A Googlelização do mundo é uma ficção… Será?

Você está visualizando atualmente A Googlelização do mundo é uma ficção… Será?

Embora não goste muito da palavra Googlelização, não fui eu que a inventei: O pesquisador de mídias e professor de direito digital na universidade de Virgínia, nos EUA, Siva Vaidhyanathan, atribui o termo Googlization à forma como o Google tem permeado nossa cultura. De acordo com ele, a mega corporação (qualquer semelhança com as fictícias Umbrella e Skynet é mera coinscidência?) que começou como uma ferramenta de busca e pesquisa digital, disponibiliza uma quantidade inimaginável de arquivos e informações a um simples toque de nossos dedos.

3876860-terminator-salvation-the-final-battle-5-cover

Na perspectiva do autor do livro  A Googlelização de tudo (e por que devemos nos preocupar), esse fenômeno afeta 3 áreas relacionadas à conduta humana: “nós”, a partir dos efeitos do Google sobre nossas informações pessoais, hábitos, opiniões e julgamentos; “o mundo”, por meio da globalização de uma estranha forma de vigilância e ao que ele chama de imperialismo estrutural; e o “conhecimento”, a partir de seus efeitos no uso de uma grande quantidade acumulada de conhecimento por meio de livros, bases de dados online e da rede.

Para equalizar e entender este fenômeno é preciso que pensemos de forma crítica, deixando de lado nossa fé quase que religiosa no Google e em sua benevolência corporativa e adotar um olhar mais cético. Uma forma de começar a perceber que não somos os clientes do Google, é entendendo o que somos realmente: seus produtos.

https://www.youtube.com/watch?v=vfg4rRxsMAA

Psicólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley publicaram um estudo explicando que a técnica de busca do Google já consegue emular a forma que o cérebro humano relembra de determinada informação, seu processo de busca interno. Os investimentos em espaços dedicados à pesquisa no mundo todo permitem que a empresa seja uma das maiores detentoras de conhecimento sobre inteligência artificial do mundo, colocando seus experimentos em patamares que fazem ficções científicas como o fime Ex-Machina e a série Black Mirror parecerem muito mais reais do que sonha nossa vã filosofia.

Quando publicamos imagens, comentários ou conversamos por meio de aplicativos como o Whatsapp, estamos alimentando esse enorme banco de dados que, entre outras coisas, fornece material para aumentar a complexidade das respostas dos programas de inteligência artificial. A forma como isso acontece é explorada no filme Ex-Machina, de Alex Garland, ganhador do Oscar de Melhores efeitos especiais em 2016. Logo no início do filme, o programador Caleb Smith (Domhnall Gleeson) é convidado a participar de um experimento envolvendo um androide desenvolvido por uma grande corporação que detém o monopólio da tecnologia digital mundial. Embora a empresa tenha um nome fictício, as semelhanças com aspectos atuais nos deixam em dúvida se todo o filme é uma ficção ou se está mais próximo da realidade do que gostaríamos de acreditar.

 

https://www.youtube.com/watch?v=HtBuBJxDlU8

Ao que tudo indica, o ator Domhnall Gleeson gostou tanto do tema que é um dos protagonistas do 1º episódio da segunda temporada de Black Mirror, Volto já (Be right Back). Neste episódio, somos apresentados a um serviço que é capaz de coletar todas as nossas informações disponíveis na rede para criar um programa que simula nossas ações por meio de e-mails, interações telefônicas e outras formas meio assustadoras que nos remetem ao clássico Pet Cemetary, de Stephen King: os mortos nunca voltam como eram, não é mesmo?

black-mirror-be-right-back

 

Siva Vaidhyanathan diz que o Google não é mal, mas não é moralmente bom também. Nem tampouco neutro – bem longe disso. O Google não nos faz mais espertos. Nem nos deixa mais burros, como pelo menos alguns escritores acreditam. É uma empresa com fins lucrativos que nos oferece uma série de ferramentas que podemos usar de forma inteligente ou não.

No entanto, a própria série Black Mirror nos alerta sobre nossa relação nociva de dependência digital em episódios como o tão comentado Queda Livre (Nosedive – 3ª temporada). Em um futuro não tão distante, nosso acesso a bens e serviços é condicionado à nossa popularidade nas redes sociais, medida a partir das curtidas em forma de estrelas, em um aplicativo onde toda a população mundial está conectada.

black-mirror-nosedive-700x350

Por mais distante que a ficção possa parecer, a National Academy of Science, dos Estados Unidos, realizou um experimento com o Facebook e concluiu que nós somos emocionalmente contagiados e tomamos decisões baseados em nosso feed nas redes sociais. Ou seja, com mais de um bilhão de usuários conectados às redes sociais, é possível concluir que a mediação digital influencia não só as pessoas que estão online, mas as relações sociais de uma maneira geral, pois seu alcance é inimaginável.

Longe de esgotar o assunto, não pretendo deixá-los paranoicos, mas convidá-los a refletir sobre nossa relação com as mídias e com a internet de forma que possamos tirar maior proveito delas. Como o pesquisador Siva disse, a internet em si não é boa ou ruim, mas o uso que fazemos dela pode ser extremamente nocivo se não fizermos isso de forma crítica. Portanto, em vez de um futuro distópico de filmes como Os Substitutos, O exterminador do Futuro, Robocop, Matrix, 1984 e tantos outros, quem sabe a tecnologia não possa nos garantir um futuro onde a morte não seja tão assustadora porque poderemos nos encontrar em San Junipero (3 ª temporada de Black Mirror), não é mesmo?

https://www.youtube.com/watch?v=VqKY9o5igAI

 

 

 

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

Deixe um comentário