Star Wars VII: sim. A Força Despertou.

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Como todo mundo nesse universo já sabe, Guerra nas Estrelas VII é a continuação, que se passa 20 anos depois de Guerra nas Estrelas VI: O Retorno do Jedi; etc. Todo mundo já está careca de saber do que se trata o filme. Portanto, meu alvo nessa resenha não é ser a enésima pessoa a recontar a sinopse do filme, e sim, simplesmente, dar os parabéns a toda a equipe do J. J. Abrahams, que fez um trabalho maravilhoso e conseguiu, finalmente, trazer de volta toda aquela mística que fez de Guerra nas Estrelas IV algo grandioso.

Primeiro de tudo: sim, o filme faz justiça à trilogia original. Inclusive, não só ele é uma honrosa homenagem ao IV (que eu prefiro pensar mais em como sendo algo como uma paráfrase cinematográfica) adaptado aos novos tempos, como também honra com altivez uma questão que sempre esteve presente em toda a saga e que, de fato, George Lucas puxou da mitologia grega: a questão trágica do legado.

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Laocoonte, na estátua, tem seu fim trágico. Durante a Guerra de Tróia, Laocoonte, o Sacerdote de Apolo, queria proteger sua cidade, Tróia, da invasão dos Gregos. Ao ver o gigantesco Cavalo de Tróia de madeira (que trazia vários guerreiros dentro, escondidos), desconfiou da situação toda e tentou evitar que o “presente” dos gregos entrasse na cidade. Por tentar salvar a cidade inteira, foi morto por uma cobra evocada por Athena, que matou a ele e seus filhos.

Na trilogia original (IV, V e VI), nós vemos a tragédia de Darth Vader, o caído, aquele que, com sua queda, restabelece o equilíbrio da Força. Na mitologia grega, o herói trágico, ao tentar evitar sua queda seguindo seu destino traçado, paradoxalmente, cria todas as condições para que este mesmo destino que ele tanto quer evitar se concretize. Isso acontece na trilogia original e também na segunda trilogia (I, II e III). Darth Vader deseja evitar a morte dos seus, mas cada passo que dá precipita justamente a morte daquilo que ele tanto quer proteger. Da mesma forma, Luke Skywalker, na medida em que tanto deseja se reaproximar de seu pai, acaba provocando, com igual fúria, a separação definitiva dos dois: o sacrifício e morte de Darth Vader.

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Isto é o que podemos chamar de legado trágico, que George Lucas tão bem transplantou, diretamente da mitologia grega, pros seus filmes e que foi sabiamente replicado em Star Wars VII. Nesta nova saga, adaptada aos novos tempos, vemos iniciada uma nova saga familiar, ainda com a família Skywalker, mas agora, no fruto do relacionamento de Leia e Han Solo.

Sem dar spoilers, posso dizer que temos, aqui, os ingredientes perfeitos para uma nova trilogia de legado trágico, onde temos a busca pelo reencontro com o passado (como Darth tanto quis, ao tentar reencontrar sua mãe, por exemplo, e Luke, ao tentar reencontrar seu “tio”, Ben Kenobi, e seu pai, Darth), em que tanto Rey quanto Kylo Ren tentam reencontrar aquele que traz todo o passado e a tradição da saga para o presente, no caso, um velho e eremita Luke Skywalker. Da mesma forma, temos a tentativa frustrada de restabelecimento dos laços familiares, no caso, a tentativa frustrada de reconciliação entre Leia/Solo e seu filho (coisa que acontece com o trágico reencontro de Anakin com sua mãe e Padmé, e entre Luke e Anakin).

Outra coisa que traz de volta toda a vitalidade de Guerra nas Estrelas é a escolha dos efeitos especiais. Eles existem, à exaustão, e são compostos tanto de réplicas, utilizando recursos de filmagem, quanto de computação gráfica. A diferença é que, no caso atual, o menos acaba sendo mais.

