Ilumimúsica: Je T’Aime… Moi Non Plus, de Serge Gainsbourg e Jane Birkin

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Música de motel é o c@$@&¨*!

Dizem que a vida é feita de desafios e será tão bem ou mal aproveitada quanto for a sua reação diante deles. Serge Gainsbourg, ator, pintor, compositor e, principalmente, cantor francês encarou de frente o que foi colocado diante de si por sua amante (nada mais, nada menos que Brigitte Bardot) em 1967: compor a “mais linda canção de amor” possível.

Lucien Ginzburg, filho de judeus russos, nasceu em Paris em 1928. Apaixonado por música, cinema e poesia, era viciado em álcool, mulheres e, principalmente, cigarro. Seus excessos faziam com que suas canções tivessem maior aceitação do público quando interpretadas por outros artistas. Morreu em 1991. Seu maior sucesso, inegavelmente, foi Je T'Aime... Moi Non Plus. Seu grande amor, indubitavelmente, Jane Birkin, com quem ficou casado até 1980 e teve uma filha com ela, Charlotte Gainsbourg.
Lucien Ginzburg, filho de judeus russos, nasceu em Paris em 1928. Apaixonado por música, cinema e poesia, era também viciado em álcool, mulheres e, principalmente, cigarro. Seus excessos faziam com que suas canções – que abordavam os mais diversos ritmos – tivessem maior aceitação do público quando interpretadas por outros artistas. Morreu em 1991. Seu maior sucesso, inegavelmente, foi Je T’Aime… Moi Non Plus. Seu grande amor, indubitavelmente, foi Jane Birkin, com quem ficou casado até 1980 e teve uma filha, Charlotte Gainsbourg, também cantora e atriz.

Contratado da mesma gravadora da estrela (a Phillips), a conheceu em um programa de TV em 1967 e se tornou mais uma vítima da beleza estonteante da musa francesa. E depois ficou completamente perturbado ao descobrir que a atração era recíproca. Trabalhando juntos, o casal aproveitava para… como eu poderia dizer?… desenvolver a relação. Apesar dos cuidados tomados, a imprensa logo estava fervendo com boatos sobre o romance, que teve seu auge justamente na época em que, numa pequena sala do Estúdio Barclay, em Paris, eles gravaram o que seria a primeira versão da mais conhecida canção de Gainsbourg, que não foi lançada por conta de um veto da parte dela. Segundo o que se divulgou na época, Bardot atendeu ao pedido do marido, o playboy alemão Gunther Sachs, que não gostou nadinha do que ouviu. Versões mais recentes dão conta de que, na verdade, foi a própria Bardot, instruída pelos seus agentes, que achou que a canção poderia causar danos a sua imagem, principalmente em países mais conservadores como a Itália e os Estados Unidos. Se assim foi, ela estava certa. E errada.

Brigitte Bardot foi um dos grandes símbolos sexuais dos anos 50 e 60. Sucesso de mídia depois de participar do polêmico E Deus Criou a Mulher (Et Dieu... créa la femme, 1957). Fracassou nos EUA por seu perfil extremamente liberal e seu fraco inglês, mas continuou objeto de adoração também dos americanos. É considerada a responsável pela popularização do biquini, pela criação da sapatilha e pelo atual status de Saint Tropez e Búzios, no Rio de Janeiro. Além de adorada por John Lennon e Paul McCartiney, foi para ela que Bob Dylan, confessadamente, compôs sua primeira canção.
Brigitte Bardot foi um dos grandes símbolos sexuais dos anos 50 e 60. Sucesso de mídia depois de participar do polêmico E Deus Criou a Mulher (Et Dieu… créa la femme, 1957). Fracassou nos EUA por seu perfil extremamente liberal e seu fraco inglês, mas continuou objeto de adoração também dos americanos. É considerada a responsável pela popularização do biquini, pela criação da sapatilha e pelo atual status de Saint Tropez e Búzios, no Rio de Janeiro. Além de adorada por John Lennon e Paul McCartiney, foi para ela que Bob Dylan, confessadamente, compôs sua primeira canção.

Mas por que a gravação geraria este tipo de preocupação? Ora, Gainsbourg ficou à altura da musa e deixou de lado o amor casto, indireto, platônico que era praxe na maioria das canções de amor desde… sempre, e apostou em uma letra que é a exaltação do amor físico, sexual. Os agentes não temiam que versos como “Je vais, je vais et je viens / Entre tes reins / Et je me retiens” não fossem bem compreendidos: eles temiam que fossem compreendidos bem demais. Ou seja, o ouvinte fizesse a imediata associação com um casal fazendo amor… um amor extra-conjugal, é bom lembrar!

Bardot e um de seus maridos, Gunther Sachs.
Bardot e um de seus maridos, Gunther Sachs. O casamento acabou em 1969.

Seja ou não verdade que Brigitte ficou receosa com a reação popular, o fato é que daí por diante o caso com Serge esfriou. Ela emendou diversas viagens com Gunther e resolveu apostar na relação com o marido, comunicando friamente ao apaixonado compositor que o relacionamento deles estava acabado. E aí ele caiu no clichê romântico, se entregando a dias de melancólica contemplação de imagens de Bardot, enquanto compunha, bebia e, principalmente, fumava.

