Esmiuçando True Detective: Qual foi a melhor temporada? – Parte II/II

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Dando sequência ao post anterior,Esmiuçando True Detective: Qual foi a melhor temporada? – Parte I/II 

Sinopse:

“A nova temporada conta a história de três policiais e um criminoso que terão que lidar com uma rede de conspiração envolvida em um assassinato.”  (A Tribuna)

Após o sucesso da Primeira Temporada e o sob o risco inegável de comparações esdrúxulas – como esta – , uma das diferenças mais marcantes da nova temporada é o término da estrutura de linhas temporais (exceto por alguns flashbacks), visto que todo o enredo se passa no tempo presente. Quanto a algumas questões anteriormente abordadas, no início da trama é possível destacar certos vislumbres, seja pelo teor sexual do fio condutor Ben Caspere  – político que foi encontrado morto no primeiro episódio com sua genitália arrancada e seus olhos comidos por ácido -, seja pela estranha máscara de corvo usada pelo motorista, possível assassino.

Ray Velcoro (Colin Farrell) , Frank Semyon (Vince Vaughn) , Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) e Ani Bezzerides (Rachel McAdams) da esquerda pra direita.
Ray Velcoro (Colin Farrell) , Frank Semyon (Vince Vaughn) , Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) e Ani Bezzerides (Rachel McAdams) da esquerda pra direita.

Como visto acima, a série conta com quatro protagonistas, entre eles,  Ani Bezzerides (Rachel McAdams), uma policial com problemas pessoais e profissionais, que tenta resolvê-los à sua maneira. Uma proposta interessante, se levarmos em consideração que, na temporada anterior, as mulheres ou eram vítimas de um serial killer, ou esposas traídas e prostitutas amarguradas.

Compondo o restante do elenco:

  • Frank Semyon (Vince Vaughn) um ex-gangster e atual dono de Cassinos que aspira à “legalidade” através de contratos fraudulentos para a construção de uma ferrovia que cortará o país. Frank tinha dado a Caspere U$ 5 milhões, juntamente com o gangster russo-israelense Osip Agronov.
  • Ray Velcoro (Colin Farrell) é um policial corrupto e autodestrutivo, porém bem menos filosófico que o interpretado por Matthew McConaughey. No mais, representa um tipo comum em produções do gênero.
  • Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) Ex-funcionário da Empresa Militar Privada Black Mountain e Patrulheiro Rodoviário de temperamento instável e que guarda um grande segredo.

Apesar do alarde criado e os nomes do primeiro escalão, a segunda temporada de True Detective  não teve tanto estardalhaço quanto a primeira. No entanto, isso não significa que a sua qualidade tenha sido inferior. Diferentemente, não são adicionados elementos fantásticos e, muito menos, referências literárias, contudo presta um grande favor à sociedade ao lidar com temas bem mais perigosos e reais do nosso cotidiano, criticando diretamente o governo e a corrupção por trás de grandes empresas, com suas medidas “pró-desenvolvimento regional”.

Ben Caspere morto.
Ben Caspere . fio condutor da Segunda Temporada, morto.

É inegável que  a ausência do diretor Cary Fukunaga e a fotografia maravilhosa da temporada anterior fazem muita falta, no entanto, acima de qualquer obra visualmente artística, o foco deste novo produto é um engenhosíssimo thriller Político, envolvendo corrupção e crime organizado da alta sociedade, como uma maneira de denúncia que pode ser absorvida suavemente pelo espectador.

Dentre as críticas, podemos pegar duas empresas que possuem grande destaque na trama:

  • Catalyst – Grupo de Investidores que compram territórios a partir de informações privilegiadas, envolvido com figuras corruptas da cidade de Vince.
  • Black Mountain – Empresa militar privada que desistiu de todos os outros clientes para trabalhar apenas com o Grupo Catalyst.  Quanto a sua funcionalidade, a Wikipédia classifica como:

Empresas militares privadas (EMP) ou empresas de prestação de serviços de segurança (em inglês, Private Military Company, PMC) aquelas que oferecem aconselhamento ou serviços de natureza militar, sendo também classificadas ou definidas como mercenárias (“soldados de aluguel”). Muitas dessas empresas são também conhecidas como empresas privadas de segurança , empresas militares privadas, companhias militares privadas, prestadores de serviços militares e mais genericamente, indústria militar privada.”

Trabalhando com temas desde a exploração sexual através de gangsteres russo-israelenses (orgias onde homens ricos e poderosos fazem negócios e transam com mulheres drogadas)  até o tráfico de influência (empresas de lixo tóxico avisadas por membros do governo contaminam áreas para depois compra-las à preços irrisórios), a Segunda Temporada mostrou-se muito mais ambiciosa  ao crer que hoje, ou no futuro, essas cenas servirão de parâmetro para que o espectador compare fatos reais, antes ignorados, com o que lhe foi apresentado naquele momento de lazer. Contudo, essa gana desenfreada por críticas e denúncias também pode ter sido seu “Calcanhar de Aquiles”.

A corrupção é uma dos temas principais da nova temporada.
A corrupção é uma dos temas principais da nova temporada.

Ao criar uma  vasta rede de questões e atores, surgiu a sensação de inconsistência no roteiro, dando a impressão de que a história foi sofrendo alterações durante o processo de filmagem e assim, criando inúmeras subtramas sem que o espectador se sentisse conectado, medida que culminou com o rebaixamento de alguns personagens para o segundo plano, ou em total anonimato.

No que diz respeito ao quesito investigação, podemos dizer que é apenas mais um elemento nesse aglomerado de informações, pois o destaque fica no modo como os personagens vão reagir à teia de corrupção que vão desvelando, na medida em que se veem cada vez mais envolvidos. Talvez seja exagero, mas o rumo da série muda drasticamente após a primeira metade, trocando a investigação principal – morte do político corrupto – em função de diversas histórias paralelas, relegando o “grande mistério” a mais uma descoberta. Por sinal, bem pouco explorada e fora do timing.

O protagonismo de mulheres é outro tema interessante da Segunda Temporada.
O protagonismo de mulheres é outro tema interessante da Segunda Temporada.

Após apontar algumas impressões , podemos dizer que ao falarmos sobre True Detective – série que a cada sessão terá uma história independente – sempre acabaremos traçando um comparativo injusto entre suas temporadas. No entanto, embora seja injusto compará-las, é válido fazer uma análise sobre o título e o que nos foi apresentado em ambas as tramas, uma vez que ao tratarmos com “detetives de verdade”, também devemos levantar seus dramas, assim como a influência da sociedade no exercício da profissão. Partindo desta premissa, o drama de detetives reais acabou sendo mais explorado pela Segunda Temporada, seja pela complexidade pessoal de cada personagem – às vezes beirando o exagero -, seja pela própria trama, na qual foram inseridos após o início das investigações. Desta forma, mesmo que ainda esteja aquém do patamar de qualidade artística da primeira, tanto na compactação do roteiro, quanto na direção, elenco e fotografia, a Segunda Temporada foi mais fidedigna e verossímil ao seu título True Detective, trazendo ao público uma crítica cotidiana, em vez de  filosofia existencialista e misticismo literário.

Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

Este post tem um comentário

  1. Harvey_o_Adevogado

    falaram que a segunda temporada é ruim pacas…

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