Ilumimiminerd – Lembranças de um colecionador Parte 03 (O maldito formatinho!)

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Ou seja, tem uma Parte 01 e uma Parte 02.

Em 1998, conversando com o meu amigo Inacreditável Neo, não consegui disfarçar a surpresa ao ver que ele continuava fã de quadrinhos. O mais engraçado era que Neo detonava a maioria das histórias que estava lendo. Saí rindo, pensando no quanto uma pessoa tinha que ser louca pra continuar acompanhando algo que – claramente – detestava.

Grayson como Batman, até que Bruce retorna e adota um novo uniforme… E você aí achando o Morrison genial…

Alguns dias depois, Neo e Graciliano, outro amigo nosso, foram à minha casa, levando várias edições do Homem-Aranha e da Teia do Homem-Aranha (publicações da Abril) que o último colecionava (Neo não comprava nada, apesar de ainda estar a alguns anos de se tornar o pudim de cachaça – ops! agora ele toma viiiiiinho – que todos conhecemos). Conversamos muito, mas realmente não me senti atraído pelo que estava folheando, apesar de ter visto um traço que me agradou, por lembrar o do Frank Miller dos tempos de Demolidor: era o novo estilo (para mim, que há anos, desde Homem de Ferro, não via seu trabalho) de John Romita Jr.

Algumas edições soltas adquiridas ao longo dos anos. Sabe como é, você vai na banca diariamente, nunca tem nenhuma das coisas que quer, um dia termina pegando qualquer coisa e leva e… faz o mesmo no dia seguinte… e depois…

E peguei pra ler. Trancado no quarto, claro. Minha namorada na época tinha me apresentado a literatura russa e não queria que ela ou outra pessoa me flagrasse com “coisas infantis”. Fui olhando, desinteressado no começo, um pouco interessado no meio, muito interessado no fim. Enrolei alguns dias para devolver as revistas: algumas história mereciam uma segunda leitura, mais atenta. E não é que aquele tal de “Continua na próxima edição” não era tão ruim? E assim se passaram alguns… meses.

Mais coisas adquiridas ao longo dos anos, aleatoriamente, normalmente passando em bancas desconhecidas. Esta com o VERDADEIRO CAPITÃO MARVEL, por exemplo, eu comprei na banca do Aeroporto Pinto Martins, enquanto esperava uma amiga que vinha do Paraná.

Quando finalmente fui à casa do Inacreditável devolver as revistas, encontrei o dono das mesmas. Tentei fazer um ar de pouco interesse, mas minha fachada caiu quando perguntei: “O que mais vocês tem aí?” Não era muita coisa, a maioria edições soltas, mas me segurou por uns dias. Eu até poderia ter ficado confortável naquela relação meio parasitária, lendo as histórias emprestadas pelo Graciliano, mas este começou a beber, sair, namorar e, claro, resolveu parar com sua coleção. Pior (ou melhor, dependendo do ponto de vista): vendeu tudo – fiado! – para o Neo (não me perguntem se algum dia ele pagou). Além disso, mesmo gostando muito do Homem-Aranha, eu comecei a me perguntar como andava Gotham City nestes anos em que estive distante. Juntando tudo, tomei uma decisão: fui à uma banca de revistas para comprar quadrinhos, muitos anos depois de ter feito isto pela última vez, quando ainda era acompanhado pela minha mãe.

Dois grandes momentos do Wolverine em formatinho. Essa capa “vazada” era muito legal e começava uma trama interessante que, infelizmente, se tornou confusa demais à medida que se arrastava mês após mês. A morte da Mariko merecia um tratamento melhor, desde não usar na capa o título “Morte em Família” (excessivamente relacionado ao Batman), como escolher uma capa com desenhos menos… anatomicamente exagerados (só o pescoço do Logan ali tem mais músculos do que eu no meu corpo inteiro!).

