As Selfish-Driven Researches dos “Formadores de Opinião” On-line

Você está visualizando atualmente As <i>Selfish-Driven Researches</i> dos “Formadores de Opinião” On-line

Wellington é o neto adolescente de Antenor. No auge de seus 16 anos, decide criar um blog a fim de expor ideias e pensamentos sobre assuntos de seu interesse. Ele se sente muito estressado e precisa desabafar com o mundo. A base de pesquisa de Wellington para os posts são textos compartilhados pelos amigos no Facebook e sua ampla experiência de vida ao longo dos anos 2000. Em um de seus textos, sábio Wellington começa assim:

Não sou especialista no assunto, mas com certeza o homem ainda não pisou na Lua.

meme-2256-gente-cuidado-pro-welinton-nao-ficar-revoltadoTodos temos direito à opinião. Mas, se você assiste a filmes americanos, está careca de saber que também possuímos o direito de ficarmos calados. Não quero desmerecer o adolescente que expõe suas ideias, contudo, não posso estimulá-lo a fazê-lo de forma tão parcial e despreparada.

Recentemente, mais uma briguinha de Facebook nos divertiu. Ocorreu entre um músico e uma economista – não citarei seus nomes para não contribuir com a relevância nas pesquisas do Google… Não abordarei o conteúdo em si, mas destacarei um ponto importante do discurso inicial do músico. Após alguns questionamentos, ele coloca: pergunta de leigo, pois não sou economista. O que isso quer dizer? Ele admite que não é capaz de responder às indagações, mas, por outro lado, sente-se à vontade para discorrer sobre o assunto?

Se há reconhecimento da incapacidade de julgamento, simplesmente não julgue! Não é preciso restringir a discussão sobre economia apenas aos bacharéis na área. A minha questão – novamente – é a falta de senso crítico sobre o próprio conhecimento. Para facilitar, e eu não cair no mesmo erro do músico, partirei para um exemplo dentro da minha área de especialização: videogames.

No início de agosto, um site especializado publicou uma lista com cinco jogos que “sacudiram o mundo do videogame”. Achei interessante, pois estou justamente estudando a história dos videogames para o Doutorado (carteirada). O conteúdo possui julgamentos superficiais e baseados no senso comum, principalmente por pontuar tão fortemente a causa de um evento. Por exemplo, o texto afirma que Mortal Kombat foi o responsável pela criação do Entertainment Software Rating Board (ESRB). Entretanto, Night Trap, de 1992, foi igualmente importante. Na realidade, o que esses jogos fizeram foi chamar atenção sobre o real consumidor de videogames: não era apenas a criançada (foco da Nintendo), mas incluía adultos também. A necessidade, portanto, da criação de uma classificação etária veio da constituição do público consumidor, não de um jogo específico.

night-trapAlém disso, a discussão sobre conteúdo violento já começara em 1976, com o jogo Death Race. Entre 1981 e 1982, os medos em relação à prática de videogames, como vício e violência, levaram a movimentos que tentaram reprimir os arcades. Alguns foram alvo de restrições e, em alguns lugares, até proibidos. Em resposta a esse movimento, os arcades começaram a ser chamados de “centros de entretenimento familiar” (family entertainment centres) – pois é, esse macete não foi inventado pela Nintendo… Alguns estabelecimentos até começaram a requerer registro como membro para se jogar.

Outro exemplo é a afirmação de que o jogo E.T., da Atari, foi o responsável pela quebra da indústria dos videogames – como ele era ruim e muitas cópias foram feitas pensando no sucesso, as baixas vendas finalmente geraram a quebra do mercado. Calma aí! Não é assim tão simples. A crise é resultado de um conjunto de fatores: recessão econômica e menor poder aquisitivo, redistribuição dos consumidores entre os mercados de arcades, consoles, computadores e VCRs e diminuição das receitas (os produtos vendidos mais baratos). O jogo E.T. The Extra-Terrestrial, lançado no Natal de 1982, é bom para resumir o boom e a queda do mercado. Foi um jogo feito a fim de aproveitar o sucesso do filme de Spielberg, lançado no meio daquele ano. O presidente da Warner fez um acordo de $25 milhões com Spielberg pelos seus direitos e simplesmente passou a demanda para a Atari. Além de pouco tempo para o desenvolvimento, a falta de ação do filme prejudicou a adaptação.

Se tivermos de selecionar um fator como estopim, com certeza não foi o E.T. O estouro da bolha ocorreu no começo de dezembro de 1982 com o anúncio da Atari de que seu crescimento para o último quarto do ano, apesar do lançamento do Atari 5200 e do jogo E.T. para o VCS 2600, seria apenas de 10% a 15%. Com isso, o valor das ações da Atari caíram mais de 30% e investidores perderam a confiança no mercado. Nos dois anos seguintes, muitas empresas faliram.

E como eu sei sobre isso? Estudando. Abrindo livros, sites, comparando informações etc. Desta vez, tive sorte de estar pesquisando o assunto. Mas e as inúmeras reportagens que consumimos na mídia e nas redes sociais sobre algo que não estamos nos especializando? A quantidade de erros e preconceitos publicados como verdades absolutas são enormes…

Obviamente, ninguém precisa estar em um doutorado para escrever sobre algo. Basta um mínimo de bom senso e reflexão sobre os próprios níveis de conhecimento. Como sei isso? Quais evidências comprovam o que eu disse? Existem argumentos contrários aos meus? Quais e de quem? O que eu quero publicar vai ajudar alguém? Vai gerar debate construtivo ou apenas brigas? Vale a pena expor? São perguntas simples que auxiliam no momento de ponderação sobre o conteúdo.

É um erro basear o julgamento no limitado campo de visão cotidiano, nos levantamentos que utilizam o pensamento egoísta que considera o mundo como exclusivamente aquilo que te cerca. É preciso ir além a fim de realmente gerar um pensamento bem estruturado. E isso só vem por meio de esforço físico e intelectual.

Wellington escreve seus pensamentos com base nos 16 anos que possui e naquilo que vivencia com os 327 amigos de Facebook. E isto, dentro dos 200 mil anos do homo sapiens e dos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, não é nada.

revolucionario-globalizado-2
crédito: André Dahmer

Não quero ser pessimista, mas está difícil ignorar esta constante jornada para a total aniquilação do pensamento crítico.

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem um comentário

  1. Harvey_o_Adevogado

    não sei o motivo, mas lembrei de um joguinho safadinho chamado Cobra para PC, o detetive particular pegador.

Deixe um comentário