Antes e Depois – Excitebike

Você está visualizando atualmente Antes e Depois – Excitebike

Quando era pequeno, assisti sozinho ao filme O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick. Lembro que na época achei o filme o máximo, um clássico do terror. O Hotel Overlook era um local amaldiçoado e o pequeno Danny, coitado, estava indefeso lá – assim como eu, vendo aquele filme. Os corredores, o jardim, o quarto 237, aquela velha pelada e pegajosa, Jack Torrance correndo atrás de sua família com o machado na mão.

All work and no play makes Jack a dull boy.

Redrum

Eis que, aproximadamente 20 anos depois (ou dez anos atrás…), revi o mesmo filme. Meu trabalho final de graduação foi escrever um roteiro de longa metragem. O tema era de suspense sobrenatural. Para isso, analisei dois roteiros: o Bebê de Rosemary e O Iluminado. A impressão sobre o filme mudou totalmente. Ele não estava mais assustador; nem Jack Nicholson, com suas sobrancelhas infernais, me aterrorizava. Além disso, em relação ao roteiro, achei o filme muito curto e pouco trabalhado nas fases da jornada do herói, principalmente se comparado ao detalhamento e aprofundamento que o livro possui.

A questão é: deixei de gostar do filme?

Claro que não! Continua sendo um clássico. Não é porque cresci, amadureci ou vivenciei outras linguagens e experiências que o filme se desfez enquanto marco. Mas é inegável que minha impressão sobre ele foi alterada com o passar do tempo.

Esta constatação não ficou só nos filmes. Comecei a questionar minhas impressões sobre jogos. Será que os jogos que me marcaram na infância e adolescência possuem o mesmo impacto hoje?

Nesta série, proponho fazer uma viagem ao passado e descobrir se o que senti anos atrás continua valendo. A ideia é selecionar alguns títulos clássicos (para mim), expor o que me lembro do jogo e, só daí, jogá-lo novamente. Primeiramente, apresento o “clima” que me lembro do jogo (claro que posso cometer erros, pois é possível que a memória se confunda), tanto as impressões de jogabilidade quanto do momento na minha vida (o que era). Aproveito para falar um pouco de suas características reais, como ano de criação, plataforma e enredo (o que é). Em seguida, jogo-o novamente (graças a Deus existem os emuladores!) para constatar a possível nova impressão (o que passou a ser).

Para o “piloto”, escolhi o Excitebike, do Phantom System (é, joguei Phantom e não Nintendinho…só Deus pode me julgar!).

O que era

Lembro-me mais deste jogo com meu irmão mais velho (algo que se repetirá em diversos jogos). Ele era sempre o controle um e eu o dois (coisas de hierarquia familiar…) – neste caso, não me lembro se revezávamos ou se jogávamos juntos.

O som da moto continua bem forte na minha cabeça, assim como as piruetas e as quedas. Os gráficos eram “fofos”, com cores fortes e uma moto pequenina que mais parecia uma bicicleta.

O jogo parecia que não tinha fim, jogava até cansar. Lembro que havia modos de campeonatos, mas isso não era importante. O legal se resumia apenas a pilotar bem rápido sem cair. Assim, apesar de controles e jogabilidade simples, a impressão que tenho era de divertir-me bastante com ele, mas sem muito aprofundamento ou desejo por zerá-lo.

O que é

Excitebike foi desenvolvido, em 1984, pela Nintendo, originalmente para Famicon. Nele, o jogador é um piloto de motocross cujo objetivo é chegar em até terceiro lugar nas corridas dentro de um determinado limite de tempo.

Os comandos são simples: aceleração, aceleração forte e o diagonal (troca de faixa e inclinação). Ao acelerar muito, a moto esquenta, forçando a parada. Outros obstáculos que atrasam o piloto são trechos com areia, grama, quebra-molas e rampas.

O jogo possui três modos: jogar sozinho (Selection A); jogar contra a CPU (Selection B); e construir a própria pista (Design).

O que passou a ser

Algo que com certeza se repetirá em outros jogos é o choque em relação aos gráficos… Não há como não ser impactante. Hoje, poderíamos caracterizá-lo como simples, pois estamos na fase FullHD (menos o Nintendo Wii, plataforma para mocinhas…). É importante ter em mente as limitações tecnológicas da época em que ele foi criado. Excite Bike pertence à geração 8 bits, não podemos compará-lo ao processamento dos jogos atuais. Entretanto, para o que se propõe, a inferioridade dos gráficos, se comparada diretamente à geração atual, não atrapalha em nada a diversão. Da mesma forma que o som, beirando  toque de celular, o ronco do motor e o aviso de superaquecimento continuam empolgantes e desesperadores.

As primeiras pistas são fáceis. O que cria dificuldade não são elas em si, mas o tempo mínimo para se chegar até o terceiro lugar. Não há complexidade na jogabilidade, basta subir e descer pelas faixas e calcular as quedas de acordo com o chão (inclinar se for cair sobre uma rampa). Os obstáculos, a princípio, não são difíceis, mas quando você luta contra o tempo, qualquer areia ou grama atrapalha.

Provavelmente, se ele fosse criado hoje, teríamos a possibilidade de comprar novas motos, atualizá-las, competir on-line contra outros jogadores e elevar as habilidades do personagem, como destreza, olhadela de retrovisor, visor contra insetos, força no punho, ângulo de inclinação… Um tutorial seria necessário para ensinar como funciona o ganho de dinheiro com as corridas, sua aplicação na bolsa de valores e em notas do tesouro nacional, o investimento em montadoras e o possível recebimento de dividendos. Durante as corridas, haveria mulheres de shortinho na beirada da pista balançando bandeirinhas, além da narração exclusiva do Galvão Bueno.

Apesar de “bobo” na jogabilidade, Excitebike diverte, pois gera tensão e satisfação ao buscar a vitória. E não sei se é a mágica do sentimento nostálgico, mas a empinadinha ao vencer continua FODA!

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 17 comentários

Deixe um comentário