Esta é uma introdução que virá em todos os textos da série. Serve para lembrar a todos que qualquer informação sobre os mitos gregos se trata de uma versão de narrativas que já existiam. Isso ocorre principalmente em função da imaginação fértil dos poetas e da credulidade dos povos.
É importante citar também que o mito não é apenas uma história de aventura, é também uma ferramenta cultural. Os gregos passavam suas tradições através das narrativas. Ou seja, um mito, por mais esdrúxulo que pareça, possui um significado mais profundo.
Os links para os outros títulos da série estão no final deste post…
Tô jogando
A origem dos Titãs não é clara, é contado que guerrearam contra Zeus e os outros deuses e perderam. Na visão dos Titãs, o reinado de Cronos estava bom, mas Zeus queria reinar sobre os homens e isso não podia ser permitido.
Se levarmos em consideração que a guerra desfez o caos, então estou inclinado a concordar com Zeus. O reinado de Cronos devia ser uma porcaria, pois o mundo estava uma zona…
De qualquer maneira, Cronos foi sentenciado a vagar pelo deserto carregando nas costas o Templo de Pandora. Depois das aventuras de Kratos, que alcançou a caixa dentro do templo, Zeus transferiu Cronos para o tártaro. Inclusive, Kratos mata Cronos no Inferno ao buscar uma pedra a pedido de Hefesto (aliás, esta pedra está relacionada à origem de Zeus, que será contada no próximo texto).
O interessante sobre os titãs em God of War não são suas origens (pois não são contadas), mas a representação que a arte do jogo criou. Provavelmente, com base na literatura mitológica que descrevia os titãs como seres enormes, poderosos, brutais, forças violentas da natureza, estes seres foram muito bem desenhados. A representação de Gaia e Cronos é excelente. Entretanto, nada se compara ao hecatônquiro usado em God of War Ascension…
Conta como foi, vai…
Urano era o “pica das galáxias”, fecundava incessantemente Gaia, gerando filhos sem parar. Entretanto, detestava-os, principalmente os Ciclopes e Hecatônquiros. Por isso, quando nasciam, prendia-os no interior de Gaia para nunca verem a luz do dia – e se deliciava com esta crueldade.
Gaia não gostava de ser tratada como um simples objeto sexual e ainda de ter seus filhos atochados dentro de si, então pediu ajuda aos filhos para destronar Urano. Todos se recusaram; apenas Cronos, o caçulinha, aceitou ajudar. Ele também não gostava que seu pai ficasse bagunçando Gaia, além de se revoltar com o sofrimento da mãe devido à brutalidade de seus irmãos.
Gaia forjou uma foice e entregou a Cronos, que ficou de tocaia dentro da mãe, aguardando Urano aparecer para mais uma bimbada noturna. Quando chegou perto, Cronos ceifou seu pênis, jogando-o para trás.
E os tempos de comilança de Urano chegaram ao fim… Entretanto, ainda deu tempo de gerar mais algumas criaturas. No ato da castração, o sangue que respingou em Gaia gerou, depois de um tempo, as Erínias (são as Fúrias Tisífone, Megera e Alecto – utilizadas em God of War Ascension, com uma diferença: neste jogo, elas surgiram em função do conflito que originou o mundo), as Melíades (ninfas das árvores) e os Gigantes (este ainda guerrearam contra Zeus após a guerra de 10 anos). O pênis, com o esperma expelido, caiu no mar, formando uma espuma branca, da qual nasceu Afrodite, deusa do amor e da beleza – aquela que foi dada como esposa a Hefesto, filho de Hera e Zeus (talvez).
Cronos assume o lugar do pai, constituindo um novo reino. Ele tinha tudo para sair de bonzinho e libertar os irmãos, mas, como não gostava dos Ciclopes e dos Hecatônquiros e também tinha medo deles, decidiu mantê-los no Tártaro e transformou-se em um novo déspota – e, na opinião de muitos, mais cruel que seu pai.
Cronos, assim como Urano, não perdia tempo e logo partiu para cima de sua irmã, Réia, para copular sem parar. Entretanto, Gaia e o eunuco Urano profetizaram que as atitudes de Cronos não ficariam impunes e ele também seria destronado por um de seus filhos. Malandro que é, passou a engoli-los assim que nasciam. Um a um, devorou Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon.
