Conheça seu Iluminerd – Dr. Housyemberg

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Com certeza, você já se questionou sobre quem é a pessoa por trás do texto que está lendo. O que ela faz, de onde ela é, qual sua formação… Por isso, decidimos criar esta série para dar uma luz sobre os autores do Iluminerds. Se quiser saber outras coisas sobre eles, basta colocar nos comentários.

Depois de muitos meses desde a última publicação, decidimos marcar o retorno com um dos mais polêmicos membros do site. No post de hoje, conversamos com Dr. Housyemberg…

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Por que Dr. Housy? E a recente mudança para Dr. Housyemberg Amorim?

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Dr. Housy, na verdade, não foi inventado por mim. Nas paragens da internet, usava o apelido de Lestat de Lioncourt porque sou fã das obras da Anne Rice. Porém, em 2002, um amigo meu queria me convencer de que eu deveria ver a série Plantão Médico. Na época, argumentei que não achava muita graça na série, veria numa boa se um médico filho da puta arrogante estivesse liderando uma equipe e somente ele conseguisse achar as soluções dos problemas, sem encostar no paciente, mostrando, assim uma nova abordagem da profissão. Dois anos depois, esse mesmo amigo me liga aos berros: “Seu escroto, lembra o papo que tivemos sobre Plantão Médico, pois é coloca na Universal e veja o seu desejo realizado, Dr. House!”

A partir desse momento, passei a usar o apelido – em parte para homenagear esse amigo que está longe e, em parte, porque algumas turmas minhas, em 2004, também me deram o apelido, então, por que não?

A recente mudança de Housy para Housyemberg se deu por conta de um e-mail malcriado que recebi de um portal que detém os direitos de divulgação da série no Brasil. Aparentemente, eles não gostaram de ter um cara na internet brasileira sendo tão escroto quanto o médico da série. Sendo ameaçado, fiz o que sei fazer de melhor – uni o Housy ao Heinsemberg (nome de um doutor nazista e nome usado por Walter White em The Breaking Bad), formando aquilo que o Sr. Delarue chama de Troll Supremo. Livrei-me do processo e ainda provoquei novamente a ira do portal, aleluia, irmãos!!!!

Sabemos que você é um ser antigo, mas, de fato, quantos anos tem?

Esse talvez seja o maior mistério dos Iluminerds. Como idade é uma coisa relativa, posso dizer que sou velho, mas, sob outro ponto de vista, sou novo. Ainda não estou caduco, como os membros da Tropicália ou os Racionais MC’s, mas a hidrocodona já começa a cobrar seu preço…

De onde é?

Da Terra até o momento. Por enquanto, residente da cidade que está em Paes na casa do Cabral, mas quem sabe do futuro?

Estuda ou é formado? Em quê?

Geller

Rapaz, não uso o doutor à toa. Tal qual o Dr. Geller, tenho pós-doutorado, mesmo assim, continuo estudando como um doido. Parece que se tornou um vício paralelo ao vício em hidrocodona. Mas, para registro dos ignóbeis leitores desse questionário – sou formado em Letras (e não sou homossexual), tenho mestrado em Literatura Brasileira (e não sou homossexual), doutorado em Literatura Comparada (e não sou homossexual) e pós-Doutorado em Letras (e não sou homossexual… será?).

Fale um pouco da sua pesquisa (ou campo de estudo)…

Bem, isso é um tantinho polêmico, sabe como é? Desde 1999, defendo a tese de que as Histórias em Quadrinhos de super-heróis são uma das últimas frentes mantenedoras do pensamento mítico existentes na cultura contemporânea. Dessa forma, os quadrinhos apresentam-se sob uma questão própria da pós-modernidade – trata-se de uma arte que se perpetua pelos “quases” ou, se preferir, pelos “nãos”. Assim, as histórias em quadrinhos são uma “quase-mitologia” que possui seus “quase-sacerdotes”, “quase-oráculos”, etc. Defender isso na área de Letras foi bastante complicado porque os honoráveis doutores fazem questão de um purismo que não cabe mais no mundo moderno e a análise desses “quases” demonstrou que muitas coisas que são consideradas novidades na época moderna (1900 a 1950 mais ou menos) sofreram contribuições substanciais da, até então, perigosa e marginal área dos quadrinhos.

