Capitão América: O Soldado Invernal – by Joe Suhre

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O Iluminerds iniciou uma parceria com o site www.lawandthemultiverse.com e, a partir de hoje, estaremos traduzindo e publicando alguns artigos escritos por seu criador, o advogado e autor James Daily, e seus colaboradores, como o advogado Joe Suhre. O texto original está aqui. Boa leitura!

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Este post especial foi escrito por Joe Suhre, da Suhre & Associates, LLC, uma firma de advocacia com representações em Chicago, Illinois, Dayton, Ohio e em Columbus, Ohio. Joe escreveu, anteriormente, um post em que faz uma Defesa de Loki. (Traduziremos este texto em breve – Colossus)

Apresentação de James Daily: este post contém spoilers significativos do filme Capitão América: O Soltado Invernal. É um filme ótimo, e se você ainda não viu, deve conferir, com certeza!

(Outra introdução de James Daily) Lembre-se de que, no filme, o cientista da Hidra, Dr. Arnim Zola, foi capturado pelos Aliados e trabalhou em conjunto com o governo Norte-Americano como parte da Operação Paperclip. De fato, ele se aproveitou da oportunidade para continuar o objetivo da Hidra, que era o de ruir o governo, por décadas, de dentro pra fora. Posteriormente, seu cérebro foi transferido para um computador, o que o trouxe aos dias atuais. Acabamos descobrindo que Zola foi responsável pela criação do algoritmo usado pelo Projeto Insight, o qual determinava quais pessoas seriam alvos de assassinato preventivo. Sem o conhecimento de muitos dos colaboradores do projeto, o algoritmo também serviria aos objetivos da Hidra, na medida em que matava líderes políticos e militares, indivíduos superpoderosos, dentre muitos outros.

 O Algoritmo do Dr. Arnim Zola

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 Deixemos eufemismos e ideologia política de lado, vamos chamar o algoritmo do Dr. Zola do que ele realmente é: uma catalogação de perfis (perfilação). A versão do classificador de perfis do Dr. Zola no Capitão América: O Soldado Invernal, pode ser até um pouco mais sofisticada que a classificação racial ou de outros tipos de perfis – afinal de contas, a dele é baseada em matemática – mas isso não a torna menos desumana e injusta, apesar de sua fórmula cuidadosamente refletida.

O problema com a criação/manutenção de perfis específicos é que muitas pessoas podem ser convencidas de que isso é uma boa ideia*. O filme introduz alguns argumentos a favor de tal perfilação, logo no começo, quando Nick Fury apresenta ao Capitão América a nova frota de Aero-Porta-Aviões e o conceito de ataque preventivo contra o mal. O sempre lúcido Capitão América rapidamente denuncia a ideia, mesmo antes de perceber a magnitude total do projeto.

“Isto não é liberdade; é medo.”

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O comentário do Capitão América acima certamente demonstra a natureza do Projeto Insight, mas também é uma descrição apropriada do ato de perfilar, de maneira geral. Em nossa versão do Multiverso, classificar perfis como parte de uma política tática sem sanção cria o medo. Pergunte a alguma pessoa que tenha sido enquadrada em um perfil qualquer; tal pessoa, após ter sido “parada para averiguação e revista”, enquanto simplesmente andava pela rua, começa a ter medo a cada vez que deixa sua casa. E não se sente livre.

Quando encontramos o Dr. Zola no Capitão América: O Soldado Invernal, vemos que ele se integrou à sua rede de computadores, infundindo sua mente no sistema. Tornou-se, assim, pensamento racional puro. Uma vez que creio que Dr. Zola perdeu toda sua humanidade sendo um nazista, considero o evento da transferência de sua mente para uma rede de computadores meramente redundante; apesar de que sua manifestação como um programa de computador foi uma metáfora excelente para expor sua desumanidade.

Qualquer um que cria perfis de determinado segmento de uma população tende a demonizar tal segmento: vê estes seres perfilados como menos merecedores da proteção da lei, em virtude de seu valor humano reduzido. Ironicamente, assim como também ocorreu com o Dr. Zola, aqueles que criam e segregam pessoas em perfis também perdem sua própria humanidade no processo.

Que papel a Hidra realmente teve?

