Especial FIQ 2013: a palestra sobre mangá que nunca aconteceu – Parte 1

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Era pra ser uma mesa sobre mangás, mas, para alegria das dezenas de fãs presentes no auditório Gutemberg Monteiro, o evento se tornou uma grande homenagem ao consagrado cenário Tormenta, RPG brasileiro criado por Marcelo Cassaro, J. M. Trevisan e Rogério Saladino no qual boa parte dos palestrantes se envolveram em algum momento de suas carreiras e vidas. Com exceção de Saladino, estavam presentes Érica Awano, Petra Leão, Daniel HDR e Lobo Borges que, ao lado dos dois roteiristas já citados, foram sabatinados pelo mediador Samuel Medina. Foi ele quem, assumindo seu lado tiete, pediu licença para “fugir um pouco do tema original” e introduzir o mundo de Tormenta como assunto principal daquela tarde em Belo Horizonte.

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Érica, Petra, Cassaro e Trevisan

Saído das páginas da revista Dragão Brasil, editada pelo trio de amigos, o universo de Tormenta se expandiu de tal forma nesses 14 anos desde sua criação, em 1999, que o próprio Cassaro admite ter dificuldade em acompanhá-lo. “Hoje, acontecem coisas lá que nem eu mesmo sei [risos]. Estamos sempre preocupados em transformar leitores em autores. Por isso digo que Tormenta não é um RPG, é uma franquia, ela tem HQs e se expande por vários outros meios. Não é algo tão padronizado ou rígido que não ser trabalhado, mesmo os novos autores que colaboram com a gente já carregam seu estilo próprio. Quando você pega você pega um romance de Tormenta, por exemplo, não é uma adaptação do meu trabalho ou do Trevisan, é algo com sua própria personalidade”, conta.

Talvez o produto derivado de Tormenta mais conhecido do grande público, a premiada história em quadrinhos Holy Avenger – considerada um mangá pela arte em “estilo oriental” – foi a porta de entrada da desenhista Érica Awano no universo deste RPG. Mesmo sendo reconhecidamente seu trabalho mais importante até o momento, ela diz que não foi uma época tão agradável assim do ponto de vista do processo produtivo. “Lembro que virava muitas noites para cumprir os prazos, e nisso teve uma vez que quase fui atropelada por estar tanto tempo sem dormir”, recorda rindo do perigo que passou. Com bastante autocrítica, a artista ainda falou dos demais desafios de entrar num projeto dessa magnitude, “eu não era uma desenhista completa, por assim dizer. Não conseguia trabalhar com formas irregulares, então, o paladino, por exemplo, foi um inferno para desenhar. Tenho ciência que se o Cassaro tivesse me feito o mesmo convite hoje, eu certamente colocaria tantas condições que o projeto não sairia”, revelou Érica de maneira descontraída.

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Momento de puro brio oportunismo jornalístico captado por nosso fotógrafo Don Vitto. Não faço a mínima ideia do que está acontecendo nesta foto, e olha que eu estava lá.

“Sabe o trabalho que um mangaká faz no Japão com três ou quatro assistentes? A Érica fazia sozinha”, defende Petra Leão. Ela contou que sua participação no projeto pode ter sido relativamente modesta – seis edições especiais em comparação as 42 que a revista teve no total – mas que marcou bastante sua carreira. “Na época, eu escrevi esse material com a Fran Briggs, mulher do Guilherme Briggs, o dublador, aquele do Freakazoid!, vocês sabem, né? Foi uma ótima experiência”

