Não, eu nunca quis ser um Robin!
Eu nem sabia ler e já gostava de quadrinhos. Minha mãe sempre me comprava aquelas edições da Disney e eu ficava tão concentrado estudando cada quadro que as pessoas que observavam pensavam que eu sabia ler. O Batman já existia pra mim, e não pela série dos anos 60 (que eu só vim prestar atenção mesmo quando foi reprisada no SBT, alguns anos depois, e fiquei decepcionado para toda a vida com tanta breguice e frescura). Eu conhecia o Batman por um desenho animado bem nhé, coincidentemente baseado na infame série, mas do qual até hoje me lembro por causa da… capa que ficava esvoaçando sempre que o Batman guiava o batmóvel!
Um dia eu pedi a minha mãe que comprasse uma revista do Batman e ela trouxe. Não foi a primeira revista da DC que eu ganhei na minha vida. Esta “honra” pertence a uma edição que saiu com o Etrigan que meu pai comprou em uma viagem e me deu (só pra constar: minha primeira edição Marvel foi, claro, uma Superaventuras Marvel, ou SAM para quem é velho e lembra dessa época, com suas seções de cartas). Ainda assim, a do Batman que minha mãe trouxe me deixou embasbacado: o super-herói espirituoso e sorridente do desenho animado estava deitado em um caixão, morto. Sim, minha primeira revista do meu futuro personagem preferido foi A Morte de Batman, lançado pela Ebal. O roteiro era de Paul Levitz, o lápis de Joe Staton e a arte-final de Dick Giordano.
Eu aprendi a ler, mas aí caí naquela fase complicada em que os pais acham que revistas em quadrinhos e televisão servem apenas para roubar o tempo precioso que deveria ser gasto estudando. Mesmo assim, de vez em quando, minha mãe atendia ao meu apelo para que comprasse “alguma coisa do Batman”. Certo dia, quando caminhávamos no Centro de Fortaleza, ela me pediu para escolher uma na banca. Meus olhos se fixaram imediatamente em uma edição que tinha um Batman fortão sorrindo, mas sorrindo de maneira perversa. Acostumado a ler apenas os formatinhos que alguns amigos emprestavam (onde, quase sempre, tínhamos o Batman do Neal Adams ou do Jim Aparo, que sempre desenhavam o personagem mais esguio), ver aquela edição em formato americano e papel de qualidade foi fatal: mesmo achando cara, minha mãe comprou. Eu estava levando para casa o número 2 (“O Morcego Triunfa”) da primeira publicação da Abril de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller (com arte-final de Klaus Janson e cores de Lynn Varley). Pela primeira vez na minha vida, eu queria ter uma série completa!
Noutra viagem, ganhei uma edição encadernada que trazia Morte em Família (que aqui saiu primeiro com o título A Morte de Robin na capa). Essa história merecia muito mais destaque do que o que teve no decorrer dos anos. O texto de Jim Starlin está afiado e a arte não poderia mesmo não estar a cargo de Jim Aparo (arte-finalizado por Mike DeCarlo). A “ressurreição” de Jason Todd (que, na minha opinião, rendeu apenas um bom longa animado) tirou o resto da força deste arco.
Colecionar Batman naquele tempo era complicado… A Abril gostava de colocar as histórias do Morcego espalhadas em vários títulos. O mix dos títulos também era um terror: mesmo a revista tendo o nome do Morcego na capa, o miolo trazia histórias de personagens sem nenhuma ligação com o mesmo. Até que, já nos anos 90, depois do evento conhecido como Zero Hora, a Abril organizou um pouco as coisas, lançando dois títulos: Batman e Batman – Vigilantes de Gotham. Finalmente, as revistas do personagem traziam apenas histórias dele ou de outros diretamente ligados a ele, como Robin e Batgirl. Isso se manteve durante a Linha Super-Heróis Premium e foi seguido pela Panini.
E assim os anos foram passando. Fases boas, fases ruins, títulos derivados que valiam muito a pena (Gotham Central) e outros completamente dispensáveis (Asa Noturna, Robin, Batwoman…). Contágio achei chata, Terremoto e Terra de Ninguém extensas demais, Bruce Wayne Assassino muito boa e Silêncio valeu o investimento. Várias vezes pensei em abandonar os títulos mensais, mas sempre que chegava na banca eu sabia que tinha que comprar… até começar o fim de tudo, com a chegada de Morrison e dos Novos 52. Depois de doze edições com bobagens pouco inspiradas, ridículas e até ofensivas escritas por Tony Daniel, Scott Snyder e Grant Corporação Batman Morrison, eu desisti.