Trabalha? Em quê?

Hoje estou como Professor de Língua Portuguesa do Município de Paes. Estou dando aulas para turmas de 6º ano do Fundamental, mas já rodei bastante, viu? Até porque ser professor no Brasil é quase como ser uma puta de luxo – todo mundo acha que a vida é fácil, mas, depois de algum tempo, sentar de pernas fechadas já não é mais uma opção.

Tema recorrente em sua produção para o Iluminerds são as HQs, como a série Ano 1 dos Novos 52. De onde vem este interesse? O que essas histórias têm de especial?

O interesse vem daquilo que foi noticiado antes. A DC Comics, historicamente falando, tem uma das histórias mais ricas das HQ estadunidenses. Mesmo assim, sua produção editorial sempre foi uma zona. Em parte pelos processos que adicionaram inúmeros personagens, parte pelo ego dos editores que queriam impor sua visão e direcionamentos. De quando em quando, há uma renovação nos quadros editoriais e muita coisa interessante ocorre com esses personagens que são quase… épicos!

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A última revisão editorial colocou Geoff Johns e Jim Lee como editores-chefe. Geoff Jonhs é um cara em que o leitor pode confiar, fã de quadrinhos e exímio conhecedor do universo DC, mas ele não tem muita voz de comando – aparentemente ele tem salvo-conduto para mexer com os personagens que quiser e só. Jim Lee é realmente o editor-chefe da DC, mas Lee foi da Image, foi um dos primeiros a trair a Image e sabe falar bonito, cita conceitos literários aos montes. Veja, porém, o que tem feito com os Novos 52 – sob a pressão da Warner, ele não tem dado tempo suficiente para o leitor se acostumar com a ideia, além de empaturrar as comicshops com títulos e mais títulos massaveio, contribuindo pouco para a confecção de um novo universo. Quer saber do pior? Isso não é lá grande novidade na DC – já foi feito em 1974-1976… Analisar o Ano Um de todos os títulos que a DC iniciou os Novos 52 tenta mostrar os pontos fortes e fracos desse novo universo e, pelo que estamos vendo, há pouco a se comemorar. Pelo menos, a cueca do Superman está no lugar certo.

Os super-heróis americanos são bastante valorizados no Brasil. Como você descreveria o mercado nacional de quadrinhos? Ele existe? O que falta para que ele cresça e supere o americano, pelo menos internamente?

Incrivelmente, o mercado brasileiro existe e está bem robusto nos dias de hoje. Mesmo quando parecia que a hegemonia da produção estadunidense era certa, existia mercado brasileiro de quadrinhos. Nos anos 1980, por exemplo, o mercado brasileiro resumia-se à produção pornográfica e paródias pornôs dos super-heróis. Ao mesmo tempo, Maurício de Sousa sempre foi um dos donos do mercado brasileiro, seguido, de longe, por Ziraldo.

O problema maior, quando tratamos de mercado, é a influência longeva dos padrões de desenho dos comics. Ou preferimos o traço limpo dos quadrinhos americanos ou preferimos o traço limpo dos mangás. De qualquer forma, o leitor brasileiro prefere os traços limpos, com poucas sombras e poucas hachuras. Vide as transformações pela qual os desenhos do próprio Maurício passaram ao longo dos anos, a cada década que passava, o desenho ia se tornando mais e mais limpo, arredondado, quase um cartoon desanimado.

De qualquer forma, nos anos 1990, começou uma mudança. De pouco em pouco, os editores perceberam que a ideia de patrocinar produções pontuais era uma boa ideia. Nos anos 2000, a ideia explodiu meio que na esteira da produção de mangás, Combo Rangers, Holly Avenger, e muitos outros títulos pulavam nas bancas de jornais. Foram riscos assumidos pelas editoras, mas que renderam lucros e críticas positivas.

