Ponta de Estoque: Assassin’s Creed 3

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Sempre tem gente fazendo cobertura de novos games, porém, ninguém se lembra daqueles que não têm dinheiro pra ficar comprando lançamentos, mas também querem ter seus joguinhos. Esse é o objetivo básico dessa coluna: ajudar a orientar as pessoas que querem ter jogos sem gastar tanto, e não se importam que sejam mais antigos. Além disso, também é uma desculpa barata pra cagar regra em cima de jogos antigos que ainda são vendidos em promoção pelos camelódromos e infocenters da vida.

O jogo de hoje será Assassin’s Creed 3; lançado em 2012. Com o lançamento de Assassin’s Creed 4: Black Flag, seu antecessor começa a figurar nas lojas em eventuais promoções, podendo ser encontrado a preços realmente interessantes.

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Conforme idealizado pelos criadores do jogo, o arco de histórias do assassino contemporâneo Desmond Miles sempre foi pensado como uma trilogia, e termina agora, com a edição de Assassin’s Creed 3. Deixamos Assassin’s Creed: Revelations com Desmond tentando se infiltrar no Grande Templo dos Primeiros, para desvendar o grande segredo que pode culminar com a destruição do mundo como o conhecemos. Para isso, ele ainda conta com a ajuda de Shaun Hastings e Rebecca Crane, e de seu novo aliado: seu pai. Para descobrir como se infiltrar no Grande Templo, Desmond volta a usar o Animus numa versão melhorada, a 3.0, para investigar seu passado como assassino da Ordem e tentar descobrir novas pistas.

AC3-Animus.3.0

Dessa vez, Desmond incorporará seu terceiro antepassado: Ratonhnhaké:ton, um Iroquois mestiço, filho de uma índia e de um templário inglês. Ratonhnhaké:ton passa a adotar o nome de Connor Kenway, e caminha, inicialmente, pelo rumo da vingança (Connor tem sua mãe assassinada pelos comparsas de seu pai), para acabar se tornando uma das peças decisivas para a concretização da Independência Americana. Nesta trajetória, Connor cruza com figuras célebres da história Norte-Americana, como Benjamin Franklin; Benedict Arnold; Samuel Adams; Paul Revere; George Washington; dentre outros.

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George Washington, na visão dos designers do game.

A história do jogo continua tendo por eixo principal o conflito entre os Templários, que defendem uma sociedade ideal, não medindo esforços para atingir seus objetivos; e os Assassinos, que defendem o livre arbítrio absoluto. A grande diferença de abordagem da história, nesta terceira edição, se dá no esforço consciente de tentar tirar o estereótipo de “bandidos” ou “vilões” dos Templários. Tal esforço é evidente logo no início do jogo, em que jogamos com o pai de Connor, o cavaleiro templário Haytham Kenway. A partir daí, percebe-se que os criadores do game forçam o jogador a um exercício de alteridade, colocando-o na pele do grupo rival, e demonstrando seus motivos e argumentos de defesa. Depois de um breve período jogando como os Templários, não há mais como pensar que eles são simples “máquinas de fazer o mal”. Ao contrário; são tão abnegados quanto os membros da Ordem dos Assassinos, e realmente acreditam estar fazendo a coisa certa.

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Um dos grandes destaques deste jogo, Haythan Kenway é um ótimo personagem. Seus diálogos são repletos de mordacidade e ironia, e o modo templário de ver o mundo é colocado de maneira tão sutil que, ao fim da primeira parte do jogo, quando seu status de cavaleiro templário é revelado, mesmo assim, a revelação fica sendo um choque (pelo menos pra mim… Apesar de seus ideais contrastarem com os dos Ordem, eu ainda achava que estava jogando com um Assassino…). Quando ele se revela um templário, ocorre uma brilhante sacada dramática dos criadores do jogo.

Se, por um lado, a inclusão de Haytham Kenway é extremamente feliz, o desenvolvimento da história do nosso protagonista, por outro lado, se mostra corrido. Ao contrário de Ezio Auditore, o qual vemos, lentamente, ao longo de Assassin’s Creed 2 e suas sequências (Brotherhood e Revelations) se transformar de um playboy um tanto quanto insípido e inconsequente num assassino letal, uma figura lacônica, realmente envelhecida pelas vicissitudes da vida, transbordando de verossimilhança, Connor Kenway passa por uma adolescência corrida, que corresponde a aproximadamente 10% do jogo, e não nos dá nenhuma sensação de profundidade. O menino não nos passa, em seus diálogos, muito de sua visão de mundo, e, quando adulto, parece confuso, e, em muitos momentos, despropositadamente irritado. Apesar de ser da vontade dos produtores do jogo que Connor fosse confuso, revelando traços de sua miscigenação, tal confusão não é realizada no nível do roteiro, pois ele parece bem certo do que deve ser feito ao longo do jogo, em matéria de objetivos e metas; a confusão se dá no lugar errado: em seus diálogos.

