Ilumimiminerd: Lembranças de um Colecionador parte 1

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Mais de 30 anos lendo histórias em quadrinhos… Que desperdício alegria!

Tem gente que chama de exagero, mas a verdade é que comecei a gostar de quadrinhos antes mesmo de aprender a ler. Não sei por que as pessoas se surpreendem: com uma linguagem extremamente visual, cores chamativas e – no caso das primeiras coisas que meus pais me deram – claramente voltadas para crianças, nada mais normal que despertassem a minha curiosidade.

Além disso, já tinha um certo fascínio por livros e pela palavra escrita. Meus pais tinham uma enciclopédia daquelas publicadas em vários volumes, da letra A a Z, e eu estava sempre com alguns dos exemplares nas mãos. Passava horas a fio com um deles ou com alguma revista, olhando fixamente para as palavras, como se as estivesse lendo. Na verdade, eu estava intrigado com aquele estranho código que parecia estar me ocultando tantos segredos… E realmente estava!

Falando no que meus pais – na verdade, minha mãe – compravam, destaco dois títulos que eu simplesmente adorava. O primeiro era a revista dos Trapalhões, que levava para o papel o humor circense e politicamente incorreto do famoso programa de televisão.

Publicada de 1976 a 1987, a revista dos Trapalhões tinha como destaque as diversas paródias de histórias, filmes e personagens famosos (nun ca esqueci o hilário He-Gay, sátira de He-Man, com Didi no papel principal. Infelizmente, em 1988 a trupe - ou melhor, o senhor Renato Aragão - não renovou a licença, preferindo, segundo boatos da época, um acordo mais rendoso com a Editora Abril, que publicou uma versão infantil dos personagens.
Publicada de 1976 a 1987, a revista dos Trapalhões editada pela Bloch tinha como destaque as diversas paródias de histórias, filmes e personagens famosos (nunca esqueci o hilário He-Gay, sátira de He-Man, com Didi no papel principal). Infelizmente, em 1988 a trupe – ou melhor, o senhor Renato Aragão – não renovou a licença, preferindo, segundo boatos da época, um acordo mais rendoso com a Editora Abril, que publicou títulos com uma versão infantil dos humoristas.

O segundo era o inesquecível Pateta Faz História. Poucas séries da Disney, antes ou depois, foram tão visualmente engraçadas (começando pelas capas, como mostra a imagem abaixo). O elenco, o que o estúdio tinha de melhor (principalmente o Mickey, normalmente o “consertador” das trapalhadas do Pateta), era colocado em situações – e figurinos – diferentes dos costumeiros. O capricho no acabamento das paginas também chamava muito a atenção, com suas molduras diferenciadas e detalhes gráficos que traziam novas piadas paralelas à trama que era desenvolvida.

Pateta Faz História foi originalmente publicada - com este título - em seis edições em 1981. Antes, muitas das histórias já tinham sido publicadas como carro-chefe do engraçadíssimo Almanaque Disney. As melhores foram compiladas em um edição de Disney Especial - uma publicação que trazia um apanhado de histórias com o mesmo tema. E, em 2011, começou a ser publicada na íntegra, em uma coleção de luxo.
Pateta Faz História foi original e parcialmente publicada – com este título – em seis edições em 1981. Antes, estas histórias já tinham sido apresentadas como carro-chefe do engraçadíssimo Almanaque Disney. As melhores foram compiladas em um edição de Disney Especial – uma publicação que trazia um apanhado de histórias com o mesmo tema. E, em 2011, começou a ser publicada na íntegra, em uma coleção de luxo, em 20 edições.

Super-heróis não me interessavam. O único que achava visualmente interessante era o Batman, pela capa e máscara pontudas. Mas na televisão só lembrava de uma série chatinha onde ele tinha um telefone vermelho, um desenho simplório em que ele sempre deixava sua capa esvoaçando enquanto andava no batmóvel e a chatice que era Superamigos, onde ninguém – nem o Batman – dava porrada em ninguém (sim, eu já fui massavéio!). Parecia aula e eu não gostava da escola, onde sempre me sentia preso.

Meu pai era mecânico de máquinas pesadas e trabalhava para construtoras, passando longos períodos longe de casa. Numa das vezes que retornou, me trouxe uma revista que tinha comprado, que me chamou a atenção por ter um formato maior e um papel mais “duro” que o utilizado nas revistas que minha mãe comprava. O desenho também era diferente, mais “sério”, com monstros assustadores e um nome – eu não sabia qual – desenhado como se estivesse pegando fogo!

