer) fico satisfeito que a série tenha te agradado, pois você tem mais discernimento do que os que estão mais preocupados com um “chupa, DC” do que em realmente atentar para as peculiaridades dos projetos. Demolidor, você sabe, é um dos meus personagens favoritos e espero que tenha um tratamento digno. Só uma nota: creio que você viu a Versão do Diretor do filme de 2003. É uma salvação? Não, mas fica bem mais agradável que o corte original e com uma subtrama bacana que faz mais sentido. E não tem a breguíssima cena de amor.

    1. André Navarro

      Nao vi a Versão do Diretor…mas vou baixar pra sacar as diferenças. Não acho o primeiro Thor um filme ruim..é apenas um filme de pouquissima ação. Mas era Kenneth Brannagh..esperar o que? O cara é shakespeareano…. Já o segundo…é uma bomba mesmo.

      1. JJota

        Não sei… Acho o primeiro Thor fraquíssimo. com um dos piores elencos de apoio d todos os filmes da Marvel. Quando você lembra do riquíssimo material original… Putz, fica sofrível. Demolidor da Fox sofreu muito nas mãos de estúdio, as diferenças entre o que seria (um filme mais adulto, orçamento mais baixo e uma trama mais elaborada) são gritantes. Foda é saber que o Affleck precisou intervir pessoalmente para a coisa não ser ainda pior (por exemplo, eles não queriam que o Demolidor usasse uniforme, apenas um… capuz). A versão do diretor não salva, mas entrega um filme com mais sentido e sem algumas esquisitices. Acho que vale a pena, até pra uma comparação…

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