A Mitologia por trás de God of War – Zeus, o Caçula

Esta é uma introdução que virá em todos os textos da série. Serve para lembrar a todos que qualquer informação sobre os mitos gregos são versões de narrativas que já existiam. Isso ocorre principalmente em função da imaginação fértil dos poetas e da credulidade dos povos.

É importante citar também que o mito não é apenas uma história de aventura, é também uma ferramenta cultural. Os gregos passavam suas tradições através das narrativas. Ou seja, um mito, por mais esdrúxulo que pareça, possui um significado mais profundo.

Os links para os outros títulos da série estão no final deste post…

Tô jogando

GOW cronos comendo — Reia aguardando Cronos para uma “boquinha”

Apesar de outros deuses aparecerem em God of War, eles não têm suas origens e vidas devidamente explicadas. Esta regalia ficou apenas para Zeus.

O Oráculo previu que os filhos de Cronos lutariam contra ele. Assim, o titã decidiu aprisionar todos em sua barriga. Reia assistia enquanto seus filhos foram devorados um a um. Quando chegou a vez de Zeus, ela não aguentou e ordenou a uma águia que levasse seu filho para uma ilha longe dali. No lugar de Zeus, Reia deu uma pedra para Cronos engolir (a pedra Onfalos, recuperada por Kratos, no Tártaro).

Gaia cuidou de Zeus e incentivou a libertação de seus irmãos, mas sua boa ação atormentou os Titãs para sempre. Ao poupá-lo, ele pôde nutrir a vingança no seu coração e traiu todos os titãs pelos pecados de apenas um.

Após a guerra, que trouxe prosperidade para o mundo, Zeus assumiu o lugar de líder. Mandou os titãs para o Tártaro e prendeu seu pai no deserto, vagando com o Templo de Pandora nas costas (depois de Kratos alcançar a Caixa de Pandora, transferiu-o para o Tártaro também).

Tudo corria bem na vida de Zeus até que um de seus filhos bastardos, Kratos, aparece, boladão, e abre a Caixa de Pandora. A partir daí, o medo se instalou no Senhor do Olimpo, que passou a temer o avanço de Kratos. Infelizmente, Zeus levou a pior no fim e acabou morto pelo herói de God of War – com a colaboração direta de Atena, também sua filha.

Conta como foi, vai…

O nascimento de Zeus marca o início de uma nova fase. A geração dos olímpicos é responsável por dar ordem à Desordem (notem que não é a desordem do Caos primordial). A materialidade dos Titãs dá lugar à espiritualidade das divindades olímpicas; é o fim de um período de forças tempestuosas e o início de um período regido pela Razão.

A história de Zeus contada em GoW não está tão longe do mito verdadeiro, entretanto, há algumas diferenças.

Para começar, Cronos não foi para o deserto, foi enviado, junto dos outros titãs, direto para o Tártaro (ou refugiou-se em Ausônia, onde recebeu o nome de Saturno, e reinou uma nova Idade de Ouro). E não foi o Oráculo quem previu que os filhos de Cronos o matariam, foram Gaia e Urano.

Depois que Cronos passou a governar o mundo no lugar de seu pai, Urano, transformou-se em um tirano, voltando a aprisionar os Ciclopes e os Hecatônquiros no Tártaro. Urano e Gaia previram que ele também seria destronado por um de seus filhos – e não era amor de mãe, ela realmente tinham poderes de previsão. Assim, Cronos passou a comer seus filhos com Reia (sua irmã) logo que nasciam: Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon (alguns dizem que Hera foi poupada, e outros ainda que os filhos comidos foram apenas Hades e Poseidon).

Grávida e de saco cheio de ver seus filhos sendo devorados, Reia, após tramar com Gaia (que apesar de mãe de Cronos era também a sogra…), foge para a ilha de Creta. No Monte Dicta, ela pariu Zeus, que foi logo escondido pela vovó no Monte Egéon. Lá, o futuro deus foi entregue aos cuidados dos Curetes (antigos habitantes do local) e das Ninfas.

Como era de costume, Cronos logo procurou por Reia para engolir o último filho. A Mãe dos Deuses, então, envolveu uma pedra (Onfalos) em panos de linho e entregou ao marido, que a engoliu de uma só vez (bom que ele não mastigava).

Zeus foi alimentado com mel do Monte Ida e leite da cabra Amalteia (que também pode ser considerada uma ninfa). Quando o animal morreu, Zeus utilizou sua pele para criar a égide, um escudo encrespado de pelos, bordado com franjas, adornado com serpentes e com a cabeça da Górgona no meio, utilizado como ataque e defesa contra os titãs.

Quando chegou à idade adulta, Zeus partiu para a vingança. Procurou Métis (a Prudência), uma oceânide (e que viria a se tornar sua primeira esposa), que lhe deu uma droga que faria Cronos vomitar seus irmãos.

Zeus, jovem e sarado, obrigou o pai a beber o veneno e, desta forma, conseguiu libertar os irmãos – que ainda estavam vivos e já na idade adulta. E, assim, um novo conflito se iniciou. Chamado de Titanomaquia, o conflito teve de um lado Zeus e seus aliados e do outro, os Titãs. Foi porrada por 10 anos…

Olha que bonito!

A estátua de Zeus em Olímpia é considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo e foi o modelo ideal para muitos artistas posteriores – inclusive, podemos relacioná-la visualmente com o Zeus de GoW. Com 13 metros, Fídias, seu autor, terminou a obra em torno de 458 a.C. – ela foi feita de bronze, marfim, ouro e ébano. Devido à perseguição aos deuses pagãos iniciada pelo Cristianismo, a estátua foi transferida para Constantinopla (Istambul). No século V d.C., o Zeus de Olímpia desapareceu (mas pode ter sido destruído por um incêndio).

Do lado esquerdo está uma reprodução de como seria a estátua original. Do lado direito, uma escultura posterior, do século VI a.C, bem semelhantes. — Do lado esquerdo está uma reprodução de como seria a estátua original. Do lado direito, uma escultura posterior, do século IV a.C, bem semelhantes.

O Zeus de Olímpia também pode ter influenciado a obra Jupiter e Tétis (1811), de Jean Auguste Dominique Ingres. Nesta pintura, o artista traz um episódio da Ilíada, de Homero, quando Tétis implorou que Zeus interferisse na Guerra de Tróia, ajudando seu filho Aquiles. Tétis é uma nereida, neta dos titãs Oceano e Tétis (“prima” de Cratos).

A águia do lado direito é o símbolo de Zeus (muito usado nas suas representações). Do lado esquerdo, vemos uma cabecinha... É a ciumenta Hera, de olho na mulher seminua na frente do marido. — A águia do lado direito é o símbolo de Zeus (muito usado nas suas representações). Do lado esquerdo, vemos uma cabecinha… É a ciumenta Hera, de olho na mulher seminua na frente do marido.

O Conselho dos Deuses (1518), de Rafael Sanzio, é interessante para visualizarmos as diversas divindades. Neste afresco, temos da esquerda para direita: Hebe (filha de Zeus e Hera) com um anjo; Hermes segurando o caduceu; Jano (aquele com duas faces); Hefesto; Heracles apoiado em uma clava; Dioniso; Apolo; Ares; Afrodite com a mão sobre Eros; Hades (com o Cérbero abaixo); Poseidon e seu tridente; Zeus com a águia entre as pernas; Ártemis (com a lua crescente na cabeça); Hera junto ao seu animal, o pavão; e Atena com seu elmo.