A Hard Day’s Night – 50 anos de lançamento

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Com sete dias de atraso, comemoro os 50 anos do álbum A Hard Day’s Night, dos Beatles (o lançamento do álbum foi no dia 10/07/1964). Pensei em fazer um retrospecto do disco; sua carreira de 21 semanas como líder absoluta e total da Billboard e em outras paradas de sucesso estrangeiras; Depois pensei em dizer do impacto que este álbum teve, não só no pop/rock mundial como também na música, de uma maneira geral. Mas, se os meus poucos leitores derem um google, vão achar todas essas informações, ditas de maneira muito mais completa e com muito mais autoridade do que eu sequer pensaria em falar. Portanto, resolvi fazer um post comentando as músicas do setlist do álbum, uma a uma, fazendo uma crítica pessoal e dando meus pitacos-caga-regra (que não servem pra nada mesmo, mas eu dou de qualquer jeito) de beatlemaníaco velho e ranzinza.

Se não me engano, esse foi o 4º álbum da banda que conheci: meu primeiro contato com os Beatles foi em uma coletânea dos “20 maiores hits”; gostei do que ouvi, do alto da minha capacidade crítica de 15 anos de idade, e resolvi comprar os outros LPs. Em seguida, ouvi o Revolver, Rubber Soul, pra depois cair nesse A Hard Day’s Night. O baque foi grande. Tendo conhecido em primeiro lugar os discos da 2ª fase da banda, que começava a seguir por um caminho  mais experimental (e que me agradara muito), dar de cara com o LP que é a expressão máxima da fase “Reis do Iê Iê Iê” foi um estranhamento engraçado. A primeira coisa a se notar é a tônica geral das canções, predominantemente românticas ou cotidianas, falam das relações dos Beatles com as respectivas patroas ou namoradas da ocasião, ou do amor, como um todo. Além disso, o disco demonstra um certo “desconforto” dos quatro rapazes (mais que tudo, do John Lennon) com o sucesso arrebatador, excessivo e histérico que o grupo alcançou, que é basicamente resumido no título do álbum, uma frase que o Ringo Starr dissera, incidentalmente.

Mas vamos à cagação habitual:

1 – A Hard Day’s Night

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Canção-título tanto do álbum quanto do filme homônimo. Excelente música, com refrão simples e contagiante. Conta ainda com Ringo Starr usando uma caneca pra ajudar na percussão. A música foi composta por John numa noite, nas costas de um cartão de aniversário, e seguiu direto pras paradas de sucesso. Isso aconteceu porque Lennon e McCartney ficavam disputando quem teria o maior número de músicas no lado A de um álbum. Inicialmente, Lennon ganhou essa disputa com larga vantagem, nos primeiros 4 álbuns da banda, e foi perdendo espaço ao longo dos anos, na medida em que perdia, igualmente, o interesse pelos Beatles. Uma das coisas mais distintivas nesta música é o acorde inicial, leve e propositadamente desafinado, que George Harrison dá, com muito orgulho, em sua novíssima guitarra Rickenbacker. O acorde inicial acaba se tornando a marca tanto da música quanto do filme, e é uma das mais distintivas de toda a história da música. É impossível não se associar este acorde à explosão que se segue em seguida.

2 – I Should Have Known Better

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Outra música de John. Fez um sucesso retumbante nas paradas mundiais e teve uma versão em português de Renato e Seus Blue Caps (Menina Linda) que fez sucesso no Brasil antes mesmo da chegada da versão original dos Beatles. Nesta música, John Lennon repete o uso de sua gaita, que, assim como em Love Me Do, dá os acordes de abertura e o tom geral da música. Essa foi a primeira de uma série de músicas que Lennon fez inspiradas pela força criativa de Bob Dylan.

3 – If I Fell

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Linda balada, até hoje é uma das minhas músicas preferidas da banda. John Lennon tentou demonstrar que também era capaz de compor baladas e esbanjou, criando um de seus melhores duetos românticos, com destaque para Paul McCartney fazendo uma segunda voz inconfundível. O curioso é que tanto John quanto Paul compunham as músicas mais como parte de seu pequeno duelo pessoal do que qualquer outra coisa. Nos shows, If I Fell, especificamente, era tratada quase que como uma brincadeira pessoal dos dois, pois era cantada num ritmo mais rápido e entre risinhos e deboches contidos (mais em respeito às fãs que se descabelavam na plateia).

4 – I’m Happy Just to Dance With You

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Música composta por Lennon e McCartney pra dar uma forcinha pro George Harrison. Como o Beatle Quieto não tinha confiança nenhuma pra cantar, e menos ainda pra compor, os amigos escreveram uma canção popzinha a toque de caixa. Segundo McCartney, foi uma música-pronta, sem muita força (devem ter feito nos intervalos das idas ao banheiro), quase um clichê. E é assim mesmo que essa canção soa. Quando convertida em instrumental, torna-se a perfeita trilha sonora de elevador ou de sala de espera de dentista.

