Analisando arquétipos: Sombra – Parte 3

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Fala aê!

Neste nosso (graças a Deus!) último post sobre o arquétipo da sombra (também chamado de self negativo por Jung), vamos entender um pouco mais de sua função e suas diferentes maneiras de aparecer. No primeiro post fiz um resumão do conceito de sombra, no segundo mostrei como elas aparecem diretamente nos heróis e desta vez irei discorrer um pouco (e com muita cautela, pois podem sair muitas bizarrices de uma leitura mais ligeira) sobre este arquétipo fora da figura herói, ou seja, na figura do próprio antagonista. No segundo texto, fiz referência a personagens como Hulk, Fera e Fiona, que são (ou deveriam de ser) seus próprios antagonistas, assim, nesta postagem, irei tratar dos casos em que o antagonista (esta figura de sombra) está fora do herói, quando o confronto externo representa um confronto interno.

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Em Star Wars, George Lucas chama de “The dark side of the force” (O lado negro/sombrio/escuro da força) uma filosofia baseada em destruição e morte, que se oporia ao “The light side of the force” (O lado luminoso da força), filosofia baseada nos ditos “sentimento positivos” (misericórdia, autossacrifício e blá, blá, blá). Fato é que nosso amigo George conseguiu trabalhar a ideia daquilo que temos em nós e que queremos esconder o tempo todo, sendo a figura de Darth Vader um dos maiores exemplos desse arquétipo na opinião deste humilde redator. Bom, deixando a babação de lado e indo para o “novo”, neste post (porque já escrevi sobre este tipo de sombra interna no post anterior) quero me focar nos confrontos de luz e trevas. Por meio de dois personagens (e não apenas um) – por exemplo, Luke Skywalker e Darth Vader -, podemos observar que este duelo também foi uma representação do duelo interno que nosso amigo Luke tinha para não ceder a este lado negro/sombrio/escuro.

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Sobre este “lado negro”, cabe dizer ainda que Jung percebeu que, no sonho, a sombra sempre aparece normalmente relacionada a alguma figura escura, hostil, que repele. O filósofo Julvan Moreira fala que a sombra assim como a cor preta são “representações simbólicas do mal, da desgraça, da perdição e da morte no mundo ocidental”. Entenda esse escuro como aquilo que “não nos permite enxergar a real forma das coisas, e algo que não podemos ver claramente torna-se algo assustador e desconhecido”. Uma vez que esta sombra é trazida à consciência, essa escuridão é desfeita e você entende o porquê de alguns medos e preconceitos. Como exemplo dessa sombra mais asquerosa de rivalidade, temos o Hades da Disney como oposição a Hércules.

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Lembrando que a grande função da sombra é de nos fazer amadurecer através do confronto. Conforme reconhecemos nossas sombras vamos amadurecendo e elas, por sua vez, adquirem outras roupagens, normalmente tão poderosas quanto o que já somos no momento, para conseguir se contrapor. Um bom exemplo dessa dinâmica seria o personagem Neo, de Matrix, que fica cada vez mais poderoso ao longo da trilogia, mas seu nêmesis, Agente Smith, também o acompanha nesse empoderamento, ficando tão poderoso quanto ele. Esses dois estavam numa identificação tamanha que a morte deles acontece ao mesmo tempo, o que também pode ser interpretado como a não existência de um indivíduo sem sua sombra.

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Nos heróis das histórias em quadrinhos ocidentais vemos, com mais frequência, um enfadonho retorno dos arqui-inimigos, isso, ao meu ver, ocorre por conta da “imortalidade” deste heróis, fazendo com que seus oponentes também retornem vez ou outra. É como se os dois fossem um só e a sobrevivência de um dependesse da existência do outro. Por essa maneira de entender a dinâmica existente entre heróis e seus rivais no Ocidente, acabo não concordando com a teoria “grantmorrisoniana” de que o Batman teria matado o Coringa ao final da “Piada Mortal”. Na minha opinião, há uma identificação entre os dois na tão falada cena.

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E por falarmos desta dupla de rivais, uma cena em que a oposição e a similaridade dos dois ficou evidente foi no crossover “Cavaleiros mortíferos”, no qual o Justiceiro resume com perfeição a relação entre os dois dizendo de maneira bem simples, “você e aquele demente risonho se merecem”. Claro que não existe apenas o Coringa na vida do Batman, seus outros opositores também são expressões do lado sombrio deste herói, por exemplo, o “Duas Caras”, que mostra de forma bastante concreta a cisão existente entre Batman e o seu Alter -Ego, “Bruce Wayne.

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Outro par de antagonistas em que isso fica muito em evidencia é o confronto entre Superman e Lex Luthor. Ambos lidam o tempo todo com o tema “poder”, porém, convenhamos, a maior ameaça apresentada pela figura de Luthor não é todo o poder político que ele pode exercer, mas sobretudo (ao meu ver) o fato de que, se o Super não abrir o olho, poderá se tornar um ser tão egocêntrico quanto o careca de Metrópolis. Esse e os outros heróis podem ser encarados como prisioneiros de seu próprio mecanismo de defesa, a chamada projeção que, segundo Jung, é uma maneira não muito bacana de se lidar com a Sombra. Cheguei a falar um pouco sobre este conceito no texto anterior, contudo não o defini. Para o autor, ele “é um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto”. Entenda objeto como sendo tudo o que não é o sujeito (principalmente o outro). Acontece que, por não reconhecermos ou não aceitarmos determinadas qualidades, sentimentos e/ou desejos em nós, redirecionamos estas características para fora de nós, como o que alguns membros do blog fazem quando chamam os outros de viado (pronto falei).

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Como lidar com este arquétipo, então? Jung traz o conceito de introjeção que seria “uma assimilação do objeto pelo sujeito”, elaborando e integrando esses conteúdos arquetípicos. Um bom exemplo é o que acontece com o Neo no final da trilogia Matrix, ou quando rivais se aliam por um objetivo em comum, mas esta fusão seria a demonstração de outro arquétipo que analisaremos mais tarde, ou ano que vem, ou até o Messias, o editor do blog e não o Salvador, começar a por pressão em mim novamente, o que vier primeiro.

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Até mais com um próximo arquétipo.

Panter-O

Redator dos Iluminerds, antenado em quadrinhos e Psicologia. Esta será a minha melhor versão de mim, rsrsrs.

Este post tem 8 comentários

    1. Vilipendiador Unperucked

      Se estiver atrás do Ebony, provavelmente.

  1. Vilipendiador Unperucked

    Este post é culto demais pra mim, que sou burro.
    Prometo ler com calma e atenção, para compreender todas as referências “junguianas” aqui descritas… ou não.

    1. Vilipendiador Unperucked

      ahuehauheuhauhua… ótima referência!

  2. Harvey_o_Adevogado

    “ai que burrrro, da zero para ele….”

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