Como Authority mudou o mercado de quadrinhos.

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Lá pelos idos de 1992, surgia uma editora chamada Wildstorm, um projeto pessoal do desenhista Jim Lee dentro da Image Comics, sim aquela que tem o DEUS Liefeld como um dos fundadores. Em 1999 ela foi comprada pela DC Comics. Ela foi desativada em 2010 e rebootada em 2011 por causa dos Novos 52 (aquele evento que tem mais revistas ruins do que boas, lembra?). Dentro dessa editora existia um supergrupo chamado Stormwatch, que teve seus últimos arcos escritos pelo brilhante Warren Ellis. A revista só se mantinha pelo interesse dos editores na história, se fosse depender das vendas a revista seria descontinuada fácilmente. Por vender pouco, a liberdade criativa era muito grande, afinal, quem vai fiscalizar uma revista que não vende não é mesmo? Warren Ellis decidiu acabar com o Stormwatch e manter os personagens de sua autoria para uma nova empreitada e é aí que nasce o Authority.

Com o fim do Stormwatch, Jenny Sparks monta o seu próprio grupo de heróis, mas o que inicialmente aparenta ser uma liga da justiça contra ameaças externas, logo mostra-se bem diferente do convencional. Temos aqui uma líder com 100 anos de idade, que fala meia dúzia de palavrões e não tem paciência para argumentação. Temos também um casal homosexual que passa quase a história toda entre tapas e beijos, temos um cara que é viciado em drogas e que no futuro entra em um quadro de overdose justamente quando o grupo precisa dele. Authority não é uma história de super heróis, assim como Watchmen ele é um quadrinho para subverter e desconstruir o status quo de como os heróis são retratados. Em sua primeira formação temos Jenny Sparks (chamada de espírito do século XX com poderes de eletricidade), Jack Hawksmoor (ele tem o poder de interagir com as cidades e é chamado de Rei das cidades), Doutor (ele é um xamã, basicamente), Rapina (uma guerreira alada), Engenheira ou Maquinista depende da sua tradução (corpo composto por nanotecnologia de metal líquido e é totalmente moldável), Apollo (basicamente um deus movido por sol) e Meia-Noite (que antes mesmo de entrar em uma luta ele já ganhou).

Nosso propósito pode ser defender a terra, mas isso não significa que vamos ficar sentados e tolerar abusos dos direitos humanos debaixo do nosso nariz. Nós não somos um super-grupo de quadrinhos que entram em brigas sem sentido com criminosos todos os meses para preservar o status quo.

Eu gosto de dividir a obra em duas partes, como ela foi escrita por duas equipes criativas diferentes. A primeira foi Warren Ellis nos roteiros e Bryan Hitch nos desenhos. Esta equipe equivale os primeiros 3 arcos de histórias e é onde tem um maior desenvolvimento na trama e nos personagens. Ellis usa e abusa de viagens temporais, multiversos, seres de outras dimensões tudo isso sem dar muita explicação e por íncrivel que pareça, funciona! Já a segunda equipe é composta por Mark Millar nos roteiros e o Frank Quitely nos desenhos e tudo aqui vira uma ação desenfreada com muita violência e destruição de cidades quase como é visto em Dragon Ball. Nesta fase vemos outra faceta do grupo, vemos eles indo resolver problemas internacionais e ganhando um respeito grande com o governo mundial o famoso “ou você faz o que a gente manda ou você morre”.


Agora vamos justificar o título da matéria, como Authority mudou o mercado de quadrinhos?
Antes da história ser publicada, o cenário era um só: heróis seguindo apenas um padrão conservador seja socialmente ou politicamente. Era muito difícil ou quase nulo ver qualquer personagem homossexual, poderia até ter de uma maneira implícita. Aqui vemos um casal que desde o começo da revista  são assumidamente homossexuais e sofrem os habituais preconceitos (claro que depois de alguém chamar eles de ‘bichinhas’, eles vão lá e esfolam o candango). Estávamos acostumados a ver Peter e Gwen se amando e do nada vem Apollo e Meia-Noite se amando e enfrentando os maiores desafios para manter a relação dos dois. Eles são basicamente versões do Batman (Meia-Noite) e o Superman (Apollo) e parece que isso é de propósito. Afinal, quando que você poderia ver dois seres másculos e que inspiram heterosexualidade se pegando em uma revista? Dá gosto de ver a relação dos dois e no final eles casam e adotam um bebê. E vocês acreditaram mesmo que o primeiro casamento foi aquele lá nos X-Men em 2013?



Tirar satisfações com ditadores e afins pode ser normal agora, com o sucesso do jogo/hq Injustice vemos o Superman se tornando o próprio ditador em prol de um mundo melhor. Lá atrás, Authority já havia feito o mesmo. Jenny Sparks deixava bem claro que tudo que ela fazia era em prol da raça humana e faria a qualquer custo mesmo que isso leve a morte.Você acha que Guerra Civil é um roteiro original do Mark Millar? Pode até ser, mas ele fez antes aqui e depois expandiu na Marvel anos depois. É quase como se Millar focasse seus roteiros já pensando no cinema, tendo em vista Kingsman, Kick Ass e até a própria Guerra Civil. Este ato de ofensiva e tomada de poder podemos ver em muitos quadrinhos depois de Authority. Temos o Demolidor do Bendis se tornando o rei da cozinha do inferno e até mesmo o surgimento dos Supremos, que eu considero uma versão soft de Authority.



Authority é uma obra que aparentemente tem poucas camadas, mas a cada página lida, você descobre que não é somente uma história qualquer. Muitas camadas como abrigo de imigrantes, objetificação da mulher, estupro, abuso de autoridade, preconceito e tantas outras coisas que fica complicado de enumerar todas em um só post. Ela foi relançada no Brasil recentemente então é bem fácil de encontrar pelos grupos de vendas ou até mesmo pelo site da Panini, em 4 volumes e foi finalizada no começo de 2017. Recomendo fortemente a leitura.

 

J. Quill

Escrevendo sobre tudo aquilo que o mundo precisa ~ou não~ saber.

Este post tem 2 comentários

  1. Rodrigo Sava

    Muito bom texto, Quill. Sou fãzaço de Authority desde que ele desembarcou em terras brasileiras via Pandora Books. As hqs do Stormwatch de Warren Ellis publicadas em encadernados pela Panini há pouco tempo também são incríveis, e creio que o laboratório para Authority.

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