Ia do trabalho para a faculdade e parei na banca mais próxima da minha casa. O dono, o fantástico Vicente, me recebeu bem, demonstrando logo que não entendia absolutamente nada sobre o teor do que vendia, mas tudo de atendimento. Quando perguntei se tinha alguma coisa do Batman, pegou na prateleira três revistas e me entregou. Obviamente, eram formatinhos (embora já naquela fase em que eles tinham “crescido” um pouco: de 13,5cmx19cm para 13,5cmx20,5cm). Mas era uma época em que praticamente só se publicava assim, ficando o chamado “formato americano” (17cmx26cm) para edições muito especiais e o tal “magazine” (21cmX27,5cm) para coisas “diferentes”, como A Espada Selvagem de Conan, Chiclete com Banana ou Aventura & Ficção. As revistas eram Batman (5ª série) 27 e 28 e Batman – Vigilantes de Gotham 28.

As três primeiras edições da minha coleção. Não tem dinheiro no mundo que as separem de mim.

Estranhei o novo uniforme do Batman (claramente inspirado no visual adotado nos filmes de Tim Burton, preto e com a ridícula elipse amarela). Mas até gostei do tom adotado, um pouco mais “sério” do que me lembrava de minhas últimas experiências com formatinhos do Vigilante de Gotham. Claro, achei a impressão ruim, escura, mas era o que tinha na época: o formatinho era a “cara” das hqs no Brasil.

Não facilitava mesmo colecionar quando até o infame formatinho mudava suas dimensões. Aliás, a completa falta de padronização no tamanho das hqs é algo que perturba o mercado brasileiro até hoje, com cada editora adotando o que mais lhe convém (às vezes, escolhendo mais de um). Outro problema antigo e nunca resolvido à contento – estou aqui falando de títulos mensais – é a impressão, que sofre com a baixa qualidade do papel.Revistas com tons escuros ou arte digital, principalmente, ficam terríveis quando impressas no tal pisa brite. Nos tempos do formatinho, eu tinha a sensação de que a impressão (principalmente em cores mais claras, como amarelo) ia sumindo aos poucos, como se o papel “descascasse”.

Continuei indo a banca todos os dias. Como não tinha muita coisa do Batman além das que já estava comprando, resolvi escolher um título da Marvel. Lembrei do desenho dos X-Men e comprei Wolverine 89. Soco na cara: ele não tinha mais ossos inquebráveis! Quanta coisa eu tinha perdido… Era óbvio que eu precisava superar esta deficiência. Então, enquanto comprava estas três mensais religiosamente na banca do Vicente, passei a vasculhar os sebos do Centro em busca das edições antigas que eu tinha perdido. Era uma época diferente, onde você conseguia coisas por preços como R$ 0,50 e o número 1 do Wolverine por R$ 5,00.  Por isso, cada ida ao Centro rendia algo em torno de 15 ou 20 novas edições. Era chegar da faculdade e trocar horas de sono (preciosas para quem trabalhava o dia inteiro e estudava à noite) por atualização no mundo super-heróico. Batman mudou de uniforme quando retornou a Gotham depois de um período afastado e retomou o posto, adotando um visual mais agressivo. Logan teve seu adamantium extraído por Magneto (e eu bati todas as bancas e lojas até encontrar X-Men Gigante 2 e ver como foi que isso aconteceu). Em pouco tempo eu fiz minha primeira contagem e tinha cerca de 80 revistinhas no meu armário… Eu era um colecionador!

Wolverine 1 com capa riscada e tudo, comprada em sebo pelo preço de R$ 5,00. Sim, era um absurdo gastar tanto assim numa hq naquela época, ainda mais usada, mas… Velho, aquele “edição de colecionador” impresso na capa já fazia efeito! Por curiosidade, ao lado coloquei Wolverine 100, onde podemos ver uma reinterpretação atualizada da capa do número 1, já com o uniforme amarelo com ombreiras e garras de osso.

Eu estabeleci alguns padrões. Nada de “séries antigas”, já canceladas. Foco só no que vinha sendo publicado. Não saí comprando coisas como Batman & Liga da Justiça, por exemplo. Um pouco pela dificuldade que seria completar este tipo de coleção (até hoje não completei os formatinhos que comecei naquela época, imagine estes mais antigos), um pouco por serem mixes confusos e com histórias pouco atrativas. E, claro, também um pouco porque hqs muito velhas compradas em sebos tem um cheiro horrível!

