Chacrinha renasce

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Chacrinha faleceu há décadas. É possível que hoje exista quem não o conheça. Impossível, no entanto, é ligar a tevê e não ter diante de si influências do trabalho que desenvolveu ao longo de toda uma vida dedicada ao entretenimento.

Faustão e seu Domingão; Ratinho e seu programa; Marcos Mion e seu Legendários, e, principalmente, Regina Casé e seu Esquenta não seriam como são sem a preocupação em agradar seus públicos, sem o espaço para alguma anarquia, para certas liberdades e para espontaneidade, características dos programas do Velho Guerreiro.

Chacrinha era um gênio. Ele sabia como chamar atenção, como transmitir sua mensagem. Foi o maior comunicador do Brasil e dizia: “Quem não se comunica, se trumbica”. Jogava para o auditório bacalhaus que estavam encalhados numa rede de supermercados, e os produtos acabavam nas lojas no dia seguinte. Era um marqueteiro antes desse termo virar moda.

Vestia fantasias e roupas coloridas e excêntricas, falava o que vinha à cabeça, mantinha dançarinas ao fundo em trajes sumários – as chacretes e tornava sucesso qualquer artista que trazia para os seus programas. E, por incrível que pareça, o maior mérito do musical que leva seu nome aos palcos não é o importantíssimo trabalho de resgate  desse ícone de brasilidade, tampouco a nostalgia e todas as lembranças que vêm a reboque, mas sim o fato de converter num espetáculo emocionante a vida do jovem Abelardo Barbosa, e a estrada que percorreu para se transformar no maior símbolo televisivo da História do Brasil.

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A peça, escrita por Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, e dirigida por Andrucha Waddington, divide a vida do Velho Palhaço em dois atos, sendo o primeiro voltado à sua juventude, do interesse despertado pelas encenações inspiradas na literatura de cordel ao sucesso numa rádio de Niterói, e o segundo ato dedicado aos seus programas de televisão. Excelentes atores, Leo Bahia e Stepan Nercessian vivem a juventudade e a maturidade de Chacrinha.

A cenografia, de Gringo Cardia, utiliza peças móveis, pinturas inspiradas nas xilogravuras típicas do cordel, projeções e uma iluminação espetacular. O cenário do último ato reúne características de cenários dos programas do Chacrinha, com direito a platéia no palco, formada por espectadores e mesa formada por atores interpretando os jurados mais famosos que acompanhavam o Velho Guerreiro, como Pedro de Lara e Elke Maravilha.

Os números musicais são fabulosos, e muitas canções conhecidas terminam por contar parte da história. Os atores revezam-se nos papéis de diversos artistas que cruzaram o caminho de Chacrinha, de Caetano Veloso a Clara Nunes, passando por Dercy Gonçalves e Fábio Júnior. Assistir a essa superprodução é uma oportunidade de se divertir conferindo o que há de melhor na dramaturgia musical brasileira, e de conhecer ou relembrar um gênio da televisão, um modernista antropofagista, um tropicalista, um libertário, um anarquista.

Eu vim para confundir, não para explicar” – ele dizia. A cultura brasileira continua órfã dele. Aquele abraço, velho guerreiro!

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Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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