Ilumimiminerd – A amizade, essa coisa sem importância

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Se amizade fosse dinheiro, não valeria uma moeda de 1 centavo de real. Pelo menos, assim parece nesta época…

Infelizmente, o período eleitoral ainda não acabou. Pelo contrário: com o afunilamento da disputa em alguns estados e a nível nacional, um triste fenômeno, que se repete de dois em dois anos, se acirrará ainda mais. Falo das brigas entre amigos motivadas por estúpidas paixões políticas.

Asterix, Obelix e Ideiafix
Asterix, Obelix e Ideiafix

Antes de mais nada, é lamentável o próprio termo. Paixão política? Acho que algumas coisas devem ser tratadas sempre à luz da razão. Paixão, normalmente, dispensa em 100% a racionalidade. Já a política, a meu ver, tem como objetivo principal a construção de um sistema social e administrativo que torne possível o atendimento ao necessário para a convivência pacífica dentro de cada comunidade – seja ela simples como uma sala de aula ou ampla como um país – e na sua relação com outras associações de pessoas. Nada mais racional.

Cascão, Mônica, Cebolinha e Magali
Cascão, Mônica, Cebolinha e Magali

Agir com paixão é agir ofuscado, sem ver aquilo que está diante dos seus olhos. Isso termina fazendo com que o apaixonado atue como um imbecil. Agora, enquanto o apaixonado amoroso é quase sempre apenas contrangedor e o apaixonado esportivo seja na maioria das vezes somente um chato, o apaixonado político é uma criatura que beira o insuportável.

O fenômeno em época de eleições é conhecido.

Começa com a escolha de candidatos. A prefere o candidato 1. Tudo bem, é direito dele. Também é direito dele não querer que ninguém questione a sua escolha. Se o candidato 1 é o que serve pra A, quem somos nós pra tentar demovê-lo da sua escolha? Aqui, já vemos como a paixão começa a se impor sobre a racionalidade: A não aceita nenhuma discussão que questione a sua decisão.

Charlie Brown e Linus
Charlie Brown e Linus

O problema é que B não questiona, mas declara a A que vai votar no candidato 2. E A, imediatamente, fica prostituto da vida e bombardeia B, questionando sua decisão. Se A e B são amigos de face, a coisa piora: dificilmente B conseguirá abrir a sua página na comunidade virtual sem que veja um – ou, mais provavelmente, vários – post de A defendendo o candidato 1 ou desancando o 2. Pouco importa que seja chato, cansativo ou que muitos dos argumentos apresentados sejam falhos ou extremamente tendenciosos: A continuará apontando as virtudes do seu candidato e os defeitos do do seu amigo.

Hal Jordan, o Lanterna Verde, e Oliver Queen, o Arqueiro Verde
Hal Jordan, o Lanterna Verde, e Oliver Queen, o Arqueiro Verde

B, chateado com a atitude de A, tenta argumentar que apenas manifestou a sua escolha, não questionou a do amigo. B também diz que possui internet e que teve tempo – e disposição – para visualizar diversas matérias sobre os concorrentes para poder escolher um deles. B aproveita e informa a A que, constitucionalmente, vivemos em uma democracia e que cada um é livre para tomar suas decisões eleitorais, sem interferências de qualquer forma. Por fim, B pede a A que tenha pela sua escolha o mesmo respeito que exigiu para a própria.

Stewie e Brian Griffin
Stewie e Brian Griffin

A xinga B. De alienado. De analfabeto político. De burguês ou comunistinha (dependendo se o candidato de B está em um partido ou aliança que se declara mais de direita ou de esquerda). Às vezes diretamente. Às vezes indiretamente. E por aí vai. B fica de saco cheio e deleta A da página de amigos. Posteriormente, faz o mesmo com ele da sua vida.