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Sei que a Hidra é uma das grandes organizações de malfeitores no multiverso dos Vingadores, mas que papel a Hidra realmente teve no Projeto Insight? Parece que muitos dos Norte-Americanos patriotas de alto escalão já estavam a favor deste tipo de perfilagem em larga escala mesmo sem a ajuda da Hidra.

Diplomatas, legisladores, e mesmo homens como Nick Fury, cansados da guerra e do mal infindável, foram convencidos a atacar todos os inimigos de uma vez, conduzindo a uma nova era de paz. Em vez de encarar uma guerra contínua, um ataque preventivo não seria mais atrativo aos homens e mulheres racionais? Alexander Pierce, chefe do Conselho de Segurança Mundial, poderia ver tal plano, logicamente, como algo que poderia ser implementado sob sua autoridade.

Tais pessoas precisavam, evidentemente, não só da capacidade mental do Dr. Zola de criar um algoritmo pra classificar e perfilar toda e qualquer pessoa no planeta, mas também da falta de consciência de um doutor nazista que nunca teve que enfrentar um Tribunal Penal Internacional. Seu algoritmo não apenas apontaria as pessoas certas: também seria frio, calculado e sem perdão.

Como um dos integrantes da Organização Hidra original, Dr. Zola também foi o professor perfeito para ensinar seus “novos melhores amigos”** a respeito do valor da Hidra como um governo de bastidores. Afinal de contas, a Hidra germinou e prosperou na Alemanha Nazista, o governo mais autoritário do Século XX; que outra organização poderia se infiltrar melhor no governo dos E.U.A., na ONU, e em outras organizações para conseguir gerar suporte ao Projeto Insight?

Vender Genocídio Como se Fosse Altruísmo

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Tudo que Pierce queria era a paz na Terra para 7 bilhões de pessoas, em troca da vida de um terço de um por cento da população. Só isso. Em termos médicos, é uma remoção de barba com laser. Tendo em vista a possibilidade de haver meios para eliminar tão poucos para um fim tão glorioso, é fácil ver como a Hidra persuadiu tantas pessoas a apoiar o Projeto Insight; a preparar os alvos e até mesmo a puxar o gatilho.

Como em qualquer genocídio, dar a este ato terrível um nome interessante que seduza, influenciando as pessoas a se reunirem a ele, é muito importante. Hitler chamou o Holocausto de A Solução Final; o grupo de eufemismos para os assassinatos em massa incluiu nomes como limpeza, expurgo, e mesmo O Grande Salto Adiante. Tal foi o caso do Projeto Insight. Chamá-lo de Insight (introspeção, na mira – Colossus) tornou-o pragmático e iluminado.

Outra linha comum em cada um destes eventos foi algo já mencionado acima: uma campanha insidiosa com o objetivo de demonizar e desumanizar um grupo específico. Uma vez que se consiga convencer a todos que tal grupo em foco seja um perigo ou ameaça à sociedade civilizada, vender a ideia de um programa de classificação de perfis é fácil.

Deem Um Tempo pro Alexander Pierce

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Não me levem a mal; não sou fã do Alexander Pierce nem endosso seu modo de pensar. Mas, como advogado de defesa criminal, vejo tipos como ele o tempo inteiro. Estas pessoas não acham que perfilar os outros é errado, mesmo quando reconhecem tal ato, veem como sendo algo eficiente, que poupa tempo e é um modo efetivo de aplicação da lei. Tais pessoas ouvem a retórica de Alexander Pierce e entendem sua matemática como algo um tanto quanto razoável. Entendem que classificação de perfis é algo patriótico, a ser usado em nome da segurança e da ordem. Também não veem nada errado em um ataque preventivo. São as mesmas pessoas que continuam a impor táticas do tipo “pare-e-reviste-indivíduos”, uma estratégia peculiar, que combina em um só ato o reconhecimento de perfis e o ataque preventivo.

E que Fim Leva o Dr. Zola?

Homens como o Dr. Zola sempre ficam nos bastidores, inventando novas maneiras de identificar e purgar da sociedade qualquer um que possa interromper a ordem. Ouso dizer que alguns Zolas modernos podem sair do Capitão América: O Soldado Invernal e começar a produzir seus próprios algoritmos.

Conclusão

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Como espécie, precisamos almejar a ordem, uma vez que nos últimos 75 anos dezenas de milhões de pessoas morreram em nome da “ordem” nas mãos de soldados e políticos. Olhamos tais eventos em retrospecto e lamentamos não termos podido fazer nada para salvá-los, e, ainda assim, nos damos ao luxo de fazer a mesma coisa em uma escala muito menor.

