Ilumimúsica – Trilha para um casamento que valeria a pena… assistir

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Porque JJota também é amor!

Estava batendo papo com alguns amigos e um casal de data marcada resolveu palpitar sobre a trilha sonora da cerimônia do casamento deles. Comecei a pensar no quanto esses acontecimentos são… insuportáveis. Ok, eu sei que vocês, leitor e – principalmente – leitora que já protagonizaram algo assim, devem guardar lembranças emocionadas do dia, mas estou falando do ponto de vista do convidado: é tedioso. E a trilha ajuda muito a ser chato, porque tende a ser previsível. Eu simplesmente ODEIO as Marchas Nupciais, principalmente a de Wagner e a de Mendelssohn.

Por isso, resolvi levar a imaginação adiante e elaborar uma lista das músicas que, para mim, tornariam a cerimônia mais fácil de enfrentar, sem perder o sentido máximo que deve ser o de celebrar a decisão de duas pessoas de abrirem mão de uma parte de si em prol da outra. De quebra, vou fazer alguns pedidos aos futuros marido-e-mulher (ou marido-e-marido, ou mulher-e-mulher) para que seus rituais de união sejam mais agradáveis e, claro, mais rápidos. Sim, porque eu sei que é o dia especial de VOCÊS, mas gostaria de lembrá-los que cada pessoa que aceitou seu convite e está ali, prestigiando o evento, além do sacrifício de tempo, deve ter morrido em uma boa grana para não fazer feio, investindo em roupa, maquiagem, cabeleireiro, presente… Imagine o local vazio ou – pior! – apenas com parentes. Imaginou?

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Vou me basear na “cerimônia” da forma como ela é descrita na maioria dos sites que consultei, sem me ater a questões religiosas. Claro que, infelizmente, todos estão voltados para o básico, ou seja, um casal formado por um homem e uma mulher. Peço que cada um adapte a proposta para a melhor forma que couber nos seus desejos.

Antes de mais nada, por favor, optem por som “mecânico”. Nada de corais ou intrumentistas ao vivo. Sempre há problemas, seja com o som (alto, baixo, desafinado, distante, etc.) ou com a execução das músicas (seresteiro de churrascaria não necessariamente é um grande intérprete, principalmente quando a canção exige acompanhamento ou é um pouco mais elaborada). A própria presença dos músicos e cantores desvia a atenção dos “astros principais”.  Músicos – principalmente violinistas – acompanhando o noivo/noiva/pajens/padrinhos da entrada até o altar? Ah, faça-me o favor…

01. Entrada dos Padrinhos

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É o momento mais “livre”, podendo ir do clássico ao popular sem problema. A única limitação é que não deve ser algo por demais vibrante, pois pode ofuscar a entrada da noiva. É a forma de avisar aos convidados que estão espalhados pelos jardins que a coisa vai começar – o que é muito mais interessante do que aquela cambada de “cerimonialistas” (sacam aqueles ridículos com fones de ouvido, parecendo que são do FBI?) passando pelas pessoas aos gritos de “Bora, gente! Vai começar!”.

Dica pop: Escolho para “abrir os trabalhos” Monte Castelo, do cd As Quatro Estações do Legião Urbana. A letra é um bom trabalho de intertextualidade feito por Renato Russo, que consegue adaptar para a canção os versos do Soneto 11, de Camões, e trechos do 13º capítulo da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios.

Entre suas vantagens, está a temática da letra (a busca de uma definição para o amor) e o arranjo delicado (parece mesmo música pra cerimônia). Ser conhecida de muitos também ajuda: além de servir para que padrinhos (que estão entrando) e convidados (que estão procurando seus lugares, lembrem-se) cronometrem bem o tempo, mais de uma pessoa acompanhará a canção baixinho, como uma oração ao casal que surgirá em poucos momentos.

Dica intrumental: uma boa pedida, para manter o ar menos “pesado”, seria Oscillate Wildly, da banda The Smiths. Originalmente lançada em 1984 como o lado B do single de 12″ com a versão estendida de How Soon is Now, foi depois incorporada à coletânea Louder Than Bombs, de 1987. Infelizmente, música do Morrissey para tocar em casamento, só se for intrumental mesmo…

Dica Star Wars: Throne Room Theme consegue ser grandiosa sem roubar o protagonismo de outras composições de John Williams – o que seria imperdoável, principalmente no caso da entrada da noiva.

 02. Entrada do Noivo

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A ovelha que vem para o abate… Brincadeiras de lado, pede-se uma canção “com mais pegada”, algo que transmita força, segurança.

Dica pop: Every Breath You Take, do The Police. Composta por Sting e Andy Summers e lançada como single em 1983 (e, posteriormente, no álbum Synchronicity, do mesmo ano), é até hoje o maior sucesso do grupo e do vocalista.