Fred Flintstone e Barney Rubble
Fred Flintstone e Barney Rubble

A, quase certamente, nunca vai conhecer o candidato 1. Pior: este, muito provavelmente, com o passar dos anos se revelará uma dolorosa decepção para A, que só evitará a completa desilusão se permitir que sua paixão política afete definitivamente sua razão, tornando-o não apenas cego mas também retardado. B viverá sua vida, livre para, inclusive, mudar de opinião em relação ao candidato 2, da mesma forma que os inimigos políticos mortais de dois anos atrás hoje podem ser os mais ferrenhos aliados um do outro. A, mesmo ganhando, perde.

Recruta Zero (Beetle Bailey) e Quindim (Killer)
Recruta Zero (Beetle Bailey) e Quindim (Killer)

Da forma que eu vejo, nenhum político, partido ou mesmo ideia vale um amigo. Um amigo, seja com uma brincadeira, um conselho ou mesmo um ouvido, tem a capacidade de trazer um pouco de luz ao mais escuro dos dias. Como acreditavam os antigos espartanos, nada pode ser mais triste do que a visão de uma pessoa desprovida de amigos, sem ter a quem recorrer ou em quem confiar.

Salsicha e Scooby-Doo
Salsicha e Scooby-Doo

Valorize mais seus amigos. Não perca alguém que, no mínimo, coloca fotos engraçadas na sua página do Facebook porque esta pessoa fez uma escolha diferente da sua nestas eleições. Respeite se ele quer votar em um candidato diferente.  Respeite se ele não quer votar em ninguém.  Respeite, inclusive, se ele não quiser manifestar sua escolha.

Chong e Cheech
Chong e Cheech

Não seja um chato: você tem todo o direito de ter seus argumentos, mas não o de ficar falando deles o tempo todo para quem não quer ouvir (ou não quer ouvir pela décima vez). Se é seu desejo, manifeste sua opinião nas redes sociais, mas evite ser repetitivo e, principalmente, grosseiro.

Odie e Garfield
Odie e Garfield

Seja humilde. Você pode achar que sabe tudo sobre a situação do país, o PIB local, a taxa de exportação, a arrecadação fiscal do período e aplicação de recursos, mas… Velho(a), você não sabe nada – ou, pelo menos, quase nada – sobre o efeito destas coisas na vida das outras pessoas, principalmente das que moram em locais que você sequer consegue localizar no mapa. Respeite a visão de mundo alheia, que pode até ser muito mais apurada do que a sua.

Calvin e Haroldo
Calvin e Haroldo

Coloquei diversas imagens de amigos famosos da ficção para que você possa refletir um pouco sobre o verdadeiro valor da amizade, que parece sempre ficar em baixa no período de eleições. Os políticos já vivem nos tirando muito (dinheiro, dignidade, amor-próprio…), não deixe que levem também os seus amigos. Não os sacrifique por pessoas que não estão, na verdade, minimamente preocupados com você. Seja livre para ter a sua opinião e até mesmo defendê-la quando julgar necessário, mas respeite os poucos e bons. Resumindo, seja a pessoa normal que você é durante a maior parte do biênio que existe entre uma e outra eleição.

“Seja para seus amigos aquilo que você gostaria de ser para si mesmo.” – William  Shakespeare

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 4 comentários

  1. Inacreditavel_Neo

    E quando você diz que prefere não declarar se você tem ou qual seu candidato, também é criticado.

    1. JJota

      Exatamente. Apontei isso também. Na verdade, se você discordar da pessoa, seja de que formar for, você está candidatíssimo a ter o saco enchido até o nível do insuportável.

      1. Cara, concordo plenamente, mas tenho de dizer: existem situações hilárias. Por exemplo, tem uma pessoa no meu feed que defende um candidato, todo o Santo dia, dizendo que é preciso moralizar e tals. O detalhe que ele é umas das pessoas com o código moral mais torto que eu conheço. Toda vez que ele me manda uma mensagem direta, respondo com o snoopy gargalhando.

        Ontem, ele me perguntou o motivo disso. E eu respondi. E ele, apesar de ter ficado possesso num primeiro momento, me soltou essa: “não sou um exemplo de moralidade, mas posso defendê-la, né?”. É, eu disse, todo Psicopata age da mesma forma… Rimos e continuamos a brincar com a Hidrocodona…

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