Lembro que eu estava ligeiramente febril e fiquei deitado com meu pai em uma rede, claro que com a revista nova nas mãos. Eu estava fazendo aquilo que era acostumado, concentrado nas palavras, passando os olhos sobre elas como se, de uma hora pra outra, aqueles símbolos pudessem começar a fazer sentido. Depois de perguntar se eu sabia ler – é sério, a minha concentração era tão grande que mesmo as pessoas da minha família acreditavam que eu tinha aprendido a ler sozinho – ele se ofereceu para ler a edição para mim. Meu pai leu a edição inteira em voz alta. Fiquei fascinado, principalmente pela rima que Demon – na verdade, aprendi anos depois, o Etrigan, uma das mais famosas criações de Jack O Rei Kirby para a DC – fazia para “se transformar” em humano. Também guardei este momento eternamente na memória, pois, como quase todo moleque na época, eu venerava meu pai que, infelizmente, trabalhava como mecânico de campo para construtoras, passando muito pouco tempo em casa. Ocasiões como essa, entendam, era raras. E ter meu pai cuidando de mim doente e lendo, pacientemente, uma revista para me distrair foi uma ocasião única.

A famosa edição com o "Demon", que trazia a história O Livro da Eternidade, com roteiro de Len Wein e arte de Michael Golden e - pigarro! - Steve Ditko, "apenas" o co-criador do Homem-Aranha, personagem do qual eu ficaria fã anos depois.
A famosa edição com o “Demon”, que trazia a história em quatro partes O Livro da Eternidade, com roteiro de Len Wein (criador do Monstro do Pântano e do Wolverine) e arte de Michael Golden e – pigarro! – Steve Ditko, “apenas” o co-criador do Homem-Aranha, personagem do qual eu ficaria fã anos depois.

Foi com essa experiência que pedi a minha mãe que me trouxesse “uma revista do Batman” parecida com aquela do “DemÔn” – sei lá por qual motivo eu passei anos pronunciando desta forma!. Mas esta história eu já contei em outro post.

Nenhuma destas revistas sobreviveu. Eu não era exatamente cuidadoso e, pra piorar, tinha dois irmãos menores sem um pingo de respeito pela propriedade alheia! Mas hoje, quando olho para a centenas de títuos da minha coleção, ainda me lembro das revistas que possuí e, infelizmente, nunca li realmente. Elas, de certa forma, fazem, sim, parte da minha coleção, pelo menos no meu coração!

Agradecimentos ao iluminerd Dr. Housyemberg Amorim, por ter encontrado a imagem com a capa da revista do “DemÔn”! 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 12 comentários

  1. Homem cinza sem pescoço

    Cara, esse é o tipo de texto que me da vontade de escrever sobre minha história com as HQs, parabéns. Em relação aos trapalhões, tinha uma historinha q eu ria mto, a da Nega Maravia.

        1. Homem cinza sem pescoço

          Potz, seria uma honra. Sempre tem história pra contar, dividirei uma com vocês!

          1. JJota

            Aguardando.

    1. JJota

      Cara, seria ótimo ver a suas aventuras (e desventuras, claro) com as HQs.

      Pena que hoje em dia é praticamente impossível que se peça uma republicação dessas histórias antigas dos Trapalhões, pois elas com certeza seriam consideradas racistas, homofóbicas e por aí vai…

      1. Homem cinza sem pescoço

        Gostaria de saber onde foram parar os desenhistas de HQs brasileiras principalmente desse período, anos 70,80. Se não me engano, quem desenhava os Trapalhões era o Bira Dantas, que por ironia hoje desenha para um partido politicamente correto.

        1. JJota

          Também tenho essa curiosidade. Uma boa parte desse pessoal ganhava a vida também produzindo quadrinhos eróticos (Helga & Barroso, lembra?), mas mesmo este mercado murchou nos anos 90.

          1. Homem cinza sem pescoço

            Acho q mtos daquela época hoje vivem de dar aulas. Tem um documentário no youtube feito pela extinta Manchete que fala um pouco desse período das HQs nacionais. Era aquele programa documento especial. Bem bacana o doc, mostra mto desenhista da época do udigrudi.

          2. JJota

            Será que é este:

            https://www.youtube.com/watch?v=yMBlifBOMvc

            É foda ver que, em 1989, era um “mercado em expansão” e o quadrinho nacional era considerado “avançado”.

            Se bem que era a época dos planos econômicos salvadores… Aquele confisco da poupança acabou com muita coisa na época…

          3. Homem cinza sem pescoço

            Sim, esse documentário mesmo. Ainda considero os quadrinhos brasileiros um dos melhores do mundo, mas é difícil competir com o marketing esmagador da Marvel/DC. Hoje minha relação com as majors é mais de memória afetiva, pois em questão de qualidade de roteiros acho q estamos melhores. Mas essa época dos anos 80 é uma das melhores.

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