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A primeira trilogia trouxe efeitos especiais literalmente inéditos, que causaram espanto ao mundo, devido a toda novidade em torno da simulação de filmagens em voo, feitas de maneira estática, mas conduzidas com tal maestria técnica que traziam uma sensação vertiginosa de velocidade, numa época em que a computação gráfica simplesmente não existia. Nesta nova trilogia, os efeitos especiais em computação gráfica foram perfeitamente mesclados ao uso de maquetes. A computação gráfica é tão discreta, tão comedida, que acaba espantando pela naturalidade nas cenas. Ao contrário da primeira trilogia, que trouxe um desbunde de imagens e efeitos, a nova trilogia começa nos apresentando guerras espaciais fantásticas, que prendem pela mesma sensação vertiginosa de velocidade, mas aliadas a diálogos fantásticos, que criam nova tensão num público já por demais acostumado a efeitos especiais.

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Poe Dameron, prestes a entrar na Asa X. Excelente nova adição ao elenco de personagens.

Outro parabéns à Disney, pois deixou J. J. Abrams trabalhar em paz, e este trouxe nada mais nada menos que Lawrence Kasdan, a grande mente por trás dos roteiros da trilogia original. Não é à toa que nos são apresentados tantos personagens novos, fantásticos, enquanto nos é resgatado o brilho dos personagens da trilogia original que retornam. Leia, Han Solo e os robôs (o cagão do C3PO e o intrépido R2D2) retornam com o mesmo espírito, o mesmo nível de diálogos que tiveram na trilogia original, enquanto os personagens novos Rey, Finn, Poe Dameron e BB8 nos são apresentados em suas características principais na medida certa e nos momentos certos do filme. Não existe, em nenhum momento, uma forçada de barra, e o roteiro é colocado de modo que o espectador realmente consegue criar uma empatia genuína por esses novos personagens, enquanto resgata a familiaridade dos personagens antigos.

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Lawrence Kasdan: uma das grandes mentes por trás dos filmes.

Não há personagens estereotipados, e as forçadas de barra que acontecem, em várias situações do filme, ocorrem no mesmo grau em que ocorreram na trilogia original, havendo respeito até nesta situação. Tirando o fato de que a Millenium Falcon se encontra, convenientemente, abandonada como sucata justamente no planeta em que Rey mora, e de que Rey, sem sequer ter ouvido falar na Millenium Falcon, de repente e do nada, demonstra um conhecimento técnico profundo a respeito da nave, a ponto de rivalizar ao conhecimento que Han e Chewbacca têm da Millenium falcon (pois é, essas duas forçadas são difíceis demais pra engolir. São indigestas mesmo). o resto é perfeitamente coerente com o espírito da saga, de modo geral. E, enquanto traz ao novo público-alvo o frescor de um tipo de aventura diferente (que mescla incrivelmente bem mitologia grega, filmes de tiroteio de faroeste, de capa e espada e ficção científica), traz ao público antigo nerd-necrosado-rancoroso-velho o respeito à tradição de algo que lhes é querido há décadas.

Minha única ressalva a esse filme é quanto à trilha sonora. John Williams não conseguiu honrar seu extenso currículo de trilhas sonoras fodásticas para filmes (hexalogia Guerra Nas Extrelas, Indiana Jones, Trilogia De Volta Para o Futuro, Jurassic Park, Tubarão, Super-Homem, etc.), que, além de transmitirem toda a sensação do filme para a música, ainda traziam meia-dúzia de temas-chiclete que acabavam ficando indissociavelmente grudadas tanto aos filmes quanto grudados na nossa cabeça, virando a identidade musical destes filmes. Neste Guerra nas Estrelas VII, a trilha sonora é apagada, chata, e só tem seus momentos maiores quando recorda temas antigos, como o Tema de Leia, por exemplo. Uma tristeza, para alguém mítico quanto John Williams.

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Chora, John. Tu mandou mal nesse filme.

No mais, é um filme que vale cada centavo gasto, cada pipoca comida, cada respiração dada. E sim, eu chorei com a cena do Han Solo, por mais previsível que fosse.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

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