A série Ensaios serve para expor ideias respondendo perguntas sem o compromisso de comprovações – sem necessidade de esgotar o assunto. Podem chamar de Achismo. Entretanto, para dar um ar pomposo, decidi por Esboços Literários Subjetivos Sem Comprovação Empírica, mas Baseados na Lógica e no Conhecimento Adquirido. Ou simplesmente Ensaios.

O objetivo é fazer algo simples, mas que, ao mesmo tempo, possa gerar discussão e debate (mesmo que internamente, já que vocês, leitores, não comentam…).

É claro que todo nosso conhecimento é externo (a não ser que você seja platonista e acredite em um conhecimento inato ao ser humano). Portanto, todas minhas conclusões são resultado do somatório de diversas fontes: observações diretas, conversas, livros, artigos, documentários, aulas, seminários, filmes…

A questão de hoje é a seguinte:

O que é a Realidade?

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Quando pensamos em Realidade, olhamos a nossa volta. Isso é o Real; aquilo que estou tocando, sentindo, vivendo no presente. O concreto. Mas isso é o Real ou é o que eu percebo como Real?

O modo como percebo o mundo é muito diferente do modo com que outras pessoas (ou animais) o percebem. Um daltônico vê as cores de outra forma e um sapo não enxerga movimentos lentos. Cada indivíduo interpreta o Real em função dos seus sentidos. Desta forma, o Real é o resultado de uma função psicológica e fisiológica.

Então, quer dizer que cada um possui uma visão da Realidade? Vendo dessa maneira, sim. O Real é uma criação individual e, assim, existe exclusivamente em cada indivíduo. Tudo o que há na realidade é uma representação criada por cada um.

Essa visão assusta um pouco, pois leva a crer que o indivíduo está sozinho. Tudo o que existe além dele é uma criação de sua mente. Vocês não estão lendo esse texto, porque, para mim, vocês só existirão a partir da minha percepção de vocês…

Podemos sair do universo totalmente subjetivo para começar a pensar a Realidade exterior, aquilo no qual baseamos nossas representações – o que seria, a princípio, independente de nós.

A base da teoria dos mundos possíveis considera a realidade como um universo composto por uma pluralidade de elementos (mundos) estruturalmente hierarquizados pela oposição de um elemento bem desenhado (o centro) em relação aos outros membros. O centro, normalmente, é chamado de “mundo real” e os outros, de “mundos possíveis”.

O real ocupa o núcleo e tudo o que está em volta fica na ordem do possível. O real, assim, existe externamente aos indivíduos e às possibilidades se conectam a ele. Essas possibilidades são todas as criações baseadas no mundo real: percepções, imagens mentais, interpretações, filmes, livros etc.

Há, portanto, duas maneiras de interpretar esta Realidade: absoluta, na qual o mundo real é o único que existe independente da mente humana e os mundos possíveis são produtos de atividades mentais como sonhos, desejos, imaginação, ficção; e relativa, em que a realidade é aquela na qual falamos e estamos imersos, enquanto os mundos possíveis são aqueles que olhamos de fora.

Esses mundos possíveis, por sua vez, são reais do ponto de vista daqueles que os habitam – se você é um ser de um mundo desses, então ele é o Real para você. O que nos leva de volta à visão subjetiva da Realidade.

Para fugir um pouco da interpretação, podemos usar a física teórica. Há cientistas que defendem que vivemos em um universo dentro de outro universo, como mostrado no final de MIB – Homens de Preto: nosso universo é uma bolinha de gude em outro universo.Esta teoria originou-se de uma experiência que comprovou, através da divisão de feixes de laser, que cada parte de informação projetada possuía a informação do todo (pois a imagem gerada, apesar de usar parte do feixe, representava a imagem toda). Assim, o mundo micro possui informação do mundo macro sendo ele próprio um mundo macro também.

Outra teoria relaciona a mecânica quântica à lógica computacional. Desta forma, poderíamos estar vivendo em uma imensa simulação, como no filme Matrix. Há quem afirme que o universo é o computador quântico definitivo. E, se pensarmos no progresso em relação ao desenvolvimento da inteligência artificial e a criação de ambientes imersivos, não estaríamos assim tão longe da invenção de um Holodeck…

Mas a loucura não para por aí. Estudando buracos negros, constatou-se que a informação tridimensional é codificada em sua superfície bidimensional (horizonte de eventos), como em uma projeção holográfica: uma superfície plana que simula três dimensões dependendo da incidência da luz. Desta forma, toda a informação de uma estrela está contida na superfície do buraco negro. E isso leva a crer, para os físicos teóricos, que nossa realidade é uma projeção holográfica das paredes do cosmo.

Podemos estar vivendo, na verdade, uma projeção tridimensional dentro de um distante plano bidimensional…

Após tudo isso, como responder à pergunta sobre o que é a Realidade? Ela pode ser uma percepção individual, o sonho de uma pessoa só, um mundo possível conectado a outro mundo, um holograma de um universo extinto, a vida quântica de uma partícula em um universo infinitamente maior e anterior, uma simulação de computador, um jogo extremamente evoluído tipo The Sims… Podem escolher.

Eu escolhi a minha: não há o Real, há apenas o Ser.