Uma coisa engraçada é que, observando bem a letra, você percebe que não estamos realmente diante de uma linda declaração de amor. Como o próprio Sting declarou em uma entrevista à BBC, espantado justamente com o fato da canção estar servindo de trilha pra muito casamento, trata-se de uma relação de “ciúme e possessividade”. Ela teria sido inspirada por Frances Tomelty, primeira esposa dele, que foi trocada em 1982, logo após o nascimento do segundo filho do casal, por Trudie Styler, colega de profissão de Frances (ambas eram atrizes) e… vizinha. Versos como “Every bond you break / Every step you take / I’ll be watching you” soam até sinistros, mas às vezes temos que fugir do sentido profundo das palavras e procurar a superficialidade.

Ah, e nem venham dizer que a música tem um ar triste, de abandono e não sei o quê. Quase todo casal que conheço já se separou pelo menos uma vez na vida. Tem muita gente que só aprende o quanto alguém faz falta quando este se afasta. Infelizmente.

Dica intrumental: The Ballad of High Noon (que, na versão com letra – de Ned Washington – é conhecida também como Do Not Forsake Me, O My Darlin’) foi composta pelo mastro Dimitri Tiomkin e imortalizada no clássico filme Matar ou Morrer (High Noon, 1952).

Acho a letra uma tremenda porcaria (não é ridículo o sujeito ficar implorando para a noiva “não desampará-lo”?). Mas a versão instrumental é perfeita, principalmente quando bem orquestrada. Esta é uma das melhores versões que encontrei, mas nada impede que se utilize também a que o Legião Urbana gravou para preencher o álbum Uma Outra Estação. O problema é que é uma versão bem curta.

Dica Star Wars: Olha, nem vou estender as considerações, porque nada pode fazer um casamento ser mais épico do que o noivo entrar ao som da Marcha Imperial, de John Williams. “Ah, JJota, mas aí se corre o risco de ofuscar a entrada da noiva!” Verdade, mas… Que se dane! Se um dia eu me casar, eu serei o noivo e eu EXIJO entrar na cerimônia ao som da Marcha Imperial!

03. Entrada da Noiva

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Aqui, é o grande momento. Mas, antes de qualquer coisa, se você será a noiva, esqueça a droga daquela estória de que “ela sempre se atrasa”. Sério. Atrasar-se é um ato de completa deselegância, além de falta de educação e de consideração pelo noivo, pelos parentes e pelos convidados. Não faça isso.

A noiva costuma entrar de braços dados com o pai (ou algum outro parente que faça o papel dele) e precedida pelos pajens e/ou damas de honra. Estes, na maioria das vezes, são crianças.

Dica pop: Drops of Jupiter (Tell Me), do Train, no álbum do mesmo nome, de 2001. Poxa, eu adoro essa música, tanto pela letra como pelo arranjo. Pat Monahan, vocalista da banda, alegou que a música foi inspirada na sua mãe falecida e que os primeiros versos haviam lhe surgido durante um sonho. Depois, ao ser desenvolvida, terminou se tornando uma canção de amor.

A letra, de forma bastante simbólica, fala de alguém que partiu (real ou metaforicamente) na manjada jornada da “busca de si mesma” e retornou, estando diante do amor (ou amigo), que, inseguro, indaga se ela sentiu saudade dele.

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Mais uma vez, alguém pode pensar que a letra é meio deprê. Não acho. A pessoa fez a sua jornada, alcançou seu objetivo e… voltou. Para mim, isso demonstra um sentimento perfeito, grandioso, forte. Nunca me convenci muito com aquelas definições do tipo “preciso de você”. Não, o grande amor está em “você não é vital, mas eu seria mais feliz com você do que sem você”.  Ai, ai… Eu realmente detesto relações de dependência, seja material, seja sentimental.

Eu acho que resposta para  a pergunta que o narrador da letra faz insistentemente está no simples fato da outra pessoa estar diante dela.

Dica instrumental: Ode an Die Freude, mais conhecida pelo título em inglês, Ode to Joy (Ode à Alegria). Está presente no quarto e último movimento da Nona Sinfonia de Beethoven. A letra é de um poema de 1785 de Friedrich Schiller. Sua versão instrumental é o Hino da União Européia desde 1972 (quando ainda era conhecido conhecida como Conselho Europeu). E foi por anos o toque do meu celular (quando eu era obrigado a andar com um).

 

Dica Star Wars: fácil, né? Claro que só pode ser o tema de abertura, ou Star Wars Main Theme. Aquele começo é difícil de ser superado em qualquer outro momento. E a noiva ainda pode ir vestida como a Princesa Leia:

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Ops! Aquela é a roupa pra convencer o cara a se casar! A de ir ao casamento é esta:

E a arma ainda inibe desistências de última hora e protestos inoportunos!
E a arma ainda inibe desistências de última hora e protestos inoportunos!

04. Cumprimentos

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Agora que todo mundo se casou – acho que coisas como troca de alianças, votos, bênçãos, etc., não precisam de fundo musical – chega a hora das pessoas mais próximas cumprimentarem os noivos. Há quem deixe este momento para a recepção, mas acho isso um sacrifício desnecessário, já que os nubentes terão que manter suas roupas bonitas e pouco confortáveis até o fim. Fazendo no próprio local da cerimônia a coisa anda mais rápido e, uma vez no local da festa, os recém-casados poderão se colocar mais à vontade rapidamente (e você que não usa não faz ideia de como afrouxar uma gravata é gratificante).

