Quaisquer informações sobre os mitos gregos são versões de narrativas que já existiam. Isso ocorre principalmente em função da imaginação fértil dos poetas e da credulidade dos povos. É importante citar também que o mito não funciona apenas como uma história de aventura, é também uma ferramenta cultural. Um mito, por mais esdrúxulo que pareça, possui um significado mais profundo.
Os links para os outros títulos da série estão no final deste post…
Tô jogando
Na busca pelas Sisters of Fate, Kratos encontra Prometeu ao passar pelo “Covil de Tifão” (em GoW, Typhon é um titã; na mitologia, é um monstro – mais sobre ele aqui). Prometeu está acorrentado a uma das mãos de Typhon enquanto uma águia gigante o devora. O titã conta que está sendo punido por Zeus por ter ajudado a raça humana, ao dar a Chama do Olimpo aos mortais (a mesma que passou a proteger a Caixa de Pandora).
Zeus considerou este ato uma traição, transformou-o em mortal e o sentenciou a ser eternamente comido por um pássaro. Durante o dia, o animal come sua barriga; à noite, seus ferimentos são curados para, então, ser novamente devorado no dia seguinte. Ele não sabe por quanto tempo a tortura está acontecendo.
Prometeu pede a Kratos que o liberte. A única maneira, afirma, é jogá-lo na Chama do Olimpo. O herói concede o pedido e joga-o ao fogo. Suas cinzas são incorporadas por Kratos, dando a ele o poder dos titãs (Rage of the Titans).
Conta como foi, vai…
No geral, a história de Prometeu contada em GoW é fiel. Contudo, se nos atermos aos detalhes, encontraremos várias diferenças. Por exemplo, Prometeu não foi aprisionado na mão de Tifão, não virou mortal e não foi morto por Kratos.
O mito de Prometeu possui três fases: a primeira é a criação do homem e o roubo do fogo; a segunda, a criação de Pandora; e a terceira narra a punição de Prometeu. Nesse post, trataremos apenas da primeira e terceira fases.
Prometeu é filho do titã Jápeto (irmão de Cronos) com a oceânide Clímene. Seus irmãos são Atlas, Menécio e Epimeteu.
Prometeu sempre foi um apaixonado pela humanidade, afinal, foi ele quem moldou o homem a partir do limo da terra, misturando-o com suas próprias lágrimas. O titã sentiu que faltava algo no mundo, um ser capaz de aprender, dominar a natureza, honrar aos deuses etc. Por isso, fez o homem. Insuflou nas estátuas, ainda inertes, características de animais: coragem do leão, fidelidade do cavalo, força do touro, esperteza da raposa e a voracidade do lobo. Mas ainda faltava algo…
Atena, admirando a beleza da criação de Prometeu, desce ao mundo com uma taça cheia do néctar divino e distribui aos novos seres já dotados de vida. Pronto. O serviço estava completo. Agora, eram homens com almas.
O amor e o desejo de progresso de Prometeu sobre a humanidade foi seu maior crime, pois tentou ajudá-los a superar os olímpicos. O titã ensinou aos homens como sobreviver no mundo: agricultura, pecuária, mineração, medicina.
Isto não agradava Zeus, que começou a temer tal independência humana. Com isso, reuniu os habitantes do Olimpo para debater sobre o destino dos homens. Foi aí que ocorreu a primeira sacaneada de Prometeu. Malandramente, em Mecone, o titã dividiu um boi enorme em duas porções: a primeira continha as carnes e entranhas cobertas apenas pelo couro do animal; a segunda, apenas os ossos, mas cobertos pela gordura branca e suculenta. Zeus deveria escolher uma delas e deixar a outra para os homens. Guloso, optou pela gordura, mas se viu enganado. A partir daí, os deuses acompanhariam o progresso da civilização se os homens os honrassem através de orações e sacrifícios de animais.
Prometeu 1 x 0 Zeus.
O Senhor do Olimpo não deixaria barato. Admirava a inteligência de Prometeu, mas era preciso fazer algo para frear o avanço dos homens. Assim, privou o homem do fogo, que simboliza tanto uma ferramenta de sobrevivência quanto a própria inteligência. A sobrevivência dos mortais foi dificultada, atrelando-a ainda mais aos deuses.
Prometeu 1 x 1 Zeus.
Aliado ao amor pelos homens, o sentimento de vingança de Prometeu (pois não entrara na guerra, mas viu seus irmãos Atlas e Menécio punidos por Zeus) fez com que roubasse o fogo divino e o desse aos homens. Desta forma, devolveu a independência/inteligência para eles.
Prometeu 2 x 1 Zeus.
Furioso, Zeus decidiu punir Prometeu e a humanidade. Para os homens, criou Pandora (cujo mito será contada no texto seguinte), sacaneando-os para sempre.
Prometeu 2 x 2 Zeus.
Para o filho de Jápeto, pediu a Hefesto que o acorrentasse no monte Cáucaso (talvez supervisionado por Cratos, filho de Palante e Estige), onde uma água comeria seu fígado. Durante o dia, o animal estilhaçava o órgão do titã, fazendo-o contorcer-se de dor, e, à noite, o fígado se regenerava para a agonia continuar no dia seguinte (o fígado era considerado a fonte da vida para diversas culturas antigas…).
Prometeu 2 x 3 Zeus.
Depois de 30 anos nessa tortura, o titã foi finalmente libertado por Heracles, que também matou a águia. Claro que teve anuência de Zeus, que havia perdoado as ações do priminho Prometeu.
Com isso, garotada, o que aprendemos? Que não adianta ficar boladinho e fazer pirraça, se o problema é contra o chefe dos deuses, você está ferrado…
E semana que vem teremos Hefesto e Pandora.
Olha que bonito!
Há três tipos básicos de representação artística do mito de Prometeu: esculpindo o homem, roubando o fogo e sofrendo acorrentado. De maneira geral, ele é mostrado como o próprio símbolo da humanidade, lutando contra a opressão divina.
No relevo abaixo, do séc. III, Atena observa o trabalho de Prometeu.
Na obra de Christian Griepenkerl (1877), é a vez de Prometeu observar enquanto Atena atualiza sua criação com a “alma”.
Nesta outra pintura de Christian Griepenkerl, podemos ver o momento em que Prometeu rouba o fogo, aproveitando um momento de distração de Zeus, esgotado após “brincar” com Ganimedes…
A seguir, três obras mostrando o momento da punição de Prometeu. A primeira é uma escultura de Nicolas-Sébastien Adam, de 1762. A segunda pertence a Jacob Jordaens, de 1640. E a terceira, de 1610, é de Rubens.
Por último, temos uma resumão do mito através de Piero di Cosimo (1520).
Quer ler mais sobre mitologia? Veja abaixo…
Essa história realmente é muito boa!!!
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