Bardot e Gainsbourg em estúdio
Bardot e Gainsbourg em estúdio (este beeeeeeem maior do que a cabine onde gravaram Je T’Aime…

Decidido a investir um pouco mais na veia de ator, Serge participou de algumas produções, entre elas Slogan, de Pierre Grimblat, onde contracenou com Jane Birkin,  com quem viveu o mais tórrido e conhecido caso de amor de sua vida.

A londrina Jane Mallory Birkin era dezoito anos mais nova que Gainsbourg e teve que insistir para "ganhar" o sujeito, usando de muita sedução. Depois de separada, permaneceu amiga de Gainsbourg até a morte deste.
A londrina Jane Mallory Birkin era dezoito anos mais nova que Gainsbourg e teve que insistir para “ganhar” o sujeito, usando de muita sedução: ele achava que ainda não estava “pronto” para um novo relacionamento, além de achá-la muito jovem.

Talvez decidido a exorcizar de vez Bardot de sua vida ou pressentindo que uma canção como Je T’Aime… não poderia viver “maldita”, Gainsbourg convenceu Jane a gravar uma nova versão da música com ele. Há quem diga que ela aceitou principalmente por temer que ele fizesse uma nova versão da canção com outra mulher. Birkin superou o ciúme que a canção lhe provocava e, como a ex de seu amado, se espremeu em uma cabine – que tinha mais ou menos o tamanho de uma cabine telefônica – com ele e ficou atenta às orientações do cantor.

“Antigamente, quando você ia gravar, só fazia duas gravações. Serge ficava levantando a mão – porque tinha muito medo de que eu continuasse com aqueles gemidos e sussuros dois segundos a mais do que deveria, e talvez perdesse a nota mais alta – que era muito, muito alta, uma oitava mais alta do que na gravação com Bardot.” – Jane Birkin –

A melodia simples (guitarra e órgão em destaque) extremamente cativante não evitou que o dono da gravadora ficasse receoso de lançar a canção. Ele pediu que Serge gravasse mais dez faixas para poder fazer um LP. O single com o dueto de Gainsbourg e Birkin, lançado em fevereiro de 1969, saiu com um aviso de que a letra seria imprópria para menores de 21 anos.

Gainsbourg e Birkin, mais uma vez provocando a sociedade
Gainsbourg e Birkin: os opostos se atraem ou ele era muuuuuuuuito bonito… por dentro.

A versão com Birkin, mais bem trabalhada, técnica, terminou se tornando a preferida dos fãs e do autor. A canção estourou pela Europa, mas foi proibida em alguns países, como a Itália (onde a canção foi reintroduzida disfarçada como se fossem discos de Maria Callas) e Polônia. Na Inglaterra, alcançou o topo das paradas e por lá ficou durante 34 semanas, até as rádios (capitaneadas pela BBC) banirem-na da programação em atendimento aos apelos de alguns ouvintes, que se sentiam incomodados principalmente com o final, onde Jane claramente simula um orgasmo… Realmente, se você é for frustrado sexualmente, ouvir outra pessoa chegando ao prazer deve ser mesmo muito ofensivo. No carola – e hipócrita – Estados Unidos, o máximo que Je T’Aime… chegou apenas a ficar entre as sessenta mais. Quanto ao Brasil, a música despertou curiosidade justamente por conta da reação extremada do Vaticano, que alardeou, em matérias da sua revista que era distribuída – em diversos idiomas – ao redor do mundo,  a “imoralidade” da música (dizem que o produtor que ousou lançar o single na Itália foi excomungado).

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O título da música (algo como “Eu te amo… eu também não”), segundo Serge, veio de uma suposta declaração de Salvador Dalí: “Picasso é espanhol. Eu também. Picasso é um gênio. Eu também. Picasso é comunista. Eu também (moi non plus)”.

Considerada, pelos fãs e entusiastas, “libertária”, “provocante” e “sexual”, Je T’Aime… foi defendida por seu autor como uma canção de amor. Ele chegou a chamá-la de “anti-foda”. Quanto aos rumores de que a canção teria sido gravada durante uma sessão real de sexo, ele foi irônico: “Ainda bem que não, pois do contrário acho que teria sido um LP”.

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Ela pode não ter sido a musa original, mas…

Aliás, esses rumores também atingiam a gravação original, com o disse-que-disse se espalhando dizendo que o real motivo de Bardot ter vetado a divulgação da sua versão é que esta, sim, teria sido gravada durante uma sessão de sexo. Bom, em 1986 a francesa finalmente liberou a divulgação da gravação. Veja abaixo e, se quiser, tire suas conclusões:

https://www.youtube.com/watch?v=v3nHpnhu8Ds

Alvo de inúmeras versões (as pessoas destacam a interpretada por Nick Cave e Anita Lane) e covers (gostei da feita por Madonna, mais pela performance teatral que pela vocal)  ao longo dos anos, Je T’Aime… Moi Non Plus é para mim uma canção… de amor. Amor verdadeiro, amor que vale à pena, amor edificante, amor realizado. Nada contra o romantismo antigo, mas o mesmo já foi objeto de escárnio em obras como Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes, centenas de anos atrás. Como cantou o grande Raul Seixas em Prelúdio, “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só”. Amar e não consumar este amor é como ter um livro que você acha que é fantástico, mas nunca abrir para comprovar. Que se louve o amor real, realizado, em detrimento da ilusão do que nunca veio a ser realmente.

 Amem, pô! Amem!

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

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