Para o pessoal que curte cronologia, podemos dizer que meu “ponto inicial” em Batman (e, portanto, no Universo DC) foi Zero Hora, um daqueles eventos que tentou consertar os furos que Crise nas Infinitas Terras deixou na continuidade. Não lembrou? Bom, e se eu disser que foi aquela mini – publicada pela Abril em 1996 – que um monte de bocó pegou pra ler e não entendeu nada porque não prestou atenção que a numeração era regressiva e, em vez de ler do número 4 para o 0, leu do 0 para o 4? Ah, lembrou? Pois é, todos títulos lançados após Zero Hora saíram com numeração a partir do… 0. A Abril gostou e fez a mesma coisa aqui!

Pelos mesmos motivos, não quis comprar X-Men, exceto algumas edições pontuais que “dialogavam” com alguma coisa que estivesse se passando em Wolverine. Só pra ilustrar, quando comprei a edição 89 do Wolverine, X-Men já ia na 124… Bom, também tinha os lances do Ciclope ter se tornado um personagem execrável e do roteirista ser o péssimo Scott Lobdell.

Olha o valor das mega-sagas: tive que comprar duas edições dos X-Men porque completavam a história que vinha sendo contada em Wolverine.

(Mas devo dizer que, depois de comprar uma coleção de fitas vhs com o desenho animado do Spawn que vinha com as primeiras edições da revista dele – Spawn Collection, que voltou para as bancas entre 1999 e 2000 -, eu comecei a comprar a mensal do personagem. Só parei em 2002, pois percebi que a trajetória do Soldado do Inferno tinha acabado na centésima edição – e porque o Angel Medina é um desenhista MUITO ruim. Nesse meio tempo, claro, comprei todas as edições de A Maldição do Spawn também… Não, não tenho nenhuma vergonha disso, os parênteses servem apenas para destacar que estas revistas, especificamente, eram em formato americano, com papel de qualidade superior, portanto fora do tema deste post, ok?).

Algumas sagas que saíram nas revistas do Morcego nesta época: Contágio, Terremoto, DC Um Milhão e Terra de Ninguém! Nada realmente muito instigante, pois o resultado era variável, o que era compreensível, visto que várias equipes criativas trabalhavam com o mesmo enredo.Uma coisa que reparei era que os roteiristas do Batman tratavam Gotham City tão mal quanto os roteiristas do Homem-Aranha tratavam o Peter Parker!

No Centro de Fortaleza tinha muitas bancas e pelo menos duas “lojas” especializadas que trabalhavam com edições antigas a preços bem camaradas. Nestas andanças, além de comprar edições antigas das coleções que tinha começado, adquiria coisas pontuais, como a mini de Crise nas Infinitas Terras, A Morte do Superman (e também Funeral para um Amigo, Superman Além da Morte e O Retorno do Superman – que, aliás, ainda era chamado de Super-Homem, mas eu preferia o nome utilizado nos títulos dos filmes), algumas edições especiais de Grandes Heróis Marvel, uma ou outra Melhores do Mundo… Tudo formatinho, claro. Infelizmente, muito disso vocês não verão aqui em imagens porque me desfiz de boa parte deste material, depois que comprei as mesmas histórias em Edições Definitivas. Não, não vendi nenhuma: todas foram presenteadas para amigos ou filhos de amigos. Sabe como é, plantando os possíveis colecionadores de amanhã…

Olha como eram os “encadernados” nos tempos da Abril… Essa Massacre de Mutantes eu roubei do primo do Inacreditável Neo, com a colaboração dele!

Não sei se deu pra perceber, mas sempre fui crítico do formatinho. Sendo bem honesto, nunca ouvi das pessoas que o defendiam nenhum argumento sólido fora “preço”. Quando, no meio de 2000, Neo me avisou que a Abril iria relançar seus títulos em formato americano, 160 páginas e papel melhor, pensei logo na relação custo e vislumbrei a possibilidade de “amadurecer” novamente e parar com este vício em quadrinhos… Mas não foi bem isso que aconteceu, como veremos depois.

Na sua luta contra a Marvel/Panini, a DC/Abril tentou de tudo, desde a publicação desta mini em formatinho, mas com papel de melhor qualidade, como a republicação de alguns clássicos, em formato americano (mas capa mole), como O Cavaleiro das Trevas e Batman – Ano Um.

