Ilumimúsica – The Boy With The Thorn in His Side

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Uma volta ao pop.

Em 1985, a banda The Smiths – que surgira muito bem nas paradas dois anos antes, tornando-se figurinha carimbada no programa  Top of the Pops – atravessava um momento delicado. A imposição por parte da banda (e quendo se escreve “banda” deve-se ler Morrissey – vocalista e letrista – e, em menor escala, Johnny Marr – o guitarrista e principal compositor) no lançamento de singles “comercialmente difíceis” como Shakespeare’s Sister e That Joke Isn’t Funny Anymore os haviam colocado em conflito com a Rough Trade, sua pequena gravadora, agravado por uma série de entrevistas em que principalmente o vocalista teceu longas reclamações sobre a forma como eram tratados pela gravadora. Para piorar, ainda havia o problema do baixista Andy Rourke com drogas (e tinha que ser problemático mesmo pra chamar a atenção, pois quase todos – Morrissey era e exceção – fumavam “muita maconha”) e o início das “esquisitices morrisseynianas“: ele passou a faltar sistematicamente a compromissos e abandonar shows e desistiu de uma turnê na Europa pela metade.

Da esquerda para a direita: Andy Rourke, Morrissey, Mike Joyce e Johnny Marr. O nome The Smiths nada mais era o que uma forma de salientar que aquela banda vinha do povo (Smiths é um nome extremamente comum no Reino Unido), contrapando-se ao "pedantismo" de grupos pop como Spandau Ballet. Como Morrissey declarou, era a hora "em que pessoas comuns mostravam seus rostos".
Da esquerda para a direita: Andy Rourke, Morrissey (deitado), Mike Joyce (na bateria) e Johnny Marr. O nome The Smiths nada mais era o que uma forma de salientar que aquela banda vinha do povo (Smiths é um nome extremamente comum no Reino Unido), contrapando-se ao “pedantismo” de grupos pop como Spandau Ballet.

Marr estava extasiado com as possibilidades abertas nos últimos meses, com as experimentações possíveis nas gravações e coisas assim. Mas tanto ele como, principalmente, Morrissey não haviam montado uma banda apenas para fazerem experiências de pouca repercussão midiática e alcance limitado de ouvintes. Muito pelo contrário, estavam gostando do sucesso e, principalmente, da grana resultante do mesmo. Além disso, gostavam de ser uma banda cuja apresentação ao vivo era considerada uma das melhores da época.

Morrissey (Stephen Patrick Morrissey) e Johnny Marr (nascido John Maher). Em 1982, eles formaram a banda e, depois de algumas experiências, alcançaram sua formação definitva. Acreditavam claramente que era o coração e a alma dos The Smiths e que tal posição deveria ser refletida nos ganhos (o que traria problemas legais anos depois, com o baterista Mike Joyce obtendo legalmente uma maior porcentagem nos lucros do grupo).
Morrissey (Stephen Patrick Morrissey) e Johnny Marr (nascido John Maher). Em 1982, eles formaram a banda e, depois de algumas experiências, alcançaram sua formação definitiva. Acreditavam claramente que eram o coração e a alma dos The Smiths e que tal posição deveria ser refletida nos ganhos (o que traria problemas legais anos depois, com o baterista Mike Joyce obtendo nos tribunais uma maior porcentagem nos lucros do grupo).

Com essas coisas na cabeça, Marr, tão logo o grupo retornou ao estúdio de gravação em agosto daquele ano, assumiu a produção sozinho (embora, nos créditos, o nome de Morrissey figurasse junto com o dele) e o controle total sobre a mixagem (os resultados obtidos em Shakespeare’s Sister, com cada instrumentista cuidando da mixagem do seu intrumento, não tinham sido satisfatórios). Com este poder em mãos, ele optou por um retorno à simplicidade no próximo single, que recebeu um arranjo mais simples, uma duração mais curta e um ritmo mais pop: The Boy with the Thorn in His Side.

Capa do single de The Boy with the Thorn in His Side. A capa trazia o escritor Truman Capote aos vinte e cinco anos de idade, fotografado por Cecil Beaton. No lado B estava Asleep, uma canção extremamente pesada - e honesta - sobre suicídio.
Capa do single de The Boy with the Thorn in His Side, com o escritor Truman Capote aos vinte e cinco anos de idade, fotografado por Cecil Beaton. No lado B estava Asleep, uma canção extremamente pesada – e honesta – sobre suicídio.