Réia não estava nem um pouco feliz e pediu ajuda aos pais, Gaia e Urano, para salvar seu último filho, que viria a ser o poderoso Zeus.
Olha que bonito!
A imagem seguinte é uma escultura de Cronos, de Franz Ignaz Günther (séc. XVIII), segurando uma foice. A mesma foice é utilizada por ele para castrar Urano, cena mostrada na pintura seguinte, A Mutilação de Urano por Cronos (séc. XVI), de Giorgio Vasari.
A próxima escultura é bastante conhecida, mas, como toda obra pop (Mona Lisa é outro exemplo), é pouco apreciada de verdade (as pessoas perdem mais tempo buscando um lugar para tirar a foto do que olhando a figura). Vênus de Milo tem este nome porque foi encontrada na ilha de Milo, no mar Egeu (Vênus é o nome latino de Afrodite). Não se tem certeza sobre a identidade da escultura, o que a torna ainda mais enigmática. Outro mistério é o paradeiro e posição original dos braços.
A seguir, duas versões sobre O Nascimento de Vênus. A primeira é de Sandro Botticelli (1483) e a segunda é de Adolphe-William Bouguereau (1879). Na pintura de Botticelli, temos Zéfiro, o vento do Oeste, soprando Afrodite para a costa, após seu nascimento, para ser coberta por uma das Graças (ou uma das Horas). Na obra de Bouguereau, podemos ver os querubins (“bebês alados”), que eram muito utilizados nas representações da deusa Afrodite. Assim como estes pequenos seres, Eros (ou Cupido, em latim), constantemente acompanhava sua mãe, Afrodite.
Réia é considerada a Mãe dos Deuses e frequentemente representada como uma mulher robusta. As torres em sua cabeça indicam as cidades sob sua proteção, mais uma vez enaltecendo sua postura de mãe protetora.
E, por fim, segue uma pintura representando Cronos devorando um de seus filhos, de Peter Paul Rubens, de 1636. É uma cena pesada que só não perde para a versão “doentia” de Francisco Goya, de 1823.
E não deixem de conferir os outros episódios da série:
A variabilidade dos mitos se dá por conta da tradição oral, onde os mitos são passados de geração para geração a partir de rituais, ou seja, o momento onde a sociedade mítica reconta e revive os mitos. O mito transcreve a visão que a sociedade tem sobre o mundo, as sociedades mais “cruéis”, ou seja, onde massacres ocorrem com frequência, dentre outras coisas ruins, tem mitos com a temática mais cruel, já a grega que cresceu a partir da arte, tem o perfil que vangloria a beleza.As versões que conhecemos hoje da mitologia grega é a versão transcrita de poet(eiros)as gregos, mas como já falei não são as únicas versões que já existiram.
É impossível saber de todas as versões dos mitos, pois por serem transmitidas oralmente elas acabam se perdendo no tempo.
Gostei muito do post Jota, muito interessante você pegar obras artísticas do illuminismo que tinha um ponto de vista mais sanguinolento da mitologia grega. ÓTIMO POST! ME PASSE OS PRÓXIMOS DEPOIS SE POSSÍVEL!
Apesar de dificultar o trabalho de se escrever sobre as histórias mitológicas, acho que esta plasticidade do mito faz com que ele fique ainda mais interessante. Foi extremamente doloroso ter que escolher uma versão sobre outra…
Sobre a escolha das obras, o objetivo é apenas trazer uma representação sobre o assunto, sem atentar para o estilo usado (a minha vontade era aproveitar e contextualizar a obra, falar sobre o estilo e artista, mas ficaria um post gigantesco…).
Dá uma olhada no primeiro post da série, a partir dele vc pode ir para os demais… http://www.iluminerds.com.br/a-mitologia-por-tras-de-god-of-war/
Provavelmente, o próximo post sairá na próxima terça. E para adiantar, será sobre Zeus.
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E obrigado por ler!
Post do JJota?
Se God of War ainda fosse sobre uma HQ dos anos 80 ou da Vertigo… O texto (aqui e nos outros capítulos da série) é do ilustríssimo sr. Gustavo Audi!
É que eu sou burro
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