Cadernos de Viagem – De Laudo Ferreira

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Corajoso! Este é o adjetivo usado pelo quadrinista André Diniz no prefácio de Cadernos de Viagem, novo trabalho de Laudo Ferreira, com cores de Omar Viñole. Corajoso certamente é a melhor definição para esta HQ e por algumas razões – despir-se de suas roupas é algo corriqueiro, despir sua alma diante de um público já não é algo tão fácil. Ao ficarmos expostos, nos tornamos vulneráveis e, estando vulneráveis, nos abrimos para sentimentos que nem sempre são positivos.

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Embora a história seja (e não seja) autobiográfica, os nomes e aparências foram alterados, o que não diminui a sensação de estarmos em uma sala, frente a frente com Laudo em um bate-papo bem intimista. Sim, o leitor é um grande amigo nessa viagem! Um cúmplice e confidente, que, embora não possa aconselhar o personagem (Miguel), tem a sensação de estar bem próximo de tudo que está acontecendo.

É preciso, por esse motivo, estar aberto ao fato de que as pessoas lidam com seus monstros de formas diferentes – alguns recorrem à mesa de bar, outros à terapia, Miguel recorreu à Ayuhasca e foi por meio do trabalho xamânico que conseguiu viajar até os confins do seu “eu”, voltar à infância, passear pelo futuro para entender como algumas situações que parecem tão insignificantes o afetam no presente.

Laudo nos leva, com imagens lindas e um trabalho bem sensível, em uma viagem de autoconhecimento com a qual é impossível não se identificar. Os detalhes que compõem as cenas em que Miguel toma o chá, em meio à floresta, são bem impressionantes devido à semelhança com relatos de pessoas que costumam seguir o mesmo ritual.

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Cadernos de Viagem também fala sobre crescimento, transformação, escolhas e sobre como é difícil e doloroso ter que lidar com a vida, principalmente se ela segue rumos que não planejamos. Ego e vaidade são qualidades que podem comprometer o trabalho de um artista, conferindo ar de pretensão à sua obra. No caso de Laudo, eles passam bem longe da HQ. Não se trata de uma autobiografia no sentido de “Olhem, sou tão interessante! Vejam como minha vida é inspiradora! ”, mas de “bom, eu sou falível, tenho várias questões com as quais devo lidar e uma HQ seria uma catarse”. É isso! Me pareceu um processo catártico e que, no fim, você tem a sensação de vai dar tudo certo! Ficaremos bem.

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

Este post tem 2 comentários

  1. Elaine Luze Neto

    Belo artigo sobre esse artusta que admiro muito! Elaine

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