Aqui podemos usar até mais de uma música, por conta do tempo mais folgado.

Dica pop: Tim Maia é sempre uma boa pedida. O gorducho desbocado pode ser considerado imbatível quando coloca sua voz à serviço de baladas extraordinárias. Para o momento, duas me vêm facilmente na lembrança. A primeira é Eu Amo Você, composição de Cassiano e Silvio Rochael e lançada no primeiro LP de Tim, homônimo, de 1970:

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A outra é Você, composição do próprio Tim que ele gravaria em 1971. Inicialmente gravada por Eduardo O Bom Araújo, foi preterida pela Rei Roberto Carlos, que preferiu aproveitar outra criação dele – Não Vou Ficar – no seu álbum de 1969.

Dica instrumental: Walkürenritt – ou simplesmente A Cavalgada das Valquírias – é provavelmente a obra mais conhecida de Richard Wagner, parte da ópera Die Walküre, de 1856. É bastante famosa no mundo pop por ter sido usada em vários filmes, como Apocalypse Now (idem, 1979) e Watchmen (idem, 2009). Engraçado que, apesar do seu tom épico, é “apenas” a canção de abertura do III Ato. Não entendeu? A música começa a ser tocada enquanto as cortinas estão fechadas, como uma forma de chamar a atenção do público que está se acomodando. Sem batalha, sem fúria, sem sangue. Pois é…

Dica Star Wars: Sem a menor sombra de dúvida, é só tocar Across The Stars, o tema de amor de Padmé Amidala e Lorde Darth Vader… Digo, Anakin Skywalker.

05. Saída dos noivos

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Que lindo! Entraram separados e sairão juntos! Para os convidados, fica o alívio de saberem que estão indo pra festa e que acabou a solenidade (viu como é bom que os cumprimentos fiquem logo na cerimônia?). Todo mundo feliz…

Dica pop: O maior abandonado Cazuza lançou, em seu terceiro álbum solo, Ideologia (1988), uma pequena pérola de amor que, claro, passou despercebida na época e foi aos poucos sendo descoberta (e regravada), junto com a maior parte da obra dele, após a sua morte. A música foi feita sobre as descrições de loucuras de amor que Márcia Alvarez, empresária dele, lhe contava ter feito. A música, de Dé, foi finalizada por seu irmão Ricardo, embora este não tenha recebido os créditos no álbum. Ganhou o título singelo de Minha Flor, Meu Bebê.

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Acho perfeita a temática da letra: na maioria das vezes em que nos apaixonamos, quase todos tratam como se fosse algo catastrófico ou infame. Até acontecer com elas. Quem nunca se fez de burro pra pessoa amada “se sobressair”?  Ou passou noites em claro só pra vê-la dormindo?

Outra boa pedida – apesar de algumas amigas minhas acharem a letra “machista” – é Wishing and Hoping, cantada por Ani DiFranco e presente na abertura do filme O Casamento do Meu Melhor Amigo (My Best Friend’s Wedding, 1997).

Dica intrumental: optaria por Tara’s Theme, de Max Steiner, presente na trilha sonora de E o Vento Levou (Gone with the Wind, 1939) e também trilha do casal mais famoso do Chaves, Done Florinda e Professor Girafales. Lembrem-se: a escolha se prende única e exclusivamente à música em si. Não casem por conveniência – como a Scarlett – nem passem a vida toda tomando café.

Dica Star Wars: Sair ao som de Duel of the Fates seria algo simplesmente fantástico!

Se um dia você for casar e a sua trilha for no sentido das que aqui estão, ótimo! Pode me convidar de boa. Mas, caso não seja… Lembre-se que o mais importante não é a festa ou quem vai ou não vai até lá. Celebre esse dia não como um auge, mas como o que é: um começo. E, por favor, não se esqueça de que esta história de que o “verdadeiro amor é duro como uma rocha e eterno como as estrelas” é pura balela. O amor é como uma frágil plantinha: se você não regá-la todos os dias, ela vai murchar e morrer. Cuide de quem você ama. Muito. E sempre!

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JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 11 comentários

  1. Ebony Spiderman

    dicas anotadas “personal wedding music” a saída com os sabres, as musicas orquestrais e as alianças “preciosas”, certamente estarão presentes. Agora a cavalgadas das valquírias está piegas e pokebola é sacanagem.

    1. JJota

      As outras estão ali apenas pra constar: Tim Maia invencível naquele momento!

      E, acredite!, eu vi uma pessoa pedir outra em casamento com uma pokebola!

        1. JJota

          Vai dizer que você não odeia aqueles casamentos que duram três horas?

          1. Ebony Spiderman

            Por isso as igrejas tem lanchonetes perto.

          2. Harvey_o_Adevogado

            morram de inveja seus putos. Meu casamento, meu sobrinho tocou a marcha imperial no teclado!

  2. Vilipendiador Unperucked

    Como assim?! O Delarue na verdade é o Shazam?!

      1. Vilipendiador Unperucked

        Burro pra caralho, como sempre.
        Tivesse visto a imagem do post e ambos pouparíamos postagens.

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