Trevisan, de longe o mais falante do grupo, partner in crime de Cassaro como grande impulsionador e desenvolvedor do mundo de Tormenta, é atualmente o responsável por trazer o cenário de RPG de volta às histórias em quadrinhos com sua criação Ledd, ilustrada pelo “novato” pernambucano Lobo Borges, e que também transita no limiar das definições do que seria mangá (este humilde redator, por exemplo, acha que é, mas esse é um assunto para outra postagem). “Entrei na Dragão [Brasil] fazendo roteiros de quadrinhos, mas curiosamente nunca tinha pego uma série. Foi só em 2010/2011, quando assisti Fullmetal Alchemist Brotherhood por causa do jogo Valkyria Chronicles, que comecei a me interessar pelo mangá e decidi que queria fazer um.”, disse. Essa mistura de acaso, dedicação e talento, que, como foi visto, “persegue” a história de Tormenta e não poderia ser diferente com Ledd. Segundo Trevisan, “a gente recebe muito material de fã pelo fórum. Óbvio que não dá pra ver tudo na hora, às vezes você precisa insistir – sem ser chato, claro – e mandar duas ou três vezes a mesma coisa, mas a gente eventualmente vai ver. Foi assim que conheci o desenho do Lobo [Borges]. Logo de cara achei muito bom. Vasculhei meus arquivos e vi que tinha um plot meio genérico guardado lá, mas o título até já era o mesmo, e pensei que a combinação de ambos poderia render um mangá”.

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“Mangá nacional?? Pode isso, Arnaldo?” – olha a cara de quem ouve a mesma pergunta trocentas vezes

O novo projeto foi tomando forma, assim, meio sem querer, mas Trevisan ainda precisava de um parceiro pra fazer com que a história em quadrinhos saísse definitivamente de sua cabeça e de seus rascunhos, único lugar onde ela existia até então, para decolar. “Entrei em contato com o Lobo e falei pra ele que não tinha onde publicar, que não iríamos ganhar dinheiro, resumindo, iríamos fazer mangá de graça. E ele topou”, relata Trevisan. “A gente realmente não sabia bem o que estava fazendo [risos]. Mandei uma mensagem pro Guilherme [Svaldi], da editora Jambô, e ele apoiou a ideia. Hoje você pode ler a HQ de graça no site e depois, a cada quatro capítulos, a gente junta e lança um encadernado, contendo também alguns extras inéditos. Devo dizer que é um sucesso, e devo creditar isso em parte ao Cassaro que me ensinou a gostar de mangá. Vi o nascimento de Holy Avenger e sempre digo que se não fosse Holy hoje não haveria Ledd”,

Com sua fala descontraída, Daniel HDR fez questão de narrar seu encontro pra lá de inusitado com Marcelo Cassaro com que colaborou em Dungeon Crawlers, mais uma trama ambientada no cenário de Tormenta. “É engraçado, mas eu estava completamente chapado quando encontrei pela primeira vez o Cassaro. Eu sofria de cálculo renal e sentia muitas dores, e claro, tomava muitos analgésicos pra dar uma segurada no desconforto. A gente se encontrou numa Animecon e nessa época eu estava desenhando Digimon já há uns dois. O Cassaro diz que naquele dia mesmo a gente trocou a maior ideia e já tava conversando sobre trabalhar juntos, acontece que eu estava tão chapado nesse dia que obviamente não lembrei de nada disso depois”, narrou HDR, arrancando gargalhadas da plateia. Só algum tempo depois que os dois voltaram a se encontrar, dessa vez por intermédio do amigo em comum Joe Prado – ilustrador, arte-finalista e agente de quadrinistas cuja entrevista vocês puderam conferir ontem no site –, e só assim a parceria saiu…para alegria dos fãs. “Sempre digo isso pro Cassaro quando o encontro. Meu único arrependimento na minha participação nessa revista é o nome. Dungeon Crawlers é muito feio”, se diverte HDR.

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Fãs de RPG, como não amá-los?

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 4 comentários

  1. Don Vittor

    Não, acho que não… Melhor… Sei lá! AUHUAUAHUH

  2. Bull

    Ei eu keria uma ficha pra eu usar na batalha do apoaclipse porque ja to preparando uma mesa e preciso de uns modelos de ficha pra eu fazer meus personagens prontos

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