Hoje, estamos com um mercado cada vez mais híbrido. A produção na internet é absurda. Vários autores, com vários estilos, publicam suas histórias pela rede mundial. Alguns realmente surpreendem e acabam caindo no crivo dos editores. Um bom exemplo é o que o Sidão (Universo HQ e editor da Turma da Mônica) tem feito para promover novos e velhos quadrinistas com boas tiragens e ampliando o mercado.

Agora, quanto às vendas – porque é isso que importa no mundo capitalista – os quadrinhos da Turma da Mônica já superaram há muito tempo os super-heróis. Uma boa tiragem de super-heróis vende 50 mil exemplares, a Mônica vende 600 mil exemplares. Ou seja, “vencer” a imposição americana nada mais é do que um mito superado há muito. O que resta é o fortalecimento do mercado nacional e colocar a MSP como aliada dessa ampliação…

Sendo o responsável pelo primeiro post do Iluminerds, O Começo dos Trabalhos, conte-nos um pouco sobre criação dos Iluminerds.

Ah, narrar uma história sempre é algo muito especial, principalmente uma história de origem.

Sr. Delarue, Ebony Spiderman, Rodrigo Sava e eu tínhamos um humilde blog chamado Notas Nerds. Sofríamos para manter a produtividade do blog porque todos nós, na época, tínhamos horários muito loucos. Então, um colega blogueiro falou de uma ideia – juntar os blogs que tinham problemas com a produtividade e fazer um único blog. Convidamos algumas pessoas e nos aproveitamos das crises que ocorriam em inúmeros blogs brasileiros. Juntamos a galera e nos reunimos na Tijuca quando fundamos o Iluminerds. É claro que nem tudo foram flores – ouvimos a insistência de algumas pessoas com relação à forma com qual organizaríamos o negócio, sentimos as flatulências de Don Vitto e ainda conseguimos manter um clima gostoso entre os membros (entendam como quiser).

Com o passar da reunião, notamos que um deles queria comandar tudo como se o blog fosse dele. É claro que ninguém queria isso e então bolamos a Cabala – um núcleo duro em que os membros caem na porrada nos bastidores, mas que um respeita o outro acima de tudo (mesmo comigo fazendo parte). Assim, o blog nasceu, mas ainda tínhamos muito a produzir e fazer. Creio que essa reunião de fundação se deu dois meses antes de conseguirmos colocar o blog no ar. O maior motivo disso foi o fato de um dos membros – que não continuou – travava tudo o que a maioria concordava, sempre colocando indagações e questões que eram inconvenientes. Depois de uma breve discussão e de uma prerrogativa básica da zoeira – se não aguenta a zoação sem limites, não brinque comigo, pois vou falar de sua mãe se necessário –, falei umas bobagens e essa pessoa se afastou, o que agilizou o processo. O resto é história.

O nerd clássico é aquele relacionado com o Lambda Lambda Lambda, virgem, antissocial, amante de ficção científica e eletrônicos. Como um dos primeiros nerds da história, essa descrição procede? Para você, o que é ser Nerd atualmente?

Revenge of the NerdsAqui no Brasil ainda há um problema estranho – nerd sempre foi confundido com CDF. O problema é o seguinte: um CDF é um cara que sabe muito em todas as disciplinas escolares e, muitas vezes, consegue ir para além dos limites curriculares. O nerd é aquele cara que é entusiasta de vários assuntos, conhecendo temas específicos, mas é especializado em somente um deles ou dois (no máximo). Retoricamente falando, os discursos de ambos são muito parecidos, mas nota-se que o CDF é mais preso aquilo que chamamos de saber oficial. O nerd é mais doido e consegue viajar em temas que são pouco ou nada conhecidos pela maioria da sociedade, pelo homem mediano. Isso era antigamente, na época em que eu era jovem e estávamos ainda conquistando a área ocidental do Brasil.

