COMBARTE! NOVA SERIE – Episodio 3 –

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O avanço tecnológico acabou com boa parte do que era conhecido como “parte burra” do trabalho de feitura de uma HQ – o que garantia os bolsos de bom numero de artesãos do ramo, por décadas a fio!! Pintar escuridões, definir bordas de quadro, etc. etc… A atual rapidez da produção de muita coisa em quadrinhos rola apenas porque as pessoas estão equipadas. Outro lado desse desenvolvimento, foi o fato de isso acabar barateando muito a produção, fazendo com que diversos antigos artesãos e aprendizes tivessem que mudar de ramo. Sim, historia oculta das HQs! Para os leitores, notar esse tipo de coisa não tem a menor graça. Esse é o ‘lado B’: a contribuição silenciosa das melhorias técnicas. Assim, muito do que antes era visto com “aprendizado” foi abolido! Pelo outro lado, trabalhos estonteantes, como os de Bill Sienkiewicz e Dave McKean, teriam permanecido impossíveis! Claro, são as pessoas que fazem a diferença. Aquele nível de colagem, apenas as sensibilidades especiais, armadas de boas máquinas, conseguem.

Solano voltou para a Argentina por causa do Plano Real. Para quem ganhava em dólar, ficar no Brasil não foi bom negócio. O ano de convivência e trabalho que tivemos me fez muito bem. Ainda hoje, lembro contente do meu privilegio: levei ele e a esposa para ver a Velha Guarda da Portela tocando no mercado São José das Artes, em Laranjeiras. Muito bonito ver os artistas velhinhos tocando para o velhinho artista… Em retrospecto, curto também o fato de que voltou para a Argentina e lá foi “posto no colo” por gente muito mais nova, que acompanhava a obra sem conhecer o excepcional ser humano…

Tive também o privilegio de manusear originais criados pelo mestre da colagem em quadrinhos, o fantabulástico artista que atendeu pelo nome de Alberto Breccia, com quem pude conversar por alguns poucos minutos, durante sua vinda ao Rio dois anos antes de falecer, para um evento de HQ no qual trabalhei. O que teria seu trabalho a ver com o de Solano? A princípio muito pouco, pois Breccia experimentava o tempo todo, e Solano se manteve fiel ao seu estilo. No entanto, ambos estavam presos a algo que hoje já não existe: os limites da página!  O que estou dizendo é que o sujeito podia desenhar a página maior do que aquilo que viria a ser impresso, contudo, o que cabia ali era o que cabia ali. Hoje, isso foi pro espaço. Cada desenho, graças ao computador, pode perfeitamente ser realizado numa proporção diferente, e depois a página final é montada, e mesmo diagramada em definitivo, com todos os desenhos prontos e realizados, em separado! Os gêmeos paulistas que citei, Fabio Moon e Gabriel Bá, trabalham  assim  já não é de hoje, desde o tempo dos “Dez Pãezinhos”!! E o tremendo filipino, muito visível em HQs Marvel de hoje, Leinil Francis Wu, rei do detalhes bem postos, também! Sem falar do Mike Deodato… Um olho atento nota… Não daria pra manter proporção com tanto rigor quanto hoje, sem a ajuda da máquina!

A tecnologia e seus progressos, quando realizada de modo fértil sempra ajuda. O que é preciso é um cérebro pensante usando os recursos! Sim, continua!

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