A letra de Morrissey parecia fazer – mais uma vez – uma alusão a homossexualidade, mas o autor descartou tal ideia em uma entrevista: “o espinho (thorn) é a indústria fonográfica, e todas essas pessoas que nunca acreditaram em nada do que eu falava, que tentaram se livrar de mim e que não quiseram tocar meus discos.” Vale a pena salientar que desde o início Morrissey sempre mostrou uma tendência a culpar qualquer problema que tivesse na sua escalada para o sucesso a estranhas perseguições que ele sofreria pelos mais diversos motivos.

Capa do álbum The Queen Is Dead, que trazia The Boy With the Thorn in His Side ligeiramente diferenta da versão single, com um arranjo de cordas que não tinha nesta. Finalizado em 1985, o disco só foi lançado em 1986 por conta de uma disputa legal entre o grupo e a Rough Trade. É considerado o melhor trabalho da banda.
Capa do álbum The Queen Is Dead, que trazia The Boy With the Thorn in His Side ligeiramente diferente da versão single, com um arranjo de cordas que não tinha nesta. Finalizado em 1985, o disco só foi lançado em 1986 por conta de uma disputa legal entre o grupo e a Rough Trade. É considerado por muitos o melhor trabalho da banda.

Chega a ser engraçado ver que o próprio Morrissey, que reclamava do que seria uma “falta de empenho” da Rough Trade na divulgação das músicas dos Smiths, fosse radicalmente contra a ideia dos videoclipes, que, para ele, não passavam de um modismo com dias contados. Não se sabe se quando fazia estas declarações Morrissey ignorava ou deliberadamente “esquecia” a força ascendente da MTV nos Estados Unidos – força que foi mostrada quando um clipe não autorizado de How Son Is Now? produzido pela Sire, gravadora responsável pelos lançamentos dos Smiths no mercado norte-americano, alcançou bons resultados e ajudou nas vendas dos álbuns e no sucesso da turnê da banda pela América.

Quando a mesma Sire implorou por um clipe novo, a banda só cedeu depois de uma longa insistência. No entanto, a equipe de filmagem teve que se deslocar até eles (no estúdio onde estavam trabalhando) e foi atendida com extrema má vontade – Marr anunciou logo que não pretendia “se mexer um metro”.

O clipe foi dirigido por Ken O’Neill e tem uma produção paupérrima. A própria forma como a banda ficou disposta, com Morrissey de lado para a câmera e de frente para o resto do grupo, quase sem se mexer dentro de um espaço apertado, denunciava a completa falta de criatividade, não chegando aos pés sequer das apresentações em playback dos Smiths em programas de tv, imagine das performances ao vivo. Quando fracassou entre a crítica e o público, a banda rapidamente esqueceu sua própria má vontade e preferiu culpar a ideia em si, reforçando para si mesmos que aquele tipo de divulgação era uma perda de tempo.

A banda acabou em 1987, pouco tempo depois de assinar com a EMI. Marr, notívago e caminhando para o alcoolismo, passou a ter diversos atritos com Morrissey, que preferia a pegada mais pop do que as experimentações e as parcerias musicais do guitarrista, arruinando uma amizade que parecia inabalável. Johnny se retirou do grupo, que ainda tentou continuar com outro guitarrista (Ivor Perry), mas Morrissey resolveu pôr um fim de vez em tudo, se lançando em carreira solo.
A banda acabou em 1987, pouco tempo depois de assinar com a EMI. Marr, notívago e caminhando para o alcoolismo, passou a ter diversos atritos com Morrissey, que preferia a pegada mais pop do que as experimentações e as parcerias musicais do guitarrista, arruinando uma amizade que parecia inabalável. Johnny se retirou do grupo, que ainda tentou continuar com outro guitarrista (Ivor Perry), mas Morrissey resolveu pôr um fim de vez em tudo, se lançando em carreira solo.

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 5 comentários

  1. Homem cinza sem pescoço

    Eu ainda não sei se gosto ou não de Smiths

    1. JJota

      Bom, definitivamente não é a banda para um domingo ensolarado…

      1. Homem cinza sem pescoço

        Esse é o problema, eu gosto de bandas impróprias para domingos ensolarados

        1. JJota

          Pode ir sem medo, então. Aliás, o rock inglês dos anos 80 é a sua praia!

          1. Homem cinza sem pescoço

            Não só inglês, mas europeu em geral. Cocteau Twins e My Bloody Valentine principalmente

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