Hoje em dia, o nerd nada mais é do que uma capa, um rótulo. Como tudo na sociedade de consumo, o nerd se tornou uma logomarca que ajuda a vender produtos, ou você acha que somente nerds de raiz frequentam sites como Jovem Nerd, Omelete, Melhores do Mundo, Baile dos Enxutos ou Iluminerds. Com a expansão do mundo nerd, principalmente com o advento do PC – e sou bem anterior a isso – podemos ver que a temática nerd foi, pouco a pouco, tomando conta do imaginário do homem comum. Com a internet e sua utilização mais globalizada, os nerds também foram se transformando nos seres que conhecemos hoje, leitores recentes que criam suas visões particulares de um todo mitológico maior (até mesmo a informática entra nessa narrativa mitologizante) e atacando os nerds das gerações anteriores. Nossa, como estou Lobão, não?

Pegando como gancho o texto Literatos: 1984, o que você acha da atual situação sociopolítica do país? Vivemos a realidade do Partido, Teletelas e Proletas? Quem fará nossa “revolução”?

No Brasil, temos uma peculiar situação política. Vivemos, desde 1988, a chamada nova Era Democrática e, em seu início, os discursos ideológicos eram a tônica entre os adversários políticos. Ulisses Guimarães, Brizola, Lula, Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Fernando Henrique Cardoso, entre outros, travaram uma verdadeira guerra entre as ideologias dominantes da época. Ou você era de direita (conservador) ou de esquerda (vanguarda, socialista, comunista, etc.). Não havia meio termo. Com a chegada da Era Collor, descobriu-se uma coisa – não importa sua ideologia e seus discursos no Brasil. O que importa é como você pode se coadunar com aqueles que detém as concessões de TV e rádio para produzir discursos editados que podem ser usados contra ou a favor de um determinado candidato. Some-se a isso ao fato de que as classes mais abastadas e a classe média terem uma violenta ojeriza ao voto e o que temos? O voto obrigatório ser somente obrigatório para aqueles que constituem a massa, os manipuláveis, os pobres, aquelas pessoas que não têm tempo para pensar em política (até porque não possuem instrução para isso) e que repetem os dizeres midiáticos como se fossem opiniões suas.

Então, durante essa década, a situação política brasileira ficou nas mãos das empresas de publicidade. Nós permitimos (por ignorância ou por aceitação) que os políticos se transformassem em rótulos e, dessa forma, eles se tornaram empresas de um homem só – corruptos e interessados tão somente em lucratividade máxima em suas cuecas e helicópteros de pó. Note que não somos o único país a transformar um político num produto, os EUA fizeram o mesmo, mas, culturalmente falando, o povo de lá é muito mais preocupado com os rumos políticos de seu país do que nós. Nós ainda pensamos em sobreviver, em “matar o leão” do dia. Então, como poderíamos pensar, nos rumos e roubos que nossos representantes (porque, se você não vota, você financia esse sistema)? Isso abriu espaço para que houvesse um verdadeiro assombro na corrupção e no sistema de impostos brasileiro. Como dizem, somos um dos países que mais pagam impostos no mundo.

Recentemente, graças a internet, vimos a primavera árabe e tivemos consciência de que a massa pode e deve se rebelar quando a situação é prejudicial a nós mesmos. O problema é que ainda temos um inimigo que não vemos ou que ignoramos por completo – o discurso financiado da mídia. Todo mundo resolveu reclamar do quebra-quebra perpetrado pelos jovens, mas ninguém parou para reparar que todos os alvos deles são simbólicos e mostram como o povo tem sido estuprado em seus bolsos. Não vi um black-bloc atacar a mercearia do seu João, mas vejo atacarem as placas da Prefeitura, pontos de ônibus (um cartel nojento), bancos e outras mega empresas. Será que eles estão realmente quebrando as coisas sem algum objetivo? Creio que não mesmo…

Assim, temos a situação atual. O completo esvaziamento dos discursos ideológicos somado ao fato de que não existe esquerda ou direita no Brasil porque simplesmente não há discurso sociopolítico penetrante, somado, ainda, a obtenção de novas formas de informação e ao desmascaramento gradual do conceito de imparcialidade jornalística, criou-se uma panela de pressão que fora amenizada com os oito anos de governo Lula – que fora uma época de entusiasmo e esperança para as massas, tanto que ganhamos a organização da Copa e comemoramos isso. Hoje, a panela está se tornando cada vez mais estufada e, talvez, vejamos um novo momento histórico. Ou talvez vejamos uma nova forma de se pensar a democracia à brasileira, quem sabe?

