Iluminamos: A Onda

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“Que sorte para os ditadores que os homens não pensem.” Disse Adolf Hitler certa vez. A frase a seguir é a síntese perfeita da lição que pode ser tirada caso você assista “A Onda”, um filme alemão de 2008 que nos faz questão de lembrar que o totalitarismo se mantém à espreita e não é tão difícil assim acordá-lo.

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Rainer Wegner é um professor colegial alemão apaixonado pelo seu trabalho. No colégio onde trabalha, os professores são designados para ministrar uma série de cursos a respeito de doutrinas ideológicas. Wegner, apaixonado por punk-rock e história, gostaria de ministrar o curso de “Anarquismo”, mas este já havia sido tomado, restando-lhe somente autocracia.  Assim que entra na sala de aula, leva uma descontraída conversa com os alunos a respeito do significado de Autocracia e da possibilidade de predominância de regimes ditatoriais na Alemanha atual. Os alunos, descendentes do horrível legado nazista e da fragmentação alemã pelo muro de Berlim, afirmam que não se poderia jamais haver, naquela sociedade atual, outro tipo de manifestação autocrática devido às características democráticas e arrependidas do povo alemão.  Ouvindo isso, o professor decide mostrar aos alunos o quão fácil seria transformar pessoas normais em fantoches de uma causa, e decide assim fazer da sua própria frustração uma experiência valiosa.

A primeira coisa que o professor faz é trocar a localização dos alunos. Ele os coloca de frente pra ele, tal como uma marcha militar, e os alinha de acordo com suas habilidades acadêmicas. Após isso, é escolhida uma liderança, e algumas regras são estabelecidas como levantar-se sempre que for falar algo e sentar-se da maneira correta. Todas essas regras são respeitadas e executadas religiosamente, de forma que não podem ser quebradas. Apesar dos alunos não serem obrigados a permanecer na sala e no projeto, caso queiram ficar eles terão de fazer tudo que é estabelecido pelo líder.

Conforme o decorrer da semana, uma série de práticas faz todo aquele experimento assumir uma postura maior do que a própria aula. A unificação através de saudações, ações em conjuntos e um uniforme aproxima os alunos e faz com que eles se identifiquem como parte de uma causa e tenham um objetivo em comum. No entanto, todos aqueles que forem contrários as sua opiniões são imediatamente segregados e até agredidos, de diferentes maneiras. A identificação de um inimigo, de algo para combater causa neles um sentimento de orgulho, como se tudo que pudesse ser feito para chegar até valesse, não importa as consequências ou os métodos para tal.

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 No entanto, a situação do experimento do professor Rainer acaba fugindo do controle.  Os alunos, mesmo com o elevado nível de idolatria à liderança começam a fazer suas próprias células e ações fora da sala de aula. A ideia ultrapassa as barreiras do colégio e se transformam em algo potencialmente perigoso. Pichações, brigas e outros atos de vandalismo começam a surgir em defesa de um determinado pensamento. A uniformidade que teima em expurgar tudo que seja diferente acaba se transformando em algo normal aos olhos dos alunos. Alguns estudantes tentam parar o experimento, mas são imediatamente impedidos pela própria Onda.

As problemáticas pessoais – problemas de relacionamento, questões de personalidade – acabam tomando uma proporção na medida em que os jovens encontram no próprio projeto uma maneira de contornar seus problemas.  O problema torna-se tão grande mesmo o próprio professor acaba se envaidecendo pelo projeto e quando percebe, já é tarde demais.

Quando o professor decide dar fim ao experimento, contando toda a história aos alunos, encontra a reação negativa e o efeito da problemática criada.  Tim, um estudante que outrora era extremamente isolado encontra no grupo uma identificação obsessiva e acaba puxando uma arma para o professor quando este propõe o fim do experimento. O desequilíbrio emocional do estudante misturado à exacerbação do projeto A Onda acaba por causar num tiro desferido contra um dos alunos e o próprio suicídio na frente de toda escola.

O filme termina com a prisão do professor Wenger, com todo o colégio observando o acontecido.  O arrependimento no rosto do professor é visível, e a cena final é um olhar assustado para o horizonte, provavelmente vendo algo que o assustara (e não é mostrado).

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 Eu já pretendia ver “A Onda” há muito tempo, no entanto só recentemente tive o privilégio de assistir.  Eu era uma das pessoas que acreditava incredulamente na impossibilidade de ditaduras ou golpes de estado, como se o mundo estivesse quase que totalmente prevenido contra essas coisas. No entanto, já era notável a identificação de um fanatismo cego do ser humano em diversas áreas de nossas vidas como futebol e política, e as consequências desse fanatismo quando direcionadas podem ser desastrosas.

Enquanto via o filme eu mesmo me lembrava de uma série de confrontos entre lados que tinham muito em comum: o famoso direitista incoerente, defensor da moralidade e dos bons costumes que prega o ódio à minorias, que faz críticas vazias e preconceituosas e geralmente tem um discurso de ódio e é cegado pelas suas próprias ideias contra o fanático da esquerda, deslumbrador das revoluções populares que ele julga corretas e dono de um discurso radical e nem um pouco democrático. Geralmente se julgam opostos, mas possuem tantas coisas em comum que podem ser caracterizados por uma única síntese: são aquelas pessoas que batem o pé no chão e perdem o senso de realidade caso encontrem qualquer tipo de oposição às suas ideias.

Também notei que nossos julgamentos são geralmente parciais e levam em conta o fato de estarmos inseridos (ou não) dentro do contexto: os jovens que foram utilizados pelo professor durante o filme bem provavelmente só o fizeram pois estavam com o elemento emoção envolvidos. Não necessariamente fizeram todas aquelas coisas por maldade, mas sim porque viam naquilo que julgavam correto algo tão digno de busca que não conseguiam ver os estragos que causavam em suas ações.

O filme, para mim, mais do que uma aula sobre a facilidade de manipulação pessoal é também uma própria chamada à reflexão.  Nos faz perguntar o quão realmente corretas nossas ideias e concepções a respeito de qualquer assunto e o quão bem lidamos caso elas realmente não estejam. Todos nos já passamos pelas situações da intolerância, do desrespeito e do fanatismo nas mais diferentes áreas do conhecimento, do lado do agressor ou da vítima. Parece que todos nós temos potenciais germes ditadores na cabeça, e, portanto, vale a pedida: não alimente o fascista dentro de si.

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 OBS: Para quem mesmo assim não se convenceu do real risco do totalitarismo nos dias atuais, é válido saber que o filme “A Onda” é inspirado em fatos reais. Isso mesmo! Em 1967, nos Estados Unidos, o professor de História Ron Jones começou um projeto chamado “A Terceira Onda” baseado no que seria um estado ditatorial.  O projeto acabou com mais de 200 alunos e, em uma semana, tornou-se um pesadelo.  Há um documentário em que alunos envolvidos, mais de trinta anos após o ocorrido relatam as experiências e as consequências daquela fatídica semana. Verdade seja dita: é bem mais fácil do que parece.

Joel Junior

 

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem um comentário

  1. Don Vittor

    A primeira vez que fui ler sobre esse filme, pensei que fosse algo relacionado ao Surf, mas, graças a deus , estava enganado rs

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