Críticas construtivas também são provas de amor

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P.S.: (Antes do texto sim hahaha)
Qualquer coisa dita no texto, que fale para gêneros, pode (e deve) ser tomada tanto para o feminino quanto para o masculino, okay? A intenção do texto é ser plural, no entanto, na língua portuguesa não temos tantos recursos que nos permitam fazer isso, e não sou adepta da escrita com “@” “x” ou “e”, no lugar de “o” e “a”. Boa leitura, e não esqueçam de comentar. A opinião de vocês sempre serve de inspiração para outros textos.

Esses dias participei de várias discussões que continham algo em comum: o gostar de obras que contém elementos problemáticos. Desde times de futebol que compram juízes e vencem campeonatos na “Justiça”, até animes com boas histórias, mas cheios de objetificação feminina, apologia a estupro, enfim…

É muito difícil ver defeitos naquilo que se ama. “O amor é cego, surdo e mudo”, já dizia vovó. Por mais que nossa parte racional saiba que aquele objeto amado é cheio de defeitos, ainda assim nossa parte emocional insiste em tentar justificá-los. Mas será que isso é bom? Será que não seria muito melhor criticarmos os erros, de forma que incentive o “objeto amado” a melhorar? Falo isso num âmbito geral mesmo. Você pode levar isso pra qualquer coisa que ame, e que seja problemática.

Se aquele namoradinho ciumento começa a querer te proibir de sair com seus amigos, ou começa a ser muito invasivo e controlador, a melhor opção seria você cair fora, e partir pra outra. Mas, pras pessoas pacientes, às vezes você acha que mesmo com aqueles defeitos, a pessoa vale a pena. E quando seus amigos, ou família, reclamam desse defeito do seu namoradinho, você tenta justificar de todas as formas, “ah, mas realmente eu dou motivo. Ah, mas fulano dá em cima de mim mesmo. Ah, mas aquela roupa era muito chamativa. Ah. Ah. Ah...”. E sem querer, você alimenta um monstro, que um dia pode te fazer muito mal. Se (já que você é paciente mesmo), em vez de passar a mão na cabeça, você simplesmente falasse pra pessoa: “não, para com isso. Isso tá errado! Eu te amo, mas não posso deixar você ser dono da minha vida. Olha o que você tá fazendo!”. Bom, não vou dizer por mim, porque faço parte do grupo dos impacientes, mas já vi pessoas que testaram e que deu certo. Amigos, cujos parceiros eram extremamente ciumentos, e nem se davam conta daquilo. Mas com as críticas, com a conversa, foram aos poucos se curando, e a relação foi se tornando mais saudável.

O mesmo pode ser dito do seu time de futebol. Por que, em vez de tentar justificar a homofobia da torcida, você não pressiona o seu time a tomar uma atitude? Por que a orientação sexual de uma pessoa é usada para diminuí-la? Em vez de ficar passando pano pra isso, você podia cobrar uma atitude firme do time. Que se posicione contra qualquer forma de discriminação, pois o futebol é um esporte para todos! E o mesmo pode ser dito pra times corruptos. Não fique tentando justificar, dizendo que todo time faz. Não se acomode com o que não tá certo. Critique, reclame, pois se você ama aquele time, queira que ele seja o melhor, mas de verdade. Não o melhor em corromper, em comprar árbitros, em fazer ilegalidades.

Ah, e não vou deixar de falar dos filmes, jogos, dos animes, gibis… Se a gente ficar aceitando a objetificação, e diminuição da figura feminina, isso nunca deixará de existir. Não é à toa que o movimento feminista tem conseguido visibilidade. É porque estamos na briga, estamos criticando e questionando essas coisas. Não podemos aceitar, não podemos entender que “a indústria é assim mesmo”. Não! A Indústria é feita por pessoas, e pessoas podem sim mudar de opinião e de atitude. Se tivermos que fazer muito barulho pra sermos ouvidas, assim seja! O que não podemos é aguentar tantas boas histórias se perdendo em “closes” de peitos e posições ginecológicas. E não, não feche os olhos pro uso desnecessário de estupros; não feche os olhos pra apologia à pedofilia, não seja conivente com a falta de papeis importantes para mulheres e pessoas não-brancas.

Muita gente acha que não se manifestar é evitar conflitos, como se discussões fossem coisas ruins. Mas vocês já pararam pra pensar no tanto de coisas que aprendem em discussões? Eu aprendo em todas. É claro que uso um filtro, só discuto com pessoas que não apelam pra falácias, como o argumentum ad hominem. Nós temos o direito de escolher, assim como escolhemos aquilo que amamos. E se você ama algo, e acha que vale a pena insistir naquilo (pensa bem, okay, vale a pena mesmo?), não feche seus olhos pro que incomoda. Não ache que o mundo vai mudar pra melhor se as pessoas simplesmente evitarem as críticas, evitarem falar sobre, evitarem…

E, muito importante, critique a si mesmo, e esteja aberto às críticas construtivas. Amo meus posicionamentos, mas eles estão certos? Por vezes, não somos capazes de perceber nossos erros, e quando permitimos que o outro nos aponte, nos questione, são esses questionamentos que nos ajudam a sermos pessoas melhores. Afinal, a intenção é sempre essa, não é? Melhorar, e fazer do mundo um lugar melhor.

Hypolita Prince

"Nerd" por acaso, e ainda não satisfeita com a denominação. Escrevo sobre feminismo, e outros assuntos que me interessem. Não os desenvolvo tanto quanto gostaria, mas é por preguiça de organizar as ideias nos textos.

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