AC3-Connor Kenway
Quanto à mecânica do game, este passa a usar a nova engine, especialmente criada para ele, a AnvilNext, que traz toda uma nova dimensão para a franquia. Assassin’s Creed 3 é simplesmente deslumbrante. O jogo vai além dos cenários urbanos e passa a retratar também extensas regiões de florestas dos Estados Unidos: um país ainda selvagem, grandemente desabitado e quase hostil. A nova engine permite ao protagonista mover-se pelas florestas como um verdadeiro caçador, quase um animal. Graças às inovação na física do game, Connor pode escalar árvores e correr pelas suas copas, espreitando seus inimigos de cima, sem ser visto. Além disso, a quantidade de texturas e efeitos climáticos que agem sobre o jogo é de cair o queixo: agora há chuvas, neves e porções de água extremamente bem feitas. Aliás, falando em mar, outro grande destaque positivo do game são as batalhas marítimas. Os combates de navio são simplesmente fascinantes e infelizmente curtos demais. Em uma resposta direta a esta reclamação, a Ubisoft nos deu o posterior Assassin’s Creed 4: um jogo repleto de combates marítimos; um maravilhoso jogo de piratas; tudo isso, menos um real Assassin’s Creed…

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Um festival de nuances de cores e sons. A floresta de Assassin’s Creed 3 é um espetáculo à parte.

A mecânica de luta também sofreu modificações. Ao contrário das edições anteriores da franquia, em que era necessário apenas ficar segurando o botão ‘R’, tornando o contra-ataque uma situação corriqueira, e seu personagem numa verdadeira máquina de matar, agora o contra-ataque passa a ser feito apertando um botão no momento em que um ícone triangular vermelho aparece acima da cabeça dos inimigos, exigindo mais reflexo e tornando necessário que o jogador tome consciência dos arredores e dos movimentos de inúmeros inimigos que vão se acumulando no seu entorno. Tal inovação, apesar de bem vinda, veio com inúmeros problemas: o comando de contra-ataque muitas vezes falha, deixando você vulnerável a uma série de ataques do inimigo. Além disso, a inteligência artificial do jogo, nos momentos de combate aberto, deixa muito a desejar. Apesar de, em certas situações, você ter por volta de quinze inimigos ao seu redor, raramente vários adversários atacam em conjunto (no máximo, há um ataque adversário em dupla, que não é comum e é difícil de ser contra-atacado. Aliás, quando o jogador consegue dar o contra-ataque, é presenteado por cutscenes belíssimas, que mostram toda a perícia do Assassino, e variam de acordo com a arma usada). É muito frequente que os inimigos ataquem um de cada vez, e não de maneira inconstante e variada, tornando a situação inverossímil e de fácil resolução. Estes problemas só serão parcialmente solucionados em Assassin’s Creed 4: Black Flag.

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O triângulo vermelho acima da cabeça do soldado granadeiro indica a hora de se apertar o botão ‘círculo’. A ideia é boa, mas falha.

A nova engine também se mostra ainda crua de uma maneira geral. Há inúmeros bugs no jogo: desde momentos em que você simplesmente fica “preso” entre paredes invisíveis, até situações em que, inexplicavelmente, você é teleportado para “dentro” de uma pedra… É bisonho. Mesmo. Além disso, há vários bugs de texturização que mais têm a ver com as limitações técnicas da sua geração (PS3/Xbox 360) do que com o jogo em si mesmo (a versão do game em PC é quase impecável, nesse sentido). Da mesma forma, o uso das habilidades Parkour, tão celebrado e vital nos outros jogos da franquia, não é tão encorajado nesta edição. Além de as ruas serem muito largas, promovendo inúmeros espaços enormes entre um quarteirão e outro (proibindo a corrida fluente por cima de telhados), frequentemente os telhados são tomados por grupos de soldados, que avistam nosso protagonista com muita facilidade, tornando a corrida cheia de empecilhos, já que é necessário matá-los ou correr deles para seguir em frente. Acaba sendo muito mais vantajoso andar a cavalo pelas ruas… As sidequests, missões paralelas, também estão mais escassas nesta edição, tornando este o mais linear de todos os jogos da série.

Apesar de todos os problemas, este ainda é um grande exemplar da franquia Assassin’s Creed, que honra dignamente a série. Mesmo não tendo a mesma profundidade histórica e de personagens conseguida na primeira e segunda edições, e exibindo uma nova engine, ao mesmo tempo promissora e ligeiramente capenga, é um jogo indispensável para o fã da série e bem vindo ao jogador eventual. Uma vez que a jogabilidade foi essencialmente modificada, não é necessária prática nos jogos anteriores para você conseguir progredir nesta edição da franquia. Enquanto Assassin’s Creed 4: Black Flag pode ser encontrado a preços que vão de R$ 160,00 a R$ 199,00, Assassin’s Creed 3 pode ser facilmente encontrado por uma faixa de preço que vai de R$ 80,00 a R$ 100,00. Vale a pena.

FICHA TÉCNICA.

Plataformas – Playstation 3 e Xbox 360
Ano de lançamento – 2012
Nota – 8,5
Preço – de R$ 80,00 a R$ 100,00

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

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