A Mitologia por trás de God of War – Do Caos a Urano

Você está visualizando atualmente A Mitologia por trás de God of War – Do Caos a Urano

Esta é uma introdução que virá em todos os textos da série. Serve para lembrar a todos que qualquer informação sobre os mitos gregos são versões de narrativas que já existiam. Isso ocorre principalmente em função da imaginação fértil dos poetas e da credulidade dos povos. Hesíodo não foi a fonte do conteúdo da Teogonia, ele apenas foi o primeiro a sistematizar e organizar os mitos da criação em uma sequência lógica. E, equivalente a Hesíodo, há diversos outros.

Vale citar também que o mito não serve apenas como uma história de aventura, é também uma ferramenta cultural. Os gregos passavam suas tradições através das narrativas, desde ensinamentos práticos, como montar um escudo, a éticos, como a maneira de se comportar. Ou seja, um mito, por mais esdrúxulo que pareça, possui um significado mais profundo.

Os links para os outros títulos da série estão no final deste post…

Tô jogando

Sobre a origem de tudo, o jogo não se estende muito, apenas diz que “no início, havia o Caos”, e da guerra entre deuses e titãs houve prosperidade com a vitória de Zeus. O Monte Olimpo surge, então, do Caos, como símbolo de novos tempos: o fim da tirania dos Titãs.

GOW chaos

Isto nos leva a entender que a vitória dos deuses retirou o mundo do Caos, elevando o Monte Olimpo e iniciando o reinado de Zeus. Neste caso, ao definir que o caos foi desfeito em virtude da guerra, dá-se um salto colossal de tempo. Nesse ínterim, muita coisa aconteceu, como o nascimento de diversas divindades, o conflito entre Cronos e Urano e entre Zeus e Cronos.

No jogo, o que causa confusão é chamar a situação pré-guerra de Caos, como se fosse o estado inicial de tudo.

Em God of War Ascension, a origem de tudo é contada de maneira bem simples: os Primordiais, entidades que antecederam os titãs e deuses (ou seja, tudo), iniciaram uma batalha que deu origem ao mundo (mar, terra, ar…). Ao que parece, estas entidades eram Gaia (terra), Urano (céu), Nyx (noite) e Ponto (mar).

Conta como foi, vai…

A origem da existência é um tema extremamente complicado e discutido até hoje. Como tudo começou é uma dúvida antiga cuja resposta se altera constantemente. No caso da mitologia grega, poetas e historiadores optaram por determinadas explicações. Como God of War citou o Caos (porque é de fato uma das mais conhecidas e didáticas versões), usaremos a Teogonia, de Hesíodo, como base.

A procedência de tudo é uma sequência de surgimentos e nascimentos. O Caos era o estado primordial, uma matéria que existia desde toda a eternidade e não possuía uma forma definida. Ao mesmo tempo, pode ser considerado um vazio inicial e escuro. O importante é saber que ele precede toda a existência das coisas.

Forçando a barra, podemos considerar que o caos citado em GoW era a desordem característica do reinado dos Titãs, considerados forças materiais da natureza, e que foi organizada com o início da administração de Zeus e dos outros deuses do Olimpo.

Do Caos vieram Gaia (Terra), Tártaro e Eros. Depois, ainda do Caos, surgiram Érebo e a Noite (Nix). Da união entre Noite e Érebo, nasceram Éter e Dia (Hêmera). De Gaia, veio Urano (céu), as Montanhas e o Mar (Ponto). A criação de Urano é justificada pela necessidade de Gaia possuir um companheiro. E é Eros, princípio espiritual da atração, quem faz a união entre tudo acontecer.

Érebo, irmão e marido da Noite (Nix), e Tártaro compõem duas regiões do Inferno. O primeiro fica mais próximo da terra; o segundo se encontra bem abaixo de Gaia, um abismo escuro e profundo (era a prisão dos deuses) – e também é usado para se referir ao Inferno como um todo. O Tártaro, assim como o Eros primordial (não o Eros, filho de Afrodite), por ser uma entidade mais conceitual, foi pouco cultuado pelos gregos.

Da relação entre Gaia e Urano, nasceram os Titãs: Oceano, Coios, Crios, Hipérion, Jápeto, Teia, Réia, Têmis, Mnemósine (a memória), Febe, Tétis e Cronos (o tempo). Geraram ainda os três Ciclopes (aqueles que forjaram o raio de Zeus): Brontes (trovão), Estérope (relâmpago) e Arges (raio); e os três Hecatônquiros (gigantes de cem braços e cinquenta cabeças): Cotos, Briareu e Giges. Estas entidades primordiais representavam as personificações das forças da natureza material que moldaram a terra (Gaia) para receber as diversas espécies que ainda habitariam o mundo; causavam terremotos, tempestades, furacões e erupção de vulcões.

genealogia De caos aos titasE Urano, como um verdadeiro patriarca, assumiu o controle do mundo.

Olha que bonito!

As divindades primordiais (do Caos a Cronos) são mais usadas para explicar a origem do universo, não fazendo parte da religião propriamente dita, sendo muito pouco cultuadas. Assim, há escassas representações artísticas destes seres (a arte até o Renascimento era mais usada para fins mágicos ou religiosos).

As figuras abaixo mostram Gaia, sempre com a característica materna acentuada, e Urano segurando o zodíaco (Gaia está deitada abaixo com o que pode ser as Estações).

Tellus_-_Ara_Pacis (1)

Urano com Zodiaco, mosaico romano, sec. III d.C_Glyptothek_Munich_W504

Polifemo pertence a outra geração de ciclopes (era filho de Poseidon), não sendo parente direto dos três ciclopes originais, filhos de Gaia e Urano (Arges, Estérope e Brontes seriam tios-avôs de Polifemo…). De qualquer maneira, devido a sua relação com a história de Odisseu (o Ulisses da Odisséia), foi mais representado na arte, como nesta obra de Guido Reni, de 1640.

Guido_Reni_-_Polyphemus
Nesse momento, Odisseu já está fugindo de barco, após furar o olho do ciclope.

E se você ainda não leu os outros episódios, corra que tiraremos do ar em 5 dias! (mentira)

Introdução

Quem é Kratos?

A vez de Cronos

Zeus, o Caçula

Zeus, o Comedor

Guerra dos Titãs e Deuses

Gigantomaquia

Prometeu

Hefesto, Pandora e as Mulheres

Atena

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 16 comentários

    1. JJota

      Pô, até eu que não sou muito ligado em games zerei essa porra tempos atrás.

      Pega umas dicas com o Inacreditável Neo. Antes de se entregar a uma vida de alcoolismo trabalhar, ele jogava game 14 horas por dia.

  1. Churrumino

    Bom texto! Agora eu sei os nomes dos ciclopes e dos hecatonquiros. hehehe!

    1. Gustavo Audi

      Na verdade, existem 3 espécies de ciclopes: os Urânios (filhos de Urano e Gaia), os Sicilianos (Polifemo, por exemplo) e os Construtores.

      1. Churrumino

        Ia morrer e não ia saber disso. Só conhecia os filhos de Urano e o Polifermo.

Deixe um comentário