No post Alan Moore fala e o mundo nerd treme, você citou que os super-heróis “nasceram pela simples necessidade humana em reestruturar a mitologia.” Realmente, a cultura pop não se cansa de “recriar” antigas narrativas através de adaptações, sequências, derivações, spin-offs, prequels e por aí vai. Você acredita que as obras atuais conseguem recriar algo de verdade? Há originalidade nisso tudo?

Sim, conseguem. Grande parte da produção ocidental em qualquer arte é baseada na recriação ou na mudança de visão acerca de um tema. Na verdade, o pensamento artístico nada mais é do que a reformulação contínua de uns oito ou nove temas principais que ganham novas abordagens ao infinito.

Vou responder a segunda pergunta de maneira pouco educada – com outra pergunta. Há originalidade depois de Homero e da Bíblia? A amarga resposta é não! Do ponto de vista temático essas três obras – Ilíada, Odisseia e a “Palavra Sagrada” simplesmente esgotam todos os temas possíveis para as narrativas do Oriente e do Ocidente. Tudo está lá – de tráfico de drogas à traições; de lutas à descrições de alcovas. Então, por que continuamos a fazer as mais diversas formas de arte? Porque a originalidade não importa! Talvez, o que seja importante para as artes, principalmente as artes narrativas, está no fato de que um tema possui inúmeras abordagens e todo artista está fadado a realizar um plágio, mas um plágio em que um determinado detalhe mude a forma com a qual a maioria das pessoas sejam sumariamente enganadas e olhem aquilo como algo único e original, sendo que nunca o fora. Esse engodo das artes é realmente sua beleza – tratar algo velho como eu, como se fosse novo, pelo simples fato de que, ao reapresentá-lo, ele é, de alguma forma, novo.

Só posso concluir que todas as formas de arte não são originais, pois não existem temas novos. Sempre falaremos de amor, ódio, alegria, tristeza, fé, traição, perda, guerra, paz,… mas sempre tentaremos fazer isso inserindo um ou outro detalhe que mude a perspectiva que já conhecíamos de outras obras, aumentando, cada vez mais, o diálogo que é o imaginário artístico.

Em diversos Ilumicasts, somos deparados com seus comentários ácidos e diretos sobre a religião e a igreja, “essa merda dessa instituição”, como colocado no Ilumicast #36. Sabemos, portanto, que há uma ligeira resistência (ironia) em relação ao pensamento religioso. Que resistência é esta? Onde a Religião errou? Não há nada de bom em seguir uma doutrina? Quem é Jesus Cristo para você?

O imaginário judaico-cristão do Ocidente é, possivelmente, o maior inimigo que todos temos do ponto de vista filosófico. É muito difícil vencermos esse imaginário porque a ressonância de seu discurso se encontra nos locais mais inusitados. O meu problema com o pensamento religioso se dá na base do mesmo. Sendo a primeira religião baseada no objeto livro, a Cristandade nunca se atreveu a pensar no objeto como criação do homem. Alguém pode me explicar qual foi o processo de seleção utilizado pelos Concílios para dizer que um determinado Evangelho é aceito e outro é apócrifo? Não! Sabe por quê? Porque ninguém discute essa merda! Se você baseia um invento num manual, ou seja, num livro, você quer que as pessoas entendam esse manual, não é mesmo? Então, por que cargas d’água as pessoas não entendem a Bíblia? Um dos motivos é a leitura versicular que permite que você pegue um dado pinçado de qualquer texto e, tirando-o do contexto em que está, o atualize para afirmar o que você quer afirmar. A leitura versicular é um componente ideológico dos mais perigosos e dos mais mortíferos da história humana.