Em 2002, a Abril – que já tinha perdido a licença para publicar os títulos da Marvel e vinha sendo surrada pela Panini, a nova licenciadora dos heróis “apresentados por Stan Lee”) – apelou para uma estratégia arriscada, mais uma vez focando no preço, e cancelou a linha Premium, com uma ode de amor canalha ao formatinho (“o formato consagrado entre os leitores brasileiros desde sempre”, disseram), lançando vários novos títulos, com 50 páginas, 13,5×20,5 e papel inferior. Cinco meses depois, a editora brasileira jogou a toalha de vez e parou toda a publicação de super-heróis (exceto – acreditem! – Spawn). Por alguns meses, vivi um pesadelo: o Batman – assim como todo o Universo DC – estava fora das bancas pela primeira vez em anos!

Os formatinhos do Batman da malfadada Planeta DC. Mesmo as capas exclusivas não conseguiram despertar o interesse dos leitores, muito por causa do papel triste que faziam nas bancas quando colocadas ao lado dos luxuosos títulos em formato álbum e capa cartonada da Marvel publicados pela Panini.

Bom, é isso. Todas as imagens neste post são pessoais, tiradas da minha própria coleção, atendendo ao pedido de alguns amigos. Mais à frente, voltaremos com esta série, falando do formato Premium e da chegada da Panini ao mercado e… Bom, de como comecei a ficar pobre!

Pra terminar, olha aí a capa da última edição do Wolverine pela Abril em formatinho! Sim, o Logan, SEM ADAMANTIUM, enfrentando nada mais, nada menos que Galactus, o Devorador de Mundos! E você, mais jovem, fica de mimimi porque o Batman do Jeph Loeb deu um soco no Darkseid

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 6 comentários

  1. Glaydson Melo

    Excelente Post, JJota! Fortaleza, Sdds… Onde moro agora não tem nenhuma “loja” especializada, buahh!

    1. JJota

      Onde estou hoje, também não… Aliás, nem banca tem!

  2. Inacreditavel_Neo

    Ok… vamos lá:

    1 – Voltei a beber cerveja. Não dispenso vinho também.

    2 – Tenho certeza que tem umas coisas minhas nas fotos, como a Melhores do Mundo que tem o filho do Sandman.

    3 – Graciliano não vendeu as revistas do Aranha pra mim. Só pediu pra guardar. Depois de quase vinte anos, ainda tão aqui, num daqueles baldes grandes de botar roupa suja.

    1. JJota

      1 – Pelo visto, seu fígado recuperou-se nos últimos meses (embora eu ache que nem fator de cura nível Wolverine anos 90 dá conta desse serviço). E você nem citou a vodka, uísque, a caipirinha, o álcool de farmácia… Mas tudo bem, eu não confio em sua memória carcomida pelos anos de abuso sexual de álcool!

      2 (1) – Respondo depois que responder a 3;

      3 – A versão da venda foi dele! Você disse que ele queria vender e insistiu que eu comprasse, eu fiquei relutando, aí ele chegou e disse que tinha vendido pra você. Fico com a versão dele da época: não confio em sua memória carcomida pelos anos de abuso sexual de álcool!

      2 (2) – Ué, você não pediu pra mim “guardar”? Falando sério, a Melhores do Mundo é minha mesmo, foi a única que eu comprei. Já a X-Men 77 (que nem lembro de tr lido, mas é X-Men, né?) eu não tenho certeza se você me emprestou… Mas não roubei nada de você: do Júnior, teu primo, sim, mas deixa o assunto morrer (até porque você foi cúmplice). Ah, e não confio em sua memória carcomida pelos anos de abuso homossexual de álcool!

  3. Mutango 2099

    Maldito? pra quem?
    Tem leitor que se preocupa com a gourmetização das revistas, a “qualidade do material” outros não tão nem aí pra isso até porque sabem conservar.
    Vejo uma crítica desmedida ao formatinho, sendo que ele merece o mínimo de respeito, pois foi graças a ele que muitos tiveram acesso e muitas sagas marcantes foram trazidas ao Brasil.
    Acho inclusive que as editoras, deveriam fazer uma votação para escolherem opções de formato, pois as revistas estão cada vez mais caras, com menos páginas e mais cheias de frescura.
    O que eu quero dizer que é no fim tudo é questão de gosto e prioridade pessoal.

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