Ilumimiminerd – Batman, a importância

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Não, eu nunca quis ser um Robin!

Eu nem sabia ler e já gostava de quadrinhos. Minha mãe sempre me comprava aquelas edições da Disney e eu ficava tão concentrado estudando cada quadro que as pessoas que observavam pensavam que eu sabia ler. O Batman já existia pra mim, e não pela série dos anos 60 (que eu só vim prestar atenção mesmo quando foi reprisada no SBT, alguns anos depois, e fiquei decepcionado para toda a vida com tanta breguice e frescura). Eu conhecia o Batman por um desenho animado bem nhé, coincidentemente baseado na infame série, mas do qual até hoje me lembro por causa da… capa que ficava esvoaçando sempre que o Batman guiava o batmóvel!

Cartaz do desenho dos anos 60, com o infame Batmirim. Realmente, foi o uniforme a primeira coisa que me chamou a atenção: gostava da capa imitando asas de morcego e do capuz que cobria boa parte do rosto (detesto até hoje essas máscaras simples, que cobrem apenas os olhos... Até o Zorro pra mim só era Zorro quando ele usava aquela versão da máscara que cobria os cabelos dele). O comedimento nas cores também ajudava, pois detestava super-heróis coloridos demais. Superamigos nunca me chamou muita atenção, pois o Batman tinha um papel ínfimo nas histórias, nunca batia em ninguém e tinha como fala principal um idiota "Por Gotham!"
Cartaz do desenho dos anos 70, com o infame Batmirim. Realmente, foi o uniforme a primeira coisa que me chamou a atenção: gostava da capa imitando asas de morcego e do capuz que cobria boa parte do rosto (detesto até hoje essas máscaras simples, que cobrem apenas os olhos… Até o Zorro pra mim só era Zorro quando ele usava aquela versão da máscara que cobria os cabelos). O comedimento nas cores também ajudava, pois nunca gostei de super-heróis coloridos demais. Já o desenhos dos Superamigos nunca me chamou muita atenção, pois o Batman tinha um papel ínfimo nas histórias, nunca batia em ninguém e tinha como fala principal um idiota “Por Gotham!”

Um dia eu pedi a minha mãe que comprasse uma revista do Batman e ela trouxe. Não foi a primeira revista da DC que eu ganhei na minha vida. Esta “honra” pertence a uma edição que saiu com o Etrigan que meu pai comprou em uma viagem e me deu (só pra constar: minha primeira edição Marvel foi, claro, uma Superaventuras Marvel, ou SAM para quem é velho e lembra dessa época, com suas seções de cartas). Ainda assim, a do Batman que minha mãe trouxe me deixou embasbacado: o super-herói espirituoso e sorridente do desenho animado estava deitado em um caixão, morto. Sim, minha primeira revista do meu futuro personagem preferido foi A Morte de Batman, lançado pela Ebal. O roteiro era de Paul Levitz, o lápis de Joe Staton e a arte-final de Dick Giordano.

Claro que eu sequer fazia ideia que aquele era o Batman "original", que havia sido relegado a uma tal Terra Paralela (que o "outro" Batman, o do Terra Ativa, continuava vivo e bem). Até hoje penso que o efeito desta revista pra mim foi um dos motivos que me fez dar mais importância a "humanidade" do Batman do que mairoia dos outros fãs do personagem. Quando a Abril publicava "fichas" dos personagens no fim de suas revistas, eu sempre lia a do Batman da Terra Paralela com um nó na garganta quando chegava na última frase, que dizia que ele havia "perdido a vida" defendendo Gotham de um criminoso super-poderoso. Visualmente, esta edição marcou porque daí em diante nunca mais consegui gostar da elipse amarela ao redor do símbolo do morcego. Infelizmente, esta edição sumiu quando viajei de férias... Ter irmãos mais novos não é uma boa pedida para um futuro colecionador de quadrinhos.
Claro que eu sequer fazia ideia que aquele era o Batman “original”, que havia sido relegado a uma tal Terra Paralela (enquanto o “outro” Batman, o da Terra Ativa, continuava vivo e bem). Creio que boa parte da importância que dou a “humanidade” do Defensor de Gotham se deve a esta história. Quando a Abril publicava “fichas” dos personagens no fim de suas revistas, eu sempre lia a do Batman da Terra Paralela com um nó na garganta quando chegava na última frase, que dizia que ele havia “perdido a vida” defendendo Gotham de um criminoso super-poderoso. Visualmente, esta edição foi marcante porque daí em diante nunca mais consegui gostar da elipse amarela ao redor do símbolo do morcego. Infelizmente, esta edição sumiu quando viajei de férias… Ter irmãos mais novos não é uma boa pedida para um futuro colecionador de quadrinhos. Alguém republique isso, por favor! É sério, vocês encadernam até as histórias do Morrison (em que o Batman nem morre de verdade), por que ignorar esta?