5 – And I Love Her

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Belíssima balada composta por Paul McCartney. Paul, aliás, disse que essa foi a primeira balada que ele compôs com a qual ficou realmente impressionado. John disse que essa foi a primeira Yesterday de Paul, deixando claro que era, realmente uma música diferenciada. Aliás, o ciúme de John quanto às habilidades de Paul para compor baladas era tão grande que ele reivindicou um pequeno trecho (a ponte “a love like ours/could never die/as long as I/have you near me”) para si, dizendo tê-lo composto. Paul, por outro lado, nega até hoje, dizendo que a música é toda dele.

6 – Tell Me Why

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Canção de John, que, como muitas dessa época, possivelmente reflete as brigas que ele tinha com a ex-mulher, Cynthia. Assim como outras canções de Lennon, a letra é um ataque agressivo, descrevendo um rapaz inseguro e imaturo, que disfarça sua denúncia à falsidade da namorada com uma suposta declaração de sinceridade de sua parte. Música razoável, que se salva pelo refrão quase chorado e gritado, que só não vira um mela-cueca porque é colocado no tom do Iê Iê Iê. Lenta, poderia ser um grande sucesso no estilo de Altemar Dutra, Amado Batista e afins.

7 – Can’t Buy Me Love

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Pressionado pelo sucesso norte-americano de I Wanna Hold Your Hand, Paul McCartney compôs essa canção no quarto do hotel onde se hospedavam durante a turnê americana. Como ainda não tinha amadurecido seus dons de compositor, Paul precisou de uma ajuda extra de George Martin (o quinto Beatle), para enxugar a letra e a melodia, tornando-a mais vendável. Sucesso instantâneo e absoluto, é uma das canções que Paul toca com mais frequência em seus shows, até hoje.

7 – Any Time At All

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Música de John Lennon, com um pequeno arranjo no meio composto por McCartney, foi gravada incompleta. Este arranjo deveria acompanhar letras que nunca foram criadas. Parece que houve alguma confusão e, com o aperto dos prazos de gravação, acabou não dando tempo para que a música fosse terminada – ela foi gravada no final da sessão, depois de Things We Said Today e I’ll Cry Instead. E foi desse jeito mesmo. Assim como em Hard Day’s Night (no trecho “When I’m Home/Everything seems to be right/When I’m Home/Feeling You’re Holding me Tight”), aqui também Paul McCartney canta em alguns momentos (na segunda vez em que se fala “Any Time At All”), porque a voz de John Lennon simplesmente não conseguia alcançar essas notas.

8 – I’ll Cry Instead

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Música de John Lennon, assim como outras, demonstra a enorme insegurança do artista quanto ao sucesso, e como isso estava tolhendo sua liberdade, além de um certo desapontamento quanto aos dias de divertimento, que, ele constata, estão ficando pra trás. Foi composta pra estar no filme, mas o diretor preferiu colocar Can’t Buy Me Love no lugar.

9 – Things We Said Today

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Boa música – com um estridente arranjo do John – composta por Paul, pra sua namorada na época, a atriz Jane Asher. Apesar de ser uma canção de amor, tem um tom melancólico e parece prever uma relação que está fadada ao fracasso, já que tanto Paul quanto Jane eram indivíduos em começos de carreira promissores. A música se queixa da dificuldade que os amantes têm de se encontrar (devido aos compromissos profissionais), diz que o amor é importante, mas que dizer “o amor está aqui para ficar, e isso basta” é um engodo: um relacionamento não vive só de amor.

10 – When I Get Home

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Gravada na mesma sessão de Things We Said Today, é uma canção de John, um rock típico. Essa música é um exemplo perfeito e condensado de como eram as canções da primeira fase dos Beatles: um apanhado dos clichês que John criou e usava, esparsamente, em outras composições.

11 – You Can’t Do That

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HDN-youcantdothatOutra das músicas autobiográficas de John Lennon, de novo, demonstra um rapaz ciumento e imaturo, que contrapõe sua crítica louca a sua parceira a um suposto libelo de sinceridade. Assim como na horrenda Run For Your Life (uma das minhas 10 piores músicas dos Beatles, que você lê aqui), aborda novamente o ciúme, que é tema recorrente em sua obra. Ele só consegue, finalmente, acertar a mão na belíssima Jealous Guy.

12 – I’ll Be Back

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Essa música de John Lennon é a saída perfeita para o álbum. Apesar de ser uma canção de amor, é um tanto quanto nostálgica e trágica. Mostra um John Lennon ameaçando a maturidade, demonstrando que deseja aprender com as perdas e as derrotas da vida. Do ponto de vista formal, ela é completamente inusitada: oscila inesperadamente entre tons maiores e menores, além de terminar de maneira abrupta, parecendo ter sido cortada antes do tempo. Parece ser um grande contraponto baixo ao início festivo e esfuziante de A Hard Day’s Night, mostrando que um grande álbum também é feito de altos e baixos. Aliás, esse contraponto foi precisamente planejado por George Martin, que escolhia meticulosamente a ordem das músicas dentro do álbum.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 3 comentários

    1. JJota

      Toddy, não perca o próximo Iluminerds de outras realidades.

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