A Guerra dos Tronos em quadrinhos para artistas, roteiristas e editores

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Adaptações em quadrinhos de clássicos da Literatura existem há tempos, mas o nicho vem experimentando certo crescimento no país, dada a quantidade de lançamentos nas bancas e livrarias. Quantidade, infelizmente, não é qualidade. Na verdade, arrisco dizer que conspira contra, estatisticamente falando. Não é difícil encontrar edições que limitam-se a aglutinar blocos de texto entre ilustrações simples e balões de fala, desrespeitando a obra original e tornando a leitura desagradável.

Não é o caso, todavia, da adaptação quadrinhística de Game Of Thrones, cujo primeiro volume, editado pela Fantasy/Casa da Palavra/Texto Editores/Leya (ufa!), demonstra todo o esmero e envolvimento do autor original, George R. R. Martin.

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Em prefácio à edição brasileira, que encaderna seis edições da revista mensal lançada nos EUA, George R. R. Martin digressiona sobre a alcunha “Graphic Novels”, atribuída aos quadrinhos melhor embalados, relembra os títulos que lia na infância e trata das primeiras adaptações em quadrinhos de “romances seminais” da cultura ocidental, traçando um panorama no qual até mesmo o psiquiatra Frederic Wertham se encaixa.

O autor esclarece que a presente edição não é subproduto da série da HBO, mas uma adaptação original, cuja abordagem, em certos aspectos, diverge do que se vê na tevê, e finaliza dizendo que talvez a HQ possa ser a porta de entrada do leitor para a sua obra original.

A habilidade de George R. R. Martin com as palavras é única e consegue nos convencer, com sucesso, a experimentar três versões de sua obra: a original, a versão em quadrinhos e a versão televisiva. Tudo numa tacada só, simplesmente elaborando as diferenças entre as mídias e a diversidade que isso empresta à sua criação.

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Os desafios enfrentados na adaptação são comentados pela editora original da série, Anne Groell, pelo ilustrador e pelo roteirista Daniel Abraham, num longo e saboroso ‘making of ‘nas páginas finais, revelando parte do processo criativo, como o parto que foi desenvolver o traço de mais de cinquenta personagens para as primeiras revistas.

O ‘making of’ traz todos os testes do visual para o trono de ferro, que ficou muito, mas muito mais grotesco e colossal que o da série da HBO. Explica o trabalho de decupagem da história, selecionando as partes do texto original que se encaixam na HQ, e a elaboração dos leiautes das páginas, dos painéis com a ação propriamente dita. Um material rico e instrutivo, indicado não só para fãs das obras de George R. R. Martin, mas para quadrinhistas, desenhistas, roteiristas e editores, dados os resultados divertidamente didáticos.

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Para quem acompanha os livros ou a série e está receoso de iniciar uma nova empreitada no universo de fantasia do autor, saiba que a leitura é bastante ágil, em que pese o tamanho do álbum e a quantidade de edições em que a adaptação se desdobrará. Ao contrário, temo que o principal senão dessa adaptação seja sua agilidade: Comparado à série de tevê, fica a impressão de que alguns personagens têm suas tramas apressadas. Mas estou falando da série de tevê. Talvez seja assim que a ação se desenvolva no livro, e é mais um motivo para socorrer-se da obra original.

Tommy Patterson possui um traço refinado e detalhado, e elabora bem expressões faciais e cenas repletas de elementos. Falta às suas caracterizações, no entanto, a violência e a sordidez à espreita em toda Westeros. Os personagens saídos de sua pena são belos, penteados, asseados e pouco ameaçadores.

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Aliás, pena não. Parece que seu trabalho é feito a lápis. Ao aplicar cores digitais sobre os originais do desenhista, o brasileiro Ivan Nunes acaba por finalizar o traço de Tommy Patterson, suavizando hachuras e esfumaçados, e principalmente dando volume às figuras, ao inserir sombras e tons, dobras de tecidos e efeitos visuais. O brasileiro é o responsável pela atmosfera da trama, que vai do gélido ao acolhedor, do lúgubre ao sinistro, dependendo das cenas e dos locais retratados.

Somando todos os fatores, a inicialmente relutante apreciação de mais uma obra derivada de Game Of Thrones se mostra uma agradável experiência, uma iguaria saborosa o suficiente para se repetir muito em breve. Que venham os próximos volumes.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem 3 comentários

  1. JJota

    Valeu, Rodrigo. Sou fã dos livros e odeio a série, por isso fiquei na dúvida em comprar os quadrinhos. Mas agora resolvi arriscar.

  2. Rodrigo Sava

    Oi, Jota. Arrisquei também a adaptação em quadrinhos de O Cavaleiro dos Sete Reinos, igualmente saborosa ; )

    1. JJota

      Já comprei as quatro lançadas d’A Guerra dos Tronos. Vou procurar esse aí também.

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