É óbvio à maioria das pessoas que tudo que foi feito em nome da Hidra foi ilegal; ainda assim, estas mesmas pessoas vão tolerar a não condenação de alguém que dirige alcoolizado ou o ato de revistar alguém ilegalmente pelo mero fato de esta pessoa “parecer suspeita” (sendo que a palavra “suspeito”, nestes casos, significa negro, latino ou qualquer pessoa que se encaixe neste perfil.)

Para a maioria das pessoas, e fácil perceber a natureza insidiosa e inumana do Projeto Insight, mas quantas pessoas podem fazer a conexão entre os objetivos de Pierce e os métodos usados numa escala menor por cidades, em todos os E.U.A, para conseguir os mesmos objetivos?

Os vilões nem sempre dizem “Hail Hidra”.

* Pulse Opinion Research, LLC, a agência de pesquisas de opinião do Rasmussen Reports™ afirma que 60% dos Norte-Americanos são a favor de que a polícia classifique perfis raciais e étnicos para verificar o status de imigração de indivíduos.

** Referência do Coronel Chester Phillips ao anistiado Dr. Zola.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 3 comentários

  1. Harvey_o_Adevogado

    talvez um dos melhores filmes da marvel.

  2. JJota

    Sobre o filme, posso dizer que colocou bobagens como Vingadores e Homem de Ferro em seu devido lugar.

    Uma coisa que sempre me chama a atenção é como nossas lutas nos levam, inexoravelmente, a uma completa desilusão. Lendo o livro Band of Brothers, vi uma passagem em que um prefeito holandês disse que se negaria a apertar a mão de Norman Schwarzkopff, comandante da Operação Tempestade do Deserto, por ter suas mãos “sujas de sangue”. Recebeu a carta de um ex-soldado dizendo que nunca iria apertar as mãos do prefeito, pois, infelizmente, sujou as mãos de sangue (muito desse de amigos queridos) justamente enquanto lutava para libertar sua cidade das mãos alemãs na Segunda Guerra Mundial.

    Da mesma forma, espetáculos deprimentes como a humilhação pública de mulheres francesas por terem sido “amantes de nazistas” escondiam muito da covardia imoral de gente que fez coisa muito pior para sobreviver durante a ocupação de uma boa parte do seu país pelas tropas do Reich.

    A idéia de “seleção”, principalmente através de esterilização e separação em reservas, já foi defendida e/ou aplicada em diversos momentos históricos, como na colonização das Américas e como uma das formas para resolver a questão “dos retardados” na Inglaterra. Aliás, um das pessoas que defendia a esterilização de pessoas mentalmente incapazes foi Winston Churchill (que também achava que “indianos” eram “menos que gente”).

    Max Hastings, no seu livro Inferno, conta como os pilotos americanos, recém-ingressos na Segunda Guerra, ficaram chocados com a forma como os pilotos ingleses calmamente bombardeavam vastas áreas civis na Alemanha, em uma sistemática campanha de terror. Um comandante norte-americano, no entanto, previu acertadamente o futuro ao dizer “Hoje, estamos chocados. Amanhã, superaremos vocês em barbárie e selvageria!”

    Todos os exemplos citados levam a questão da desilusão. Desilusão que provoca o cansaço e que nos faz procurar as tais soluções preventivas, esperando que as mesmas sejam definitivas. É o que nos faz querer que a polícia seja toda composta por capitães nascimento e o exército de rambos.

    Mas… percebeu? Giros e giros… A Humanidade está sempre voltando para o ponto errado da História em algum momento, muito por conta de um fenômeno imundo chamado… politicagem.

    Por isso caras como Pierce continuam assombrando o mundo. Por isso, com tudo o que já aconteceu de horroroso, há quem defenda idéias nazistas nos dias de hoje. Por isso, pessoas chegam a publicar livros onde “provam” que não houve Holocausto e que toda a história do massacre de 4.000.000 de judeus nas mãos de terroristas com suástica é “propaganda” semita.

    O Projeto Insight, amigos, existe. No mundo real. Em várias escalas. E talvez você, sem perceber, até apoie alguma das suas variantes sem perceber…

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