Eu aprendi a ler, mas aí caí naquela fase complicada em que os pais acham que revistas em quadrinhos e televisão servem apenas para roubar o tempo precioso que deveria ser gasto estudando. Mesmo assim, de vez em quando, minha mãe atendia ao meu apelo para que comprasse “alguma coisa do Batman”. Certo dia, quando caminhávamos no Centro de Fortaleza, ela me pediu para escolher uma na banca. Meus olhos se fixaram imediatamente em uma edição que tinha um Batman fortão sorrindo, mas sorrindo de maneira perversa. Acostumado a ler apenas os formatinhos que alguns amigos emprestavam (onde, quase sempre, tínhamos o Batman do Neal Adams ou do Jim Aparo, que sempre desenhavam o personagem mais esguio), ver aquela edição em formato americano e papel de qualidade foi fatal: mesmo achando cara, minha mãe comprou. Eu estava levando para casa o número 2 (“O Morcego Triunfa”) da primeira publicação da Abril de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller (com arte-final de Klaus Janson e cores de Lynn Varley). Pela primeira vez na minha vida, eu queria ter uma série completa!

Capas da primeira publicação da mini O Cavaleiro das Trevas no Brasil. Como comecei pelo número 2, fiquei maluco: eu não fazia ideia do motivo do Batman estar tão velho nem do Robin ser uma garota! E levei muito tempo pra descobrir tudo: depois comprei a edição 3 e a 4, mas só consegui a 1 muito tempo depois, graças a um amigo que viu uma edição usada (sem capa) e trouxe pra mim. Ainda tenho estas edições comigo, além da republicação da Abril em duas edições e da Edição Definitiva da Panini. É, seguramente, a HQ que mais li em toda a minha vida e a melhor história do Batman de todos os tempos, na minha opinião.
Capas da primeira publicação da mini O Cavaleiro das Trevas no Brasil. Como comecei pelo número 2, fiquei maluco: eu não fazia ideia do motivo do Batman estar tão velho nem do Robin ser uma garota! E levei muito tempo pra descobrir: comprei as edições 3 e a 4, mas só consegui a 1 muito tempo depois, graças a um amigo que viu uma edição usada (sem capa) e trouxe pra mim. Ainda tenho estas edições comigo, além da republicação da Abril em duas edições e da Edição Definitiva da Panini. É, seguramente, a HQ que mais li em toda a minha vida e a melhor história do Batman de todos os tempos, na minha opinião. Frank Miller, desde então, também se tornou um ídolo pra mim.

Noutra viagem, ganhei uma edição encadernada que trazia Morte em Família (que aqui saiu primeiro com o título A Morte de Robin na capa). Essa história merecia muito mais destaque do que o que teve no decorrer dos anos. O texto de Jim Starlin está afiado e a arte não poderia mesmo não estar a cargo de Jim Aparo (arte-finalizado por Mike DeCarlo). A “ressurreição” de Jason Todd (que, na minha opinião, rendeu apenas um bom longa animado) tirou o resto da força deste arco.

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Nunca gostei do Robin, nem como conceito (é ou não é completamente absurdo que o Batman combata o crime ao lado de uma criança/adolescente?). De todos, o mais detestável sempre foi Jason Todd, criado pra ser rebelde e nervosinho, mas nunca foi nada além de um moleque chato. Vê-lo morrer, sinto dizer, foi muito, muito prazeroso.

Colecionar Batman naquele tempo era complicado… A Abril gostava de colocar as histórias do Morcego espalhadas em vários títulos. O mix dos títulos também era um terror: mesmo a revista tendo o nome do Morcego na capa, o miolo trazia histórias de personagens sem nenhuma ligação com o mesmo. Até que, já nos anos 90, depois do evento conhecido como Zero Hora, a Abril organizou um pouco as coisas, lançando dois títulos: Batman e Batman – Vigilantes de Gotham. Finalmente, as revistas do personagem traziam apenas histórias dele ou de outros diretamente ligados a ele, como Robin e Batgirl. Isso se manteve durante a Linha Super-Heróis Premium e foi seguido pela Panini.

A Linha Super-Heróis Premium não foi uma época ruim pra mim. Apesar do preço salgado, era bom ter mais de 160 páginas do Batman e seus asseclas, com papel de qualidade, formato americano e capa cartonada. Outra coisa bacana era que a Abril costumava publicar arcos inteiros em um mesmo número, ajudando muito na catalogação.
A Linha Super-Heróis Premium não foi uma época ruim… pra mim. Apesar do preço salgado, era bom ter mais de 160 páginas do Batman e seus asseclas, com papel de qualidade, formato americano e capa cartonada. Outra coisa bacana era que a Abril costumava publicar arcos inteiros em um mesmo número, ajudando muito na catalogação.

E assim os anos foram passando. Fases boas, fases ruins, títulos derivados que valiam muito a pena (Gotham Central) e outros completamente dispensáveis (Asa Noturna, Robin, Batwoman…). Contágio achei chata, Terremoto e Terra de Ninguém extensas demais, Bruce Wayne Assassino muito boa e Silêncio valeu o investimento. Várias vezes pensei em abandonar os títulos mensais, mas sempre que chegava na banca eu sabia que tinha que comprar… até começar o fim de tudo, com a chegada de Morrison e dos Novos 52. Depois de doze edições com bobagens pouco inspiradas, ridículas e até ofensivas escritas por Tony Daniel, Scott Snyder e Grant Corporação Batman Morrison, eu desisti.

Não há palavras para descrever tamanho lixo!
Não há palavras para descrever tamanho lixo!

Hoje venho investindo em encadernados, sempre à espreita para ver alguma história do Morcego que valha a pena ter em separado, numa edição mais luxuosa. Na verdade, venho fazendo isso com todo o Universo DC. É triste observar uma editora com tantos grandes momentos ser reduzida a uma mera caricatura de si mesma (e não vão achando que a Marvel está lá essas coisas… ).

Também venho me dedicando a ter nas minhas coleções algumas interpretações do Batman em outras mídias, principalmente nos excelentes desenhos animados produzidos pela equipe comandada por Bruce Timm. Obviamente, detestei The Batman (o que tem um Coringa com dreads). Este último projeto, feito em animação por computador, é lixo puro. Tem que ter muita má vontade com o personagem pra gostar daquilo.
Também venho me dedicando a ter nas minhas coleções algumas interpretações do Batman em outras mídias, principalmente nos excelentes desenhos animados produzidos pela equipe comandada por Bruce Timm.

Vou continuar fã do personagem, ainda que insistam em torná-lo uma mera caricatura do que já foi (embora tenha a convicção – ou esperança? – de que isto não vai durar, vez que o mercado de quadrinhos vive de altos e baixos e, espero, este seja um período de baixa). Pelo visual, pela origem, pelo histórico… Mas, principalmente, pelo que ele representa. Batman é mais do que uma interpretação do nível a que o ser humano pode alcançar com extrema dedicação. Eu vejo nele alguém que não se acomodou na fragilidade para não fazer nada. Sem poderes especiais, sem uma armadura de aço ou um anel do poder, ele mesmo assim foi em frente. Vejo alguém que se recusou a cruzar os braços diante da tragédia ou usá-la pra justificar seus próprios erros (reparem: o mundo está cheio de gente que faz o contrário). O Batman, até mais do que a ideia de sacrifício, sempre me passou a de responsabilidade.  Dedicação, responsabilidade e honestidade são coisas em que eu tento pautar a minha vida. Entre tantas pessoas a quem eu agradeço por isto e a quem eu me orgulho de chamar de exemplo, há um personagem fictício: o velho Morcego de capa preta e olhos tristes, vigiando sua cidade chuvosa escondido nas sombras. Obrigado, Batman.

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“Às vezes, a verdade não é boa o bastante. Às vezes, as pessoas merecem mais. Às vezes, elas merecem ter a sua fé recompensada.”

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 8 comentários

  1. Cavaleiro das Trevas também foi a primeira revista do Batman que eu tive, Jota! hehehe! Na época da primeira publicação nas bancas, pela Editora Abril, meu pai me deu a nº 3. Nos meses seguintes comprei a 2 e a 4 e só fui conseguir o nº 1 num sebo, muitos anos depois.

    A primeiríssima revista de quadrinhos que tive foi um Homem-Aranha nº 43, da RGE, com uma história de detetive, em que o Homem-Aranha e o Nova se reunem para investigar um assassinato promovido pelo vilão Photon. Assim como a sua primeira revista foi uma edição do Batman, e te marcou como um decenauta, essa minha primeira revista marcou o início da minha enorme adoração pelo Homem-Aranha (que é o personagem do qual tenho o maior número de hqs – incluindo a nº 1, da Abril), e da minha vida de Marvete. hahahaaha

    Excelente post, cara! Não à toa foi o escolhido pra fechar com chave de ouro a Semana Batman.

    1. JJota

      Cara, nostalgia é foda…

      E fiquei muito feliz de ver este post publicado no dia do meu aniversário.

  2. André Navarro

    Post foda. Meu primeiro comic do Batman foi um Brave n The Bold dele com o Sgt Rock, contra a gangue dos traficantes de armas. Jim Aparo no auge. Depois veio a perola ” A legenda de Batman”…aí danou-se..tive que comprar tudo.

    1. JJota

      O que me azucrina a cabeça é existir tanto material foda do Batman e ficar vendo a Panini republicando em encadernados de luxo a fase do Morrison…

      1. É verdade. Acho que o critério tem mais a ver com tendências mercadológicas e de marketing (o autor ainda está vivo e há uma tendência maior a se valorizar esse cara, que acaba valorizando a editora, por tabela) do que de mérito ou qualidade dos trabalhos, mesmo…

        1. JJota

          Sinceramente, acho uma estratégia errada por um motivo básico, além, claro, de serem histórias ruins: tudo isso que vem sendo republicado tem muito pouco tempo que saiu no título mensal! Bicho, isso eu chamo de desvalorizar tremendamente o verme que vai todos os meses na banca gastar seu dinheiro em um mix mequetrefe que, às vezes, tem uma história boa em três. Depois a editora reclama que o título tal tem vendas baixas…

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