A religião erra no momento em que investe na coisa mais absurda inventada pelo homem, a fé. O que é fé? É a crença inabalável, porque se baseia no indivíduo acima de tudo, de que há algo superior a mim que pode me livrar da culpa pois me comanda. O problema é que não existe crença inabalável, pois, historicamente falando, deus significou uma penca de coisas contraditórias dentro da mesma Igreja (congregação). Como pode um deus evangélico vingativo? Pois é, ele existe. Como se pode guardar os sábados se não se pode mais guardar os sábados? Aí, muda-se a interpretação e coloca-se o domingo para isso, mas se você for guardar o domingo, segundo o texto, você não pode comer carne e não pode tomar vinho. O que as pessoas fazem aos domingos? Churrasco, porra! Não dá para dizer que isso é uma crença inabalável, né?

De fato, não há nada de bom em seguir uma doutrina porque você perde a maior beleza da humanidade – a capacidade de mudança. Não importa se é para o bem ou para o mal, a mudança é bela a partir do momento que se toma consciência de que mudar é se reinventar, é olhar para sua própria história e perceber que os erros não são tão erros, ou são erros e precisam de melhorias para que você possa viver melhor. Não digo viver em sociedade porque a escolha de cada um pode ser o isolamento. Viver significa se transformar, mesmo que essa transformação doa e isso não possui absolutamente nada relacionado a deus, Kratos, ou a puta que os pariu.

Jesus Cristo é o mais fascinante personagem inventado pela ficção. Olha só a sacada – vamos fazer um cara igual a Sócrates (ele não escreverá uma linha), será o judeu mais fodão de todos (porque é o Cordeiro de Deus), terá superpoderes que o colocarão acima de todos e fará parte da classe média do mundo judeu (carpinteiro naqueles tempos era uma profissão bem rentável), juntemos a isso o posicionamento do Sócrates de ser humilde no tratar com o outro, mas ignoremos a retórica socrática, vamos fazer com que o cara fale por historinhas aparentemente simples, mas que contenham complexidades filosóficas as mais estranhas. Pronto, temos um poderoso personagem que mantém-se ativo no imaginário a mais de 2000 anos. Como não amar esse personagem? Ao mesmo tempo, por que não defender o personagem com unhas e dentes e mostrar como o texto que o originou simplesmente não existe? Tudo o que temos são ecos de sua existência. Novos e novos evangelhos que retransmitem a sua origem e seus feitos para gerações e gerações de leitores. No que a Bíblia tem de diferente dos quadrinhos de super-heróis que fazem o mesmo?

Quer deixar algum recado para seus leitores do Iluminerds? Ou para algum desafeto…?

Galera, continuem acompanhando os Iluminerds. Esses caras se esforçam muito para que vocês possam ter o que pensar durante o dia. E quanto aos meus textos? Se gostou comente, se não gostou comente, mas, como sempre darei um piparote, um pisão e um beliscão enquanto coloco mais uma pouco de hidrocodona na mente.

Até mais, galera…

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 9 comentários

  1. Dr. Housyemberg, eu tenho uma dúvida, com relação a vossa senhoria, e com o objetivo de conhecê-lo de maneira assaz melhor: jacaré no seco anda?

  2. Phill

    Eu tenho uma indagação: Você repetindo várias vezes que não é homossexual, ao falar de sua formação na área das Letras, fez isso por autoafirmação ou para mostrar que, diferente do que diz o estereótipo machista e equivocado, nem todo estudante de letras, como você (entenda como quiser), é homossexual?

    1. Na verdade, seria o estereótipo feminista equivocado. Você, Colossus e eu somos oriundos da mesma faculdade e ouvimos, e muito, que todo o estudante de Letras era viado, inclusive DENTRO dos corredores do 11º andar. Então, trata-se de um assaz oportuno recurso didático, tendo a fé, como a Rede Globo, de que a repetição sistemática traz aprendizagem…

      1. JJota

        Ou uma mentira repetida indefinidamente ganha ares de verdade…

  3. Vilipendiador Unperucked

    Vou ler essa merda não. É muita coisa.
    Esse cara não me representa. hauheuhauheuha

    Mentira! Vou caçar polêmicas em cada linha.

  4. Vilipendiador Unperucked

    Se o Vitor é um eximio expelidor de flatulências, e foi feita a comparação com o Lambda Lambda Lambda… então devo presumir que o Vitor era aquele personagem porco e peidorrento do filme?!

    Temos uma associação, senhores!

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