Hoje venho investindo em encadernados, sempre à espreita para ver alguma história do Morcego que valha a pena ter em separado, numa edição mais luxuosa. Na verdade, venho fazendo isso com todo o Universo DC. É triste observar uma editora com tantos grandes momentos ser reduzida a uma mera caricatura de si mesma (e não vão achando que a Marvel está lá essas coisas… ).
Vou continuar fã do personagem, ainda que insistam em torná-lo uma mera caricatura do que já foi (embora tenha a convicção – ou esperança? – de que isto não vai durar, vez que o mercado de quadrinhos vive de altos e baixos e, espero, este seja um período de baixa). Pelo visual, pela origem, pelo histórico… Mas, principalmente, pelo que ele representa. Batman é mais do que uma interpretação do nível a que o ser humano pode alcançar com extrema dedicação. Eu vejo nele alguém que não se acomodou na fragilidade para não fazer nada. Sem poderes especiais, sem uma armadura de aço ou um anel do poder, ele mesmo assim foi em frente. Vejo alguém que se recusou a cruzar os braços diante da tragédia ou usá-la pra justificar seus próprios erros (reparem: o mundo está cheio de gente que faz o contrário). O Batman, até mais do que a ideia de sacrifício, sempre me passou a de responsabilidade. Dedicação, responsabilidade e honestidade são coisas em que eu tento pautar a minha vida. Entre tantas pessoas a quem eu agradeço por isto e a quem eu me orgulho de chamar de exemplo, há um personagem fictício: o velho Morcego de capa preta e olhos tristes, vigiando sua cidade chuvosa escondido nas sombras. Obrigado, Batman.
“Às vezes, a verdade não é boa o bastante. Às vezes, as pessoas merecem mais. Às vezes, elas merecem ter a sua fé recompensada.”
Cavaleiro das Trevas também foi a primeira revista do Batman que eu tive, Jota! hehehe! Na época da primeira publicação nas bancas, pela Editora Abril, meu pai me deu a nº 3. Nos meses seguintes comprei a 2 e a 4 e só fui conseguir o nº 1 num sebo, muitos anos depois.
A primeiríssima revista de quadrinhos que tive foi um Homem-Aranha nº 43, da RGE, com uma história de detetive, em que o Homem-Aranha e o Nova se reunem para investigar um assassinato promovido pelo vilão Photon. Assim como a sua primeira revista foi uma edição do Batman, e te marcou como um decenauta, essa minha primeira revista marcou o início da minha enorme adoração pelo Homem-Aranha (que é o personagem do qual tenho o maior número de hqs – incluindo a nº 1, da Abril), e da minha vida de Marvete. hahahaaha
Excelente post, cara! Não à toa foi o escolhido pra fechar com chave de ouro a Semana Batman.
Cara, nostalgia é foda…
E fiquei muito feliz de ver este post publicado no dia do meu aniversário.
Pô, parabéns! Bat-felicidades pra você!
Valeu, Colossus.
Post foda. Meu primeiro comic do Batman foi um Brave n The Bold dele com o Sgt Rock, contra a gangue dos traficantes de armas. Jim Aparo no auge. Depois veio a perola ” A legenda de Batman”…aí danou-se..tive que comprar tudo.
O que me azucrina a cabeça é existir tanto material foda do Batman e ficar vendo a Panini republicando em encadernados de luxo a fase do Morrison…
É verdade. Acho que o critério tem mais a ver com tendências mercadológicas e de marketing (o autor ainda está vivo e há uma tendência maior a se valorizar esse cara, que acaba valorizando a editora, por tabela) do que de mérito ou qualidade dos trabalhos, mesmo…
Sinceramente, acho uma estratégia errada por um motivo básico, além, claro, de serem histórias ruins: tudo isso que vem sendo republicado tem muito pouco tempo que saiu no título mensal! Bicho, isso eu chamo de desvalorizar tremendamente o verme que vai todos os meses na banca gastar seu dinheiro em um mix mequetrefe que, às vezes, tem uma história boa em três. Depois a editora